"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



terça-feira, 18 de outubro de 2011

MAIS LEVE QUE O AR

A Resistência do Ar das Montanhas. – O ar frio das alturas enrijece o coração e enobrece a alma. Do alto também percebemos melhor as correntes que dão o curso normal e pacífico das coisas em que estamos envolvidos. Essas correntes, dominantes, mais frias e secas, ou subdominantes, mais quentes e úmidas, por qualquer uma delas parece fluir um sentido. E se um vento maligno, insidioso, e até sedutor, for o vento dominante e o sentido final? Flutuaremos atrás dele, por mera conveniência e oportunismo, e em grossa companhia, como quem gosta de pertencer à maioria? Então não resistam vocês também ao vento bom e verdadeiro, embora fraco, solitário, e tênue, capaz apenas de colher na sua resistência a menor partícula de maldade junto aos ventos dominantes. Lembrem: do alto sentimos melhor as resistências.

O longo curso dos ventos. – Para que norte aponta a seta do tempo? Para que sul aponta o sentido das correntes dominantes? Na História as chamamos Tradição. De todos os sentidos que já sopraram como ventos, um resultou em um fulcro de costumes, hábitos, tradições e memórias sociais, mergulhado no mais profundo sentimento cristão e imbuído da mais sincera das intenções; dele nunca se disse que esteve ausente do longo curso dos ventos. Mas os cursos mudam e os inocentes não percebem sua mudança. Ressentem-se somente daqueles que sinalizam que outras direções existem e que teimam em resistir ao longo curso dos ventos.

Urgente! Corram todos! A História mudou! – Descobriu-se recentemente, confirmando suspeitas mais antigas, que a História como a conhecemos é muito mais velha do que parecia. Agora se sabe: o problema estava na aparência. Quem a teria feito assim tão jovem; quem a compôs assim; quem a “editou”, para usar o jargão usual, e em que momento foi construída para os nossos sentidos? Se tirarmos as aparências dos diferentes designs históricos gravados na nossa memória histórica oficial, se lhes retirarmos toda juventude, não sobrará grande coisa da História. Simplesmente podem estar todos errados! Forte demais isso? Então olhem as ruínas, os monumentos de civilizações tão antigas quanto 12 mil antes de Cristo. A História não conta nada disso. Portanto, está merecendo uma revisão imediata. Isso é tão urgente que não devemos ter pressa. A História não viu nossa vetusta realidade. O juiz não deu o pênalti claro a todos!

Gobekli Tepe. Pilar de 15 metros de altura. Inscrições feitas com que máquinas?

O longo curso dos tempos. – Em catorze mil anos poderíamos alocar pelo menos duas civilizações inteirinhas. Dava para fazer duas histórias com muitas historiografias, cada uma com seus heróis, sua façanhas, etc. Mas isso sabemos agora. E se em outros tempos, tão ou mais antigos do que esses, contássemos com vinte mil, trinta mil anos de história para encaixarmos nossas descobertas e teorias? Quantos antes já fizeram isso? Ninguém pode responder isso hoje. Mas todos sabem defender sua pequena história como a única certa. Quando o argumento enfraquece lembram a Tradição, qualquer uma, a da ocasião, embora essa ocasião seja apenas aquela que convém ao longo curso dos tempos. Afinal, não tão longo assim.

O sangue vermelho da sacralidade. – A tudo esse sangue tingiu. Melhor diríamos, ungiu. Uma unção quase indelével de sacralidade. No longo curso dos tempos houve muitas petrificações, às vezes de um Pedro histórico e de mármore travertino, em outras de um outro discípulo menor e mais distante, um calcáreo menos nobre. É quando esse tingir de vermelho espalhou-se. Diziam coisas temíveis desse vermelho. Mas a sacralidade vinha da cor, e esta, quando madura, tornar-se-ia púrpura. Mais aí a sacralidade foi abandonada com segurança. Ficamos a examinar a estrutura, como fazemos com uma célula, sem muita cerimônia, com objetividade, fazendo a leitura compungida e conveniente. Mas a cor enfraqueceu inexoravelmente no tempo assinalado. É visível sua palidez hoje. Neste instante qualquer outra cor antiga dos primeiros tempos se torna uma ameaça. Cubramo-la rápido e a acusemos de alguma heresia cromática segundo os nossos melhores sentidos, emoções, e pensamentos. Sempre foi assim, reza a Tradição.

A Ciência tem seus Heréticos. – Autos de Fé ainda são feitos no Ocidente democrático. Nos atuais tempos se tornou costume condenar, proibir, reprimir e calar dissidentes políticos e ideológicos. Pessoas que manejam as palavras, por suas bocas ou por seus escritos, são levadas aos tribunais inquisidores bancados por poderes temíveis. Se eu gritar COMUNISMO provavelmente serei aplaudido. Mas se gritar SIONISMO serei preso ou visto com desconfiança por meus melhores amigos. Ora, são apenas ideologias. Podemos prender idéias? Pregar idéias é crime? Certamente é, mas para alguns. Quem está no controle das Ciências Humanas, qualquer uma, mesma aquela de propriedade dos poderosos e para seu uso particular? Quem criou as heresias, o crime de ódio da Idade Média? A quem serviu essa conveniência inescusável do poder eclesiástico que por muito tempo não teve que prestar contas a ninguém e julgou e condenou e executou? Seus descendentes menos sagrados, mas com roupas e aprons parecidos, continuam fazendo a mesma coisa. Para condenar à estaca usam a Universidade, as cifras matemáticas e as equações como antes faziam com procissões encapuzadas. Agora, quando necessário, criam prêmios, honrarias e homenagens, e de champagne em champagne na recepção do Nobel da Paz criam legiões de heréticos, mas não demais para que não pareçam ser maioria.

O ar puro das montanhas. – Revigorado pelo ar fresco e frio, às vezes duro e cortante como um látego, mas quase sempre rejuvenescedor, e purificado pelo mais fino ar que sustenta a pena mais tênue, lanço meu repto: espere sua hora, porque a libertação do homem já é visível de longe. Do alto das montanhas se vê melhor. Mas não se enganem, do alto não se vê melhor o céu infinito, apenas vemos melhor a planície nem tão rarefeita, nem tão pura.

O tocador de flauta. – A primeira nota, alerta; a segunda já soa mais sentida, no tom certo da emoção previamente combinada. Todos apuram os ouvidos quando o flautista toca; conhecem seu coração. Mas a ilusão do flautista é que irão ouvi-lo até o fim, muito depois da terceira ou da quarta nota, que já se desinteressaram por sua melodia. Ouvir é uma ciência. Ouvir até o fim é um dom quase divino. É ter gosto pela Eternidade e pela paciência. Aquele que sopra verdades ao vento conta que chegue a todos os ouvidos sua melodia. Foi assim que ouvi pela primeira vez o tocador de flauta. Paguei o preço da solidão, do desterro voluntário, do retiro no wilderness, mas eu ouvi. Sócrates dizia que nunca é tarde para aprender a tocar flauta.

Um passarinho me contou. – Um whistleblower me contou (soprou) que o mundo está para mudar. Mas o mundo está sempre mudando, disse eu. É que desta vez as pessoas se deram conta da mudança dos cursos relativos da Terra e do Sol. Em algumas ilhas longínquas do Hemisfério Norte o Sol começou a se por e se levantar em lugares alguns quilômetros distantes do que costumava fazer até este ano de 2011.


Já foram tantas Auroras. - Os esquimós conhecem há milênios de maneira precisa o local exato da aurora e do crepúsculo do Sol. De repente, neste ano, esses lugares mudaram. Os esquimós ficaram confusos. Como se sabe disso? Ora, basta olhar. Temos que estar lá ou acreditar na palavra de centenas de esquimós que confirmaram as observações dos astrônomos. Então por que não vemos e damos valor também aos monumentos de mais de 14.000 anos? Então, por que não vemos a palidez da sacralidade? Então, por que ficamos cegos diante da mudança dos tempos? Por que não resistimos mais fortemente àqueles que querem nos silenciar? Nem percebemos que os ventos mudaram de direção e que não há, na verdade, ventos dominantes, se não por definição temporária? Ora, abdiquem de suas cláusulas pétreas, petrificadas, fossilizadas; abandonem suas rotas automáticas. Vislumbrem o horizonte mais amplo; respirem o ar das montanhas: sintam a tênue fineza do ar sem direção, de mais auroras que imaginávamos.
A pré-diluviana Gobekli Tepe, Turquia, 12.000 AC

Postado por charles london

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