"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



sexta-feira, 26 de agosto de 2011

PARLAMENTARES COM ALMA DE BICHEIRO

Parece que, atualmente, não é mais assim. Mas houve uma época em que os donos dos pontos de jogo do bicho, para demonstrar e curtir o prazer de sua condição financeira, costumavam andar enfeitados com pulseira ou colar bem grossos de ouro, enquanto deixavam a camisa aberta para exibir sua fartura financeira. Aparentemente não se envergonhavam de sua imagem estar diretamente ligada à contravenção. Desfrutavam de uma fartura e um poder diretamente proporcionais à forma inescrupulosa como os alcançavam. É o poder discutível.

Pois é desse mesmo tipo de poder - muito discutível - que se fartam os políticos nacionais. Da mesma forma que se aproveitam da situação financeira que alcançaram lesando os cofres públicos, não sentem constrangimento algum em demonstrar sua bandidagem ou saber que são vistos como ladrões. A roubalheira lhes oferece conforto, da mesma forma que o jogo oferece aos bicheiros e as drogas aos traficantes.

Ainda que se vejam como seres grandiosos, continuam a serem vistos por nós da mesma maneira que os outros tipos de marginais. Afinal, marginal é marginal. Ao menos nesse ponto somos obrigados a concordar com L.I. quando, ao sair em sua defesa, afirmou que Sarney não é um homem comum.

Após comparar a vida dos parlamentares brasileiros e de outros países culturalmente menos favorecidos com a vida dos parlamentares da Inglaterra ou Suécia, por exemplo, dá para perceber a que nível pertencem esses deslumbrados de Brasília, que não têm a menor noção do cargo que ocupam e não enxergam seu minúsculo tamanho. Mantendo as devidas proporções, passear num helicóptero público é o mesmo que usar cordão de ouro pendurado no pescoço com a camisa aberta.

Ao justificar a conduta vergonhosa de José Ribamar (Sarnay), como vemos na reportagem abaixo, Magno Bacelar-PV nos passou um atestado de gente miúda que só poderia, mesmo, chegar ao cargo que chegou, num país como o nosso, onde a tiriricagem é bem-vinda. casa da mãe joana

A reportagem completa, escrita por Ricardo Melo, saiu, hoje, na Folha de São Paulo

Que vá de jumento


Mesmo num país com costumes políticos tão degradados, certos comportamenitos anda espantam. A atitude da família Sarney no Maranhão, ao usar um helicóptero público em convescotes privados, é um escárnio não apenas pelo fato em si mas também pela reação que se seguiu.

Não basta que o passeio tenha sido feito em prejuízo do socorro a doentes. Tampouco que o companheiro de patuscada da família do presidente do Senado e de sua filha tenha sido um empresário de ficha duvidosa. É preciso mais, como que para convencer o povo de que as coisas são assim, e pronto.

"Queria que o presidente [do Senado] fosse andar em jumento? Queria o quê? Enfrentar um engarrafamento? Esse helicóptero, é claro, tem que servir os doentes, mas tem que servir as autoridades, esta é a realidade."

Foi assim, com essa naturalidade e desfaçatez, que o vice-líder da governadora Roseana na Assembleia do Maranhão defendeu a família Sarney. Magno Bacelar, do Partido Verde, também reverberou as infames palavras do então presidente Lula sobre o senador: "Ele não é uma pessoa qualquer".

Ao colocar em plano semelhante "doentes e autoridades", Bacelar fez duas coisas. Primeiro, refrescou na memória de todos por que o Maranhão está na lanterna de qualquer ranking de bem-estar, conforme destacou, com o talento habitual, Fernando de Barros e Silva neste mesmo espaço.

Segundo, não falou toda a verdade. O povo local já estaria satisfeito caso tivesse direitos ao menos parecidos aos dos coronéis do sarneysismo, num Estado onde a "realidade" é ostentar certos sobrenomes (sobrenomes incluídos quando já adultos em sua certidão de nascimento, como no caso de José Ribamar e L.I.)

O parlamentar que nos desculpe, mas o Maranhão precisa de tratamento de choque. Para tomar emprestada sua própria imagem, só vai dar certo no dia em que os enfermos tiverem preferência e os políticos, montados em jumentos, enfrentarem engarrafamentos quando quiserem se refestelar na praia.

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