"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



terça-feira, 15 de novembro de 2011

OUTRAS NOTAS POLÍTICAS

A anta que veio do gelo

Jimmy Carter esteve de novo no Brasil. Não é a primeira vez. Em 1972, passou alguns dias em Recife com a mulher, em casa do casal Camilo Steiner, na praia da Piedade. A mulher de Steiner, americana da Geórgia, foi colega de colégio da mulher de Carter e continuaram amigas pela vida afora. O filho de Steiner estudou nos EUA, morando na casa de Carter.

Em Recife, o governador Eraldo Gueiros ofereceu um almoço a Jimmy Carter. Saudou-o o vice-governador Barreto Guimarães, gordo e barroco, lançando a candidatura de Carter à presidência dos Estados Unidos

- Vossa Excelência, senhor governador da Geórgia, tem a marca do estadista e estamos certos de que será o próximo ocupante da Casa Branca.

Carter apenas sorriu.

***
JIMMY CARTER

No dia seguinte, Camilo Steiner nos convidou, a alguns jornalistas, para uma peixada e uma conversa com Carter. Anchieta Helcias, secretário de Indústria e Comércio do Estado, perguntou a Carter se ele tinha condições de sair candidato do Partido Democrata em 76. Carter perguntou:

- Qual o Estado mais pobre do Brasil?

- O Piauí.

- Pois a Geórgia é o Piauí de lá. O senhor acha que o governador do Piauí tem condições de ser o presidente do Brasil?

Anchieta também achava que não. Mas o povo americano achava que sim.

***
SARAH

De repente, apareceu uma anta medieval, bela anta, mas anta, a Sarah Palin, governadora do Alasca, dentro da campanha eleitoral dos Estados Unidos. E fez um furor como vice do republicano McCain. Tão reacionária, tão atrasada, tão fundamentalista, tão distante do século XXI, que junto dela McCain virou um revolucionário e Barack Obama um incendiário.

Todos ficaram na dúvida. Como iria reagir o eleitorado americano? Aqueles milhões de eleitores das pequenas cidades norte-americanas, preconceituosos e racistas, de casa para o trabalho, do trabalho para o clube, do clube para o bar, do bar para a igreja, da igreja para a frente da TV?
Os mesmos que em 1960 votaram no cosmopolita Kennedy torcendo para ele morrer e o provinciano Lindon Johnson assumir (Kennedy não morreu, eles mataram), podiam estar pensando em eleger o frágil e doente McCain e rezar fervorosamente para ele morrer e a anta assumir.

Mas não foi desta vez. A anta continuou perdida no gelo. E hoje está inteiramente sumida do mapa. Ninguém fala mais nela, embora a sucessão americana esteja cada vez mais próxima.

Sebastião Nery

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