"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



sábado, 24 de setembro de 2011

VERDADEIRO BARRIL DE PÓLVORA

As chamadas “autoridades” não percebem, mas existe sentimento de ódio e insatisfação a se acumular a olhos vistos em todas as camadas de nossa população, saturadas com a roubalheira e discursos de bom-moço, que uns e outros jogam na mídia, como se ainda fosse possível enganar a tudo e a todos durante todo o tempo.

Quando ainda era presidente da República, Dom Luiz Inácio (PT-SP), do alto de sua capacidade ilusionista, declarou em visita a Pernambuco (ele inaugurava Unidade de Pronto Atendimento – UPA -, na Cidade de Paulista), que “a Saúde no Brasil está à beira da perfeição”.

Como vivemos num país anestesiado pela televisão, transformado em bordel por incansáveis novelas diárias
, sua então excelência afirmou também que a UPA estava tão bem equipada que dava “até vontade de adoecer somente pra ficar internado ali”. Pois bem: não é que ele teve um catiripapo e teve de ser hospitalizado às pressas?

Mas não escolheu a UPA, não senhor! Foi removido para o melhor hospital do estado, o Português, ficando com equipe médica das mais qualificadas e equipamentos modernos à inteira disposição. Vencida a crise inicial, foi imediatamente transferido para o Sírio-Libanês de São Paulo, onde concluiu tratamento médico indispensável.

Dinheiro público existe. O governo federal todos os meses anuncia com estardalhaço que a arrecadação cresceu. O problema não é de falta de dinheiro, mas de excesso de roubo! O mundo, desde que é mundo, é comandado por vivaldinos a massacrarem seus semelhantes, no acúmulo indiscriminado à custa de muita miséria.

Mas tem de haver prática afinada para que o cenário não desabe. Não fique assim como acontece agora com a Renascer: a principal líder daquela Igreja, “bispa” Sônia, que passou um tempo presa nos EUA (juntamente com o marido) e depois foi banida daquele país, é uma das organizadoras da “Marcha Para Jesus”.

Mas o que vai ficando claro é que “milagres” alcançados por fiéis que depositam parcos recursos nas arcas da Igreja não acontecem dentro da casa da própria “bispa”. A revista IstoÉ mostrou esta semana que a Renascer está quase fechando, que o filho de sua líder está morrendo de câncer e o que ela mais precisa é de um milagre. Pura ironia!

A CPMF foi criada no governo FHC (1995-2003), por insistência do médico Adib Jatene, justamente para resolver o problema da saúde. O dinheiro arrecadado financiou festa, corrupção, bandalheira, só não serviu à atividade final para a qual foi criado, a de recuperar a Saúde.

A CPMF servia para brecar fraude e sonegação e, justamente por isso, foi distorcida em seu significado. Muita gente queria vê-la morta e sepultada, mas não por conta dos desvios que ocorriam. É que ela servia para impedir sonegação em casos de lavagem de dinheiro. Morreu e foi substituída, em parte, pelo IOF.

A extinção da CPMF não reduziu, de maneira alguma, a arrecadação de impostos. A tributação subiu todos os meses, desde então, com a vantagem de não se ter controle realizado na cobrança, na “boca do caixa”, que a impedia de ser fraudada pelos situados no topo da pirâmide.

O IOF continua aí, vivinho da Silva, mas já se fala abertamente em novo imposto, porque a maioria da população não tem noção do que acontece e quem dita a pauta e a discussão dos fatos diários, num país em que só se presta atenção à pornografia e ao futebol, são as emissoras televisivas. Vivemos numa cultura oral.

Mesmo de nada sabendo, a população desconfia de tudo porque a roubalheira é visível. E o acúmulo de insatisfação irá levar a organização social de ralo abaixo, quando a economia não conseguir mais prover o feijão básico diário na mesa do povo.

Márcio Accioly é Jornalista.

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