"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



sábado, 10 de dezembro de 2011

PIMENTEL NOS OLHOS DOS OUTROS É REFRESCO...

A fila andou e o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Fernando Pimentel é a bola da vez.

Dilma Rousseff está pagando a conta por escolher sua equipe por meio de costuras políticas. A “presidenta” – como preferem alguns – não se preocupou com a vida pregressa dos profissionais sob sua gestão.
A gestora deixou que os partidos políticos escolhessem a equipe de ministros que ela ia comandar e não investigou sequer um deslize de seus colaboradores, deixando que a imprensa escancarasse cada um dos escorregões, resvalos e desvios – legais, morais ou mesmo impublicáveis.

A presidente disse, certa vez, ao ex-ministro do Trabalho, Carlos Lupi, que era dela a decisão de escolher um ministro e também de demiti-lo.
Mas isso não é verdade pelo simples fato de que todos os “defenestrados” apresentaram suas cartas de demissão. E mais, seus substitutos foram indicados entre os que restavam nos quadros dos partidos que dão sustentação ao governo. Aliás, os entrantes eram da mesma sigla partidária dos que deixavam o cargo. “Trocou-se seis por meia-dúzia” – como se diz no popular.

Como o cenário não mudou, continua tudo como era antes. A frase anterior parece redundante. E é. As escolhas de ministros desobedeceram a critérios minimamente profissionais, os demissionários apresentaram suas cartas de desligamento e prometeram exercer o tempo livre para provar inocência – o que ainda não aconteceu de fato.

Os partidos, por sua vez, indicaram substitutos e os escândalos continuam. Vez por outra, governo, partidos e demissionários ainda insistem em culpar a imprensa por todo o mal. Como nas novelas, o roteiro se repete: trocam-se os personagens. A fila andou e o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Fernando Pimentel é a bola da vez.

As acusações contra ele são semelhantes às feitas contra Antonio Palocci – um dos que não resistiram às denúncias e pediu demissão do cargo de ministro-chefe da Casa Civil em junho deste ano. Pimentel e Palocci têm empresas de consultoria.
Pesaram sobre ambos as acusações de tráfico de influência e enriquecimento ilícito. A diferença é que Palocci preferiu não comprometer seus clientes. Já Pimentel não se fez de rogado: uma vez vazados os tipos de contratos e os valores que recebeu, Pimentel citou as empresas contratantes. A Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), a ETA Bebidas, a Convap e a QA Consulting estão entre elas.

Amigo da presidente sobe no telhado…

Integrante do Partido dos Trabalhadores, Pimentel é da cota de Dilma. Para defendê-lo, ela atua em duas frentes. Na primeira, todas as investidas e requerimentos da oposição para convocar, convidar ou investigar Pimentel esbarraram na maioria governista no Congresso.
Essa estratégia deverá permanecer. O mesmo tratamento não foi dado aos ministros que perderam suas pastas nos últimos meses. Pimentel e Dilma são amigos de longa data.

E mais: ela convocou sua habitual tropa de choque e de combate a incêndios: o ministro da Justiça, José Eduardo Cardoso; o líder do governo na Câmara, Cândido Vaccarezza; e o líder do governo no Senado Romero Jucá.

Em todos os incidentes anteriores envolvendo os ministros que deixaram o governo, Vacarezza e Jucá diziam aos jornalistas que não havia nenhuma evidência de irregularidade e que o assunto estava esclarecido e resolvido.
Dias depois, os envolvidos no escândalo deixavam suas pastas.

Esta semana, Jucá e Vacarezza repetiram a senha: sinal de que Pimentel pode estar mesmo em cima do telhado, mas ali poderá permanecer por mais tempo que seus colegas demitidos recentemente.

O governo tem esperança de que o clima de fim de ano, com os recessos na Câmara e no Senado, retire as denúncias das pautas e manchetes da imprensa. Mesmo evitando os jornalistas, Dilma manda recados dizendo que não sabia das consultorias do grande amigo. Se as revelações não avançarem, pode ser que ele fique. Caso contrário, o telhado cria limo…

Por Claudio Carneiro
8/12/2011

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