"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

MERCADO CONSOLIDADO

Mais um resgate dos bons tempos, cometido por Carlos Eduardo Behrensdorf, o Heron do jornalismo nacional bissexto e folgado como ele só.

IDOSOS E HOMOSSEXUAIS ESQUENTAM CONSUMO
Carlos Eduardo Behrensdorf

Novos tempos, novos mercados.
Novos mercados, novos ganhos. A credibilidade dos cartões de crédito afastou, ou mascarou velhos e fortes conceitos e preconceitos, tendo como alvo homens velhos e mulheres velhas, homossexuais e lésbicas, sozinhos, sozinhas, acompanhados ou acompanhadas, sem haver preocupação ou restrição sobre quem acompanha quem.

Os armários abriram geral.

Entre os que se prepararam e se preparam para o chamado novo nicho de mercado estão à hotelaria, restaurantes, bares, boates, cruzeiros, pacotes para passeios dentro e fora do Brasil, lojistas de todos os setores.

Assim, tudo o que antes era negado a gays e lésbicas, forçando a uma auto-segregarão caiu, diante da atraente e indefensável avenida do consumo para clientes especiais e com capacidade de consumo de média para boa ou muito boa.

Se não me engano, a primeira boate de lésbicas que vi no Rio de Janeiro ficava na velha e sempre acolhedora Galeria Menescal na Nossa Senhora de Copacabana e se chamava “L’Étoile”.

Os homos ocupavam a Galeria Alaska, no Posto Seis de Copacabana na Avenida Atlântica.

Por lá havia um boteco barra-pesada, o Rolando, de um pernambucano que vendia uma cachaça de primeiríssima.

Na velha galeria a fauna era variada: jogador de futebol, piranha, patricinha bêbada, garota de programa, gays de todas as classes, garotos de programa, músicos, artistas de TV e cinema, donos de grandes casas de turismo, comerciais, presidentes e diretores gays de grandes empresas.

Nos anos sessenta os playboys chegavam de lambreta e corrente na mão. A pancadaria era geral e quem tinha perna fugia mesmo tropeçando no salto alto do sapato.

Nos anos 70 a barra ficou mais leve. Na área funcionavam os bares da Atlântica, os botecos pé sujo de dentro da galeria, cinema, teatro e uma das mais famosas discotecas da época, o Sótão Disco Club.

O Sótão era uma discoteca gay, destinada a homossexuais e simpatizantes, os donos eram gays assim como o gerente, o chapeleiro, o guardador de casacos e bolsas na imitação de casas noturnas da Europa.

Todos eram bibas e o Sótão tornou-se uma verdadeira “Bibalônia”.

Por lá mataram Almir, um baixinho invocado que jogou pelo Vasco, Flamengo e Bangú. Se não foi isso foi quase isso.

No início da década de 60 era desse jeito: homem que não era homem era veado, bicha ou travesti; mulher que não era mulher era paraíba, machôrra ou
sapatão e garoto de programa era michê.

Houve uma época distante na qual o Ministério das Relações, o Itamaraty, resolveu dar um refresco aos homossexuais e alcoólatras da casa de Rio Branco. Vinícius de Moraes estava na lista do dispensados.

Dizem os amigos e relataram os cronistas da época que, ao chegar ao aeroporto, Vinicius já anunciou aos presentes: “Eu sou bêbado!”.

E foi pra Ipanema abrir os trabalhos.

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