"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



terça-feira, 22 de janeiro de 2013

SEQUESTRARAM O CHÁVEZ?

 

Estava a fazer uma arrumaçãozinha numa prateleira da estante e caiu-me nas mãos a Revista do Brasil, nº 1, de 1984. Não resisti e reli “Bolívar e a pátria americana”, um artigo de Darcy Ribeiro, naquela época secretário de Ciência e Cultura do Estado do Rio de Janeiro.

E vice-governador de Leonel Brizola, fundador do Partido Democrático Trabalhista (PDT).

Entre os temas abordados nos discursos de Bolívar, Darcy se referia ao da complexidade da identidade latino-americana e ao desafio de formular o projeto político que permitisse unificar os americanos do Sul numa federação nacional. Na qual, nenhum deveria ser fraco em relação a qualquer outro; nem mais forte.

Darcy enxergava o ideal bolivariano nas gerações de seu tempo (e nas que lhe sucederiam) em luta pelo nascimento da “Nação Latino-Americana”. Acreditava que isso seria possível.

Mais: que ela garantiria liberdade, justiça social, igualdade e “coragem de lutar pela beleza e pela felicidade humana”. Darcy enaltecia a utopia bolivariana.

No ano anterior à publicação da revista, se comemorara o segundo centenário do nascimento de Simon Bolívar, falecido em 1830. Mesmo derrotado em seu megaprojeto, o “herói libertador” continuou inspirando ideólogos contemporâneos. A começar por Brizola, que defendia o “socialismo moreno”.

Porém, Brizola não conseguiu ser eleito presidente do Brasil. Apoiou Lula no segundo turno das eleições de 1989 ao transferir para ele os votos de seu eleitorado. Mas o petista perdeu.

Em 1990, inconformado com a queda do Muro de Berlim, Fidel Castro procurou Lula para criar o Foro de São Paulo. A meta? Derrubar o “neoliberalismo”. Para isso, a jovem revolução da Venezuela passou a financiar com barris de petróleo a velha revolução de Cuba; pagando os serviços cubanos de assistência social, saúde e educação.

Com o óleo venezuelano, o comando político permanece em Cuba. Já o Mercosul transformou-se em um tratado de integração de força econômica e política. Mais política do que econômica. A luta atual é para mitificar ídolos de carne e osso.

Bolivarianos são otimistas em qualquer situação. Até o momento em que escrevo não observei qualquer sinal de luto nos olhos e na expressão facial das autoridades latino-americanas visitadoras de Chávez em Havana.

Esta resumidíssima história pode ser lida de diversas formas, com liberdade de opinião. E em nome dela, sabe o que me disseram? Que Chávez pode ter sido sequestrado pelos hermanos Castro. Quanto vai custar o resgate?

 22 de janeiro de 2013
Ateneia Feijó é jornalista

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