"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

ZIRIGUIDUM, CARNAVAL E UMA SOCIEDADE CADA VEZ MAIS PODRE

Pois é, caro amigo e leitor. Estamos de volta da folia e pelo visto os acontecimentos carnavalescos serviram apenas para reafirmar como anda mal das pernas a sociedade em que vivemos. Longe de qualquer aspecto moralista carola (afinal as orgias e excessos carnavalescos são tão velhos quanto a própria humanidade) a podridão a que me refiro é a de caráter e não a da velha moral puritana.

Dois fatos ocorridos durante o carnaval conseguiram, com clareza espantosa, expor o despudor e a falta de caráter que hoje em dia é regra em nossa sociedade. Ao mesmo tempo, esses fatos demonstram os comportamentos que são as matrizes que geram a podridão reinante em Brasília e em todas as esferas da vida dos brasileiros.

O primeiro fato foi à morte da menina Grazielly (três anos), atropelada por um jet ski em Bertioga no Estado de São Paulo. Esse caso, cercado de dor e repugnância, foi “coroado” pela mais profunda demonstração de desprezo pela vida e de desumanidade promovida pelos pais do menor autor do crime: Os senhores Marciano Assis Cabral e Maria Adriana Sipoleta.

Preocupados unicamente em encobrir o crime, não tentaram prestar socorro à pequena Grazielly que agonizava na areia da praia. Rapidamente, deram fuga ao seu filhinho mimado em um helicóptero que, quem sabe, poderia ter abreviado o resgate da menina e salvo sua vida.

Ao buscarem meramente encobrir o crime e desprezarem completamente a vítima, os dois mostraram ao filho a famosa “esperteza” do brasileiro. Afinal, mais do que salvar a vida de uma criança ou assumir um erro cometido, o importante mesmo é usar todos os recursos financeiros disponíveis para tentar escapar das consequências e fugir o mais rápido possível do flagrante. Talvez, quem sabe, torcer pela costumeira “eficiência” da polícia brasileira em investigações se manifestar e tudo acabar em uma gaveta empoeirada de uma delegacia qualquer.

Por sorte, a imensa comoção pública acabou levando a polícia a cumprir o seu papel e a identificar os criminosos. Como sempre, os espertos, pretendem culpar o acaso. Afirmam que o menor não pilotava o jet ski. Ele apenas “teria ligado o veículo” e o desastre ocorrera. O “pequeno detalhe” é que centenas de testemunhas viram o menino pilotar o veículo, perder o controle da embarcação e atropelar Grazielly.

A recusa em prestar socorro, ajudando a vítima e sua família, além da negação constante da autoria do fato – mesmo diante de inúmeras testemunhas oculares – e, em primeiro lugar, não educar e impor limites ao seu filho, permitindo que uma criança pilotasse um veículo potencialmente perigoso. Mostram que a postura do casal durante os fatos é o retrato cabal de uma sociedade que perdeu a perspectiva e a civilidade.

O segundo fato foi o dantesco espetáculo ocorrido na apuração do desfile das escolas de samba paulistanas. Um absurdo total que não pode ser tolerado e cujos componentes políticos parecem cada vez mais evidentes. Afinal, os boatos iniciais de que elementos ligados a um partido político e descontentes com a baixa pontuação da escola que homenageou o seu “Grande Líder” e teriam dado início à confusão, parecem agora se confirmar. Já que a própria polícia paulista, no decorrer das investigações, chegou à conclusão de que o espetáculo de vandalismo e violência já estava orquestrado e foi dirigido por elementos infiltrados nas diretorias e torcidas de determinada escola.

Seja verdade ou não a questão da infiltração de militantes incentivando a baderna; o certo é que todas as escolas envolvidas devem ser severamente punidas com o banimento. Só isso demonstraria a necessidade de um comportamento ético e civilizado nesse meio e valorizaria o que resta de cidadania em nossa sociedade. Mas, pelo retrospecto e pelo que vejo dia após dia, a coisa deve “acabar em samba”.

Espero que, para o bem de nossa nação e das próprias escolas de samba de São Paulo, isso não se confirme. Já passou da hora do governo paulistano perceber e encarar o fato de que essas torcidas organizadas e suas ramificações são verdadeiras quadrilhas de elementos perigosos e núcleos de violência. Quem, em sã consciência, carrega Coquetéis Molotov’s (bombas incendiárias) para uma festa? Só mesmo elementos perigosos e dispostos a tudo.

A cultura do “eu primeiro”, do “tudo pode”, do “eu quero”, do “levar vantagem em tudo” e do desprezo total e completo pelo simples direito a vida de outras pessoas é o que vem marcando a sociedade brasileira cada vez mais profundamente e mergulhando nosso povo no desespero e na desilusão.

A única forma de frear essa degeneração acelerada e impedir que acabemos todos envoltos pela barbárie e pela lei do mais forte; é a punição exemplar dos culpados e a mudança de hábitos familiares. Os pais devem saber que impor limites é a coisa mais importante na educação de uma criança. Atrevo-me a dizer que isso é mais importante até do que ensiná-la a ler e a escrever. Pois, ciente de que a vida em sociedade consiste em respeitar os direitos dos outros enquanto usufrui os seus e de que as derrotas podem ser tão frequentes quanto as vitórias a criança terá a chave para uma vida longa e próspera e para viver e formar uma sociedade capaz de gerar oportunidades para todos.

Se, segundo Monteiro Lobato, um país se faz com homens e livros; uma grande nação é feita com civilidade, respeito às leis, humanidade, cidadania e compreensão de que os outros também têm direitos.

Sem isso, nada mais é possível e o que resta é apenas a barbárie.

E você, o que pensa disso?

23 de fevereiro de 2012
visão panorâmica

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