"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



domingo, 16 de outubro de 2011

ADMIRÁVEL MUNDO VELHO


Pode nem ter nascido na Espanha, como se apregoa em Madri. Talvez venha dos tempos de Ramsés II, quem sabe antes. A verdade é que de quando em quando o planeta se agita. No passado distante e recente, os protestos levavam períodos mais longos para interligar-se, às vezes separados por décadas e até séculos. Com o advento da imprensa, depois do rádio, a televisão e agora a internet e toda a parafernália eletrônica dela decorrente, o processo mede-se agora em questão de minutos.

Mas o fenômeno é o mesmo: a Humanidade jamais deixou de protestar. No caso, as maiorias diante da prevalência e das imposições das elites. As ideologias, as doutrinas e as religiões sempre tomaram carona no inconformismo das massas, demonstrando-se subsidiárias da indignação dos oprimidos. Só que hoje é mais rápido o efeito da causa primeira, a injustiça, que sempre gerou movimentos de protesto, uns violentos, outros nem tanto, mas todos emergindo de tempos em tempos em nome da utópica igualdade a ser um dia alcançada, sabe-se lá quando.

Este preâmbulo se faz por conta das manifestações verificadas nos cinco continentes. Ontem, em 952 cidades de 86 países, o povo saiu às ruas exigindo mudanças. Insurgiu-se contra a receita elitista de que crises econômicas se combatem com aumento de impostos, reduções salariais, demissões em massa e supressão de direitos sociais, onde eles existem.

Na Grécia, Portugal, Espanha e outras nações européias, protesta-se contra a fórmula imposta pelo sistema econômico-financeiro, ele próprio responsável pelas crises. Nos Estados Unidos, multiplicam-se as manifestações que começaram contra Wall Street, em Nova York, e agora avançam em suas principais cidades. Na comunidade muçulmana assiste-se a uma espécie de erupção libertária.

No Brasil, o mote inicial está sendo o combate à corrupção e à impunidade. Cada movimento vale-se de motivações específicas para despertar a opinião pública, mas fica claro possuírem todos a mesma raiz: a indignação das maiorias frente à dominação das minorias.

Em 1968 fenômeno semelhante explodiu em Paris, incendiou a França e boa parte do mundo. Nos anos oitenta teve-se a impressão de as manifestações eclodirem em sentido contrário, com o colapso do mundo comunista, mas foi a mesma coisa: massas oprimidas insurgindo-se contra seus dominadores. É o que agora se vê, nessa nova onda que se avoluma.

Resultados? Os mesmos de sempre: os movimentos nascem, assustam e sempre promovem certas mudanças, mas logo refluem, até formar-se o próximo. A conclusão é de nada de novo acontece sob o sol, nesse admirável mundo velho.

Carlos Chagas

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