"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



quinta-feira, 5 de abril de 2012

MAIS GENIALIDADE DE MILLÔR FERNANDES, O LIVRE-PENSADOR

Em boa hora, o comentarista Luis Paulo Azevedo nos envia mais pensamentos do genial Millôr Fernandes, um mestre multifacetado que está fazendo muita falta nesse deserto de homens e idéias em que o Brasil está se transformando.

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DICIONÁRIO DO MILLÔR

• Abacate: Com açúcar, é considerado a fruta mais doce do Brasil.

• Academia: Organização fundada, dizem, por Platão e seus amiguinhos filósofos, quando encontraram um jardim (de Academus, claro) onde podiam ensinar, sobretudo à garotada, altas ideias, e gostosas marginalidades. (Vide Sócrates. Ou não vide.)

• Ano: Trezentos e sessenta e cinco dias. E seis horas de lambuja.

• Antropometria: Se Protágoras estava certo quando dizia (num desvairado antropomorfismo) que o homem é a medida de todas as coisas, então o pênis dele era o sistema métrico.

• Crase: “A crase não foi feita pra humilhar ninguém.” (Ferreira Gullar) A crase não existe no Brasil. É uma invenção de gramáticos. Nunca ouvimos ninguém falando com crase.

• Descrente: Indivíduo que crê piamente na descrença.

• Especialista: O que sabe cada vez mais sobre cada vez menos. Com a descoberta da nanociência, infinitamente menos sobre infinitamente mais.

• Fé: Está bem que você acredite em Deus. Mas vai armado.

• Grafite: “Eu odeio grafites!” (Grafite em Roma)

• História: Uma coisa que não aconteceu contada por alguém que não estava lá.

• Ideologia: Bitola estreita para orientar o pensamento. Não existe pensador católico. Não existe pensador marxista. Existe pensador. Preso a nada. Pensa, a todo risco. A ideologia leva à idolatria, à feitura e adoração de mitos. E, finalmente, ao boquete ideológico.

• Justiça: Sistema de leis legalizando a injustiça.

• Lapidar: Verbo antigamente usado para atirar pedras em mulheres
adúlteras. Hoje, desmoralizado no ocidente como punição, serve como prêmio e alto elogio: “Teu artigo, escritor, é lapidar”. Também usado nos cemitérios (nas lápides) para elogios fúnebres. Não há canalhas nos cemitérios.

• Medida: “Todo homem nasce duas doses abaixo do normal.” (Humphrey Bogart)

• Meyer: Bairro do Rio de Janeiro. Quando nasci, o Meyer era o umbigo do mundo. Vivíamos com a consciência, inconsciente, de que nunca teríamos que abandonar o bairro e a cidade (como muito mais tarde eu iria aprender que era o normal na maior parte das cidades pobres e tristes do Brasil) para sobreviver.

• Ofensas: “O perdão às ofensas é uma grande virtude.” (Moralismo tedioso de Machado de Assis. Do livro Pensamentos e reflexões de Machado de Assis)

• Pão: O pão que o diabo amassou. Expressão incompreensível pois em nenhum lugar da Bíblia ou da História se diz que o Diabo era padeiro.

• Propaganda: A madrasta da prostituição.

• Televisão: Maravilha tequinológica que levou ao extremo o barateamento da popularidade. Criando a glória prêt-à-porter.

• Variante: O gay põe sempre o carro adiante dos boys.

05 de abril de 2012

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