"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



segunda-feira, 3 de outubro de 2011

PARA ONDE VAI O MUNDO?

Estamos a viver dias inquietantes; o mundo parece estar no cume de uma arritmia cardíaca, gerando ansiedade, desgaste e apreensão. Está realmente difícil fazer previsões; o imponderável parece ser uma constante na equação do jogo político mundial.

Será a Grécia uma espécie de Lehman Brothers europeu? Haverá default? O euro vai ruir e virar pó? E o FED, por seu turno, virá com uma nova injeção quantitativa, jogando dólares de helicóptero sobre os mercados mundiais?

Nesse contexto, como ficarão as reservas chinesas e qual será o comportamento de sua autoridade monetária? E o Brasil voará em céu de brigadeiro ou seremos varridos pelos ventos de um novo mergulho da economia mundial?

As perguntas acima valem bem mais que um milhão de dólares; o sortudo que responder certo algumas dessas questões – não precisa ser todas – ficará bem na foto dos analistas políticos e macroeconômicos.
Vamos, então, participar dessa loteria; vai que a sorte sorri para nós. Afinal, a ousadia é uma das cores preferidas do sucesso.

Pois bem. De início, é preciso aliviar a pena dos desatinos financeiros. Sim, sem sombra de dúvidas, existiram excessos e sandices que não podem passar impunes. Todavia, não há crescimento econômico sem crédito.

Aliás, você já tentou plantar sem água? Então, em linguagem figurada, podemos dizer que o crédito é a irrigação do sistema produtivo; quando há seca, a safra é curta; o agronegócio quebra; o caos se instaura.
Assim, se cortarmos a corrente de crédito do canal produtivo, teremos um autêntico quadro de crise: recessão, desemprego, pobreza e todos os seus males sociais.

Nesse contexto, a alavancagem financeira não é um mal em si mesma; na verdade, é algo positivo, pois permite a multiplicação potencial do crédito; o problema surge quando perdemos o controle, tirando as finanças do seu lastro de realidade.

Isso tudo somado a uma sociedade de consumo, que torrava toda a sua poupança e ainda se endividava, gerou um sistema insustentável que foi rolando dívidas para uma hora estourar. E aí fica a pergunta: de quem foi a culpa? Enquanto a resposta não vem, o FED andou bem ao garantir a liquidez do sistema bancário americano.

Por outro lado, o BCE está brincando com fogo; o risco de calote grego é cada vez mais iminente. O fato é que o sonho de uma comunidade monetária, sem uma unidade fiscal, virou um grande pesadelo.
Para voltarmos a ter paz no sono, haverá um pouco de dor e teremos que ministrar os remédios certos.
Sem cortinas, a Alemanha terá que decidir se garantirá ou não a continuidade do bloco europeu; isso, sem dúvida, trará um alto custo político interno para a Sra. Merkel, mas não há outra saída. Se demorar muito, haverá uma quebra em cascata dos PIGS, viveremos uma nova rodada de risco sistêmico, alta volatilidade dos mercados e serão justamente os alemães que suportarão maior parte da talagada do calote europeu.

Então, por mais duro que seja e é provável que isso gere a derrota nas urnas, os atuais políticos alemães deverão dar lições de estadística e fazer aquilo que deve ser feito; aqui e não adianta fugir disso, o imediatismo político gerará um custo social gigantesco de longo prazo.

Na verdade, antes de políticos, precisamos de estadistas. Mulheres e homens públicos que se sobreponham aos interesses da política pequena e enxerguem o mundo com os olhos da razão.

Precisamos de lições da diplomacia do saber. Precisamos construir consensos e superar diferenças.
Precisamos ter a coragem de fazer simplesmente o correto e ter a dignidade de vir à público e expor ao povo o porquê de cada umas medidas efetuadas. Precisamos desencastelar a política e torná-la mais próxima do cidadão.

O povo está acostumado a privações; o que ele quer é ser ouvido; o que ele quer é entender; o que ele quer é ser entendido. Aliás, não terá sido esse o mote do ex-presidente Lula?

Sebastião Ventura Pereira da Paixão Jr, 3 de outubro de 2011

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