"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



sábado, 17 de dezembro de 2011

CONGRESSO DÁ PALMADA NA DEMOCRACIA BRASILEIRA

Dep. Líliam Sá, dep. Teresa Surita e dep. Érika Kokay. Foto: Larissa Ponce

O projeto de lei conhecido como “Lei da Palmada” (PL 7.672) foi aprovado, nesta quarta-feira (14), na Câmara dos Deputados, em uma Comissão Especial constituída de parlamentares favoráveis ao projeto.
Prova? O texto foi aprovado por unanimidade com leves alterações que tornaram ainda mais generalizado e cartilaginoso o objetivo de coibir “castigos fisicos” que resultem “em sofrimento” na educação de “crianças e adolescentes”.


Democracia leva palmada no Congresso

Em atitude contrária aos tais “princípios democráticos” – cada vez mais transformados em entes de razão -, nas audiências públicas promovidas no Congresso, a Comissão Especial teve o cuidado de não convidar nenhum orador contrário ao projeto.

A sociedade pode demonstrar seu desacordo com o objetivo do PL 7.672 em várias enquetes promovidas por diversos sites, inclusive na Agência Câmara (Cf. Agência Câmara, IG, Politika, IPCO, R7 Notícias, Diário do Nordeste, Paraná TV, ).

Mas parece mesmo que vozes contrárias falaram no vazio e a palma da mão que os deputados querem coibir para a educação dos filhos, serviu para tapar seus ouvidos.
No chat promovido pela Agência Câmara com a relatora do projeto, Teresa Surita (PMDB/RR), perguntei a deputada se a “Lei da Palmada” irá para votação mesmo que as pesquisas demonstrem que a opinião pública não quer a aprovação dele. Vejam a resposta dela (os negritos são meus):

“Sim. O Projeto de Lei será apreciado e votado pela Comissão Especial da Câmara especialmente criada com este objetivo. A sociedade, como sabemos, é complexa. E muda de opinião à medida em que compreende o verdadeiro alcance de iniciativas que visam criar um melhor ambiente de convivência para todos” (Cf. Blog Sou Conservador, 8/11/11)

O problema é que a sociedade viu muito bem o “verdadeiro alcance” dessa iniciativa, não mudou de opinião e mesmo assim o projeto foi votado e aprovado por unanimidade.

É de se perguntar que valor tem uma democracia que se diz representativa, mas que na realidade não representa os anseios da nação, mas sim do partido no governo.

Alterações para pior

Antes de ser colocado em votação, Teresa Surita apresentou mudanças no texto da lei. Ao invés de “castigo corporal” o texto proíbe “castigo físico” para evitar, segundo exigência inócua de alguns deputados, que a interpretação vede qualquer tipo de punição ou limites aos filhos (Cf. Agência Câmara, 14/12/2011). Inócua, digo, porque, segundo outra alteração, será proibido qualquer “castigo físico” que resulte não somente em “dor”, mas em qualquer forma de “sofrimento“.

A “Lei da Palmada” ainda prevê “multa de 3 (R$ 1.635,00) a 20 salários (R$ 10.900,00) para médicos, professores e agentes públicos que não denunciarem castigos físicos, maus-tratos e tratamento cruel” (Cf. Estadão.com, 15/12/2011).

O que o projeto entende por “tratamento cruel”? Trata-se de “conduta ou forma cruel de tratamento que humilhe, ameace gravemente ou ridicularize a criança ou adolescente“.
Dar uma bronca em seu filho no meio da rua, por exemplo, pode se tornar tão ilegal quanto vender drogas.

“Na educação de crianças e adolescentes, nem suaves palmadinhas, nem beliscões, nem xingamentos, nem qualquer forma de agressão, tenha ela a natureza e a intensidade que tiver, pode ser admitida“, afirmou a deputada Surita (Cf. Estadão.com, 15/12/2011).

Para Dr. Lino de Macedo, do Departamento de Psicologia Social da Aprendizagem e do Desenvolvimento Humano, da USP, embora contrário ao uso da palmada e dos castigos físicos, o PL 7.672, além de desnecessário e inócuo, gera uma desautorização da família e dos agentes educacionais – que já se sentem muito desautorizados – sobre a educação das crianças. (cf. Notícias UOL, 15/12/2011).

A “Lei da Palmada” segue agora direto para o Senado onde esperamos que rejeitem essa interferência do Estado na família e que a palma da mão dos senadores não seja utilizada, a exemplo da Comissão Especial, para tapar os ouvidos às opiniões contrárias.

16, dezembro, 2011
Edson Carlos de Oliveira

NOTA AO PÉ DO TEXTO

Sinceramente? Fica até difícil colocar palavras de crítica a essa lei que já ganhou até apelido, como é da natureza do brasileiro, quando se vê atingido em 'costumes' que estruturam os padrões básicos de comportamentos tradicionais: LEI DA PALMADA. Principalmente, quando tais interferências barram, ou procuram disciplinar, com regras absurdas, o que não foi aprovado pela sociedade em inúmeras manifestações. Mas a democracia, no entendimento daqueles que recebem a nossa "procuração" para representar os nossos interesses, sejam eles de qualquer natureza, anda na contramão dos verdadeiros princípios democráticos. Haja vista o estado de calamidade a que chegamos, na era da mediocridade e dos escândalos.
Mas voltando a LEI DA PALMADA, a experiência das gerações anteriores, quando a família ditava os principios e tinha a liberdade de educar os seus filhos - alguém traumatizado por aí, porque levou alguns cascudos? - constituindo o núcleo essencial da organização social, aqueles podem repensar e analisar a situação a que chegamos.
Alguém poderá dizer: tudo bem, mas as sociedades vivem processos de transformação, é uma lei necessária e inerente a vida. Ótimo. Concordo plenamente. Faço apenas um reparo: quando as mudanças levam a transições saudáveis e benéficas à sociedade, sobretudo quando indispensáveis para inibir comportamentos desviantes, o que não é o caso da tal PL, que constrange a fonte familiar na relação com os filhos. Há leis que inibem qualquer tipo de violência, seja contra à criança ou contra qualquer adolescente, sem que o Estado interfira de maneira direta e desusada na organização familiar.
Mais grave ainda, sem considerar que tal PL faz parte de um projeto maior de globalização, a exemplo de outras PLs que andam por aí, é que essa tal democracia brasileira, através de "nossos representantes", despreza a opinião contrária da sociedade, quanto a aprovação de tal PL. Somos atropelados, tratados como imbecis, "que mudaremos de opinião quando melhor entendermos os objetivos da tal PL", segundo a douta deputada Teresa Surita (PMDB-RR) - guardem esse nome para as próximas eleições.
Cabe ainda observar que se monta uma "Comissão" em que todos os "nobres deputados" partilham da mesma opinião. Cuidam de excluir da tal "Comissão", deputados cuja opinião divirjam do que pretendem aprovar, negando assim um debate democrático, desrespeitando o que pensa a sociedade.
Será interessante que tal "Comissão" apresente um PL que proteja pais e professores das constantes agressões de filhos e alunos.
O noticiário está cheio de violências praticadas contra professores, diretores, coordenadores e outros agentes que lidam com a geração atual de "educados e respeitosos" adolescentes e crianças.
Trafegamos na contramão da história. Um país em que um adulto de 29 anos goza de direitos especiais de "criança"... Em que presidiários e todo tipo de transgressores, de homicidas a punguistas, têm direito a BOLSA PRESIDIÁRIO. Estamos cansados de manifestar em enquetes e outras pesquisas, que desejamos a redução da idade para a punição de infratores e criminosos "dimenó". Mas esse Parlamento que elegemos não representa nossos interesses, preocupados que estão em se locupletarem com mordomias e outras benesses, quando não buscando o enriquecimento através de fraudes, peculatos e outros crimes contra o erário.
Para o Dr. Lino de Macedo, como podemos deduzir, tal PL mata a família, retirando dela a autoridade indispensável para preservar os valores tradicionais e a relação de respeito e hierarquia entre pais e filhos.
E mais não digo, pois a matéria e extensa...
m.americo

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