"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



sexta-feira, 23 de março de 2012

O IMPRESSIONANTE TESTEMUNHO DE UM EX-PETISTA

Meu nome é Felipe de Oliveira Azevedo Melo, estudante de Administração da Universidade de Brasília. Nasci em 21 de dezembro de 1985 em Anápolis, Goiás, apesar de meus pais terem sido criados no Distrito Federal. Fui criado em Ceilândia, bairro de periferia, e moro ainda nessa cidade-satélite (que adoro de coração).

Tive uma infância bastante politizada. Minha mãe, professora da então Fundação Educacional do Distrito Federal (FEDF), era integrante da Articulação de Esquerda, corrente do Partido dos Trabalhadores (PT), e conhecida de muitas pessoas que sempre participaram do Sindicato dos Professores do Distrito Federal (SINPRO/DF).
Ainda pequeno, acompanhava minha mãe tanto nas reuniões do PT quanto nas assembleias dos professores. Também sempre participei das campanhas de rua do PT. Não é à toa que, desde cedo, mostrei uma verve política de esquerda muito forte.

Ingressei no curso de Direito da Universidade Católica de Brasília (UCB) em 2002, quando tinha 16 anos de idade. Nessa mesma época, me filiei ao Partido dos Trabalhadores e ingressei na corrente O Trabalho (OT), de orientação trotskista.
Li muitos dos autores clássicos da literatura marxista-leninista e trotskista -- Karl Marx, Friedrich Engels, Rosa Luxemburgo, Antonio Gramsci, Vladimir Lênin, Leon Trotsky -- e até mesmo autores anarquistas, como Proudhon, Kropotkin e Bakunin.

Em meados de 2005, após uma conversa com um dos ideólogos do grupo, meu pensamento político começou a mudar. O indivíduo em questão possuía uma vida que, sob todos os aspectos, o encaixava na classificação de pequeno-burguês de acordo com o próprio jargão que utilizávamos: morava em Brasília num apartamento de mais de 200m², era casado com uma alta funcionária da diplomacia brasileira e tinha uma renda familiar mensal de aproximadamente R$ 20 mil.
À época, a renda mensal de minha família não ultrapassava R$ 2.500, o que não nos garantia uma vida muito confortável. Eu me encaixava perfeitamente no estereótipo socialista de "proletário" -- pai metroviário, mãe professora, eu mesmo sendo um estudante desempregado que dependia de bolsa de estudos para cursar o ensino superior -- e esse ideólogo, um dos cabeças do grupo, não chegava nem perto de ser um "proletário".
Uma dúvida surgiu na minha mente: por que ele dizia, com tanta propriedade, conhecer os anseios da classe trabalhadora se, a rigor, nunca havia feito parte dela?

Isso me levou duas indagações fundamentais. Primeiro, os grandes nomes da literatura socialista, comunista e anarquista nunca foram membros da classe "proletária": se não faziam parte da pequena-burguesia (como Lênin, que era advogado), eram burgueses de fato (como Engels, que era dono de indústria) ou aristocratas (como Kropotkin, membro da Casa Real de Rurik). Segundo, a "dialética" que era tão defendida dentro do grupo (não apenas o materialismo dialético, mas o pensamento dialético puro) era uma grande farsa; já que dialética implica confrontação de ideias opostas, como poderíamos ser dialéticos se nunca, jamais estudamos sequer um único texto de algum autor "reacionário"? Outra coisa que também foi determinante foi o escândalo do mensalão e a profunda decepção que isso representou para mim, que ainda acreditava no Lula como a grande alternativa para o Brasil. Foi a partir desse momento que, sentindo que algo não estava no lugar, comecei a me afastar cada vez mais do espectro político de esquerda.

Em 2007, ingressei no curso de Administração da Universidade de Brasília. Até então, eu havia me mantido em inatividade política, sem ler ou pesquisar nada que se relacionasse a isso.
Estudando na UnB, comecei a estudar mais profundamente disciplinas como economia, psicologia, sociologia e filosofia. O mundo acadêmico literalmente abriu-se para mim, e foi essa massa crítica de conhecimento que, lentamente, começou a revelar o que para mim era a postura mais correta a ser adotada em matéria de política.
A relevância intelectual das teorias que serviram de base para o socialismo, o comunismo e o anarquismo revelaram-se praticamente nula a partir desses estudos.

Decidido a buscar alternativas, comecei a buscar outros autores, intelectuais que estivessem dispostos a analisar as coisas sob outro prisma. As coisas começaram a fazer sentido.
Aquela sensação de deslocamento, reflexo da dissonância cognitiva que sofri quando tive meu desencanto, não se apresentou mais. Era quase como me ver curado de uma doença -- e, de fato, era uma doença profunda e grave, que destrói o senso de certo e errado, que transforma assassinos em santos e demoniza os valores mais sagrados sobre os quais se construiu nossa civilização.
E, à medida que fui ampliando e aprofundando meus conhecimentos, conheci outros que, como eu, não se viam representados pelo status quo ideológico.

Quando decidi iniciar o blog da Juventude Conservadora da UnB, não tinha por objetivo ser um agente político ipsis litteris, mas dar voz a alguém que fazia parte de uma realidade esquecida, achincalhada e, às vezes, oprimida dentro da universidade.
Os textos que publiquei jamais refletiram somente a minha opinião pessoal, mas a de muitas outras pessoas com as quais converso e convivo diariamente na universidade. O anonimato, que até agora tentei manter, buscava me resguardar de retaliações.
Nunca gostei desse pretenso anonimato, para falar a verdade. Por que eu deveria me esconder? Era impossível não enxergar nisso uma certa covardia, mesmo que bem fundamentada. Além disso, as ofensas e as ameaças que recebi, apesar de provocarem medo no primeiro momento, serviram como combustível inconsciente para que eu prosseguisse.

Hoje, eu decidi revelar de uma vez por todas quem sou a fim de evitar maiores especulações. Alguns já me conheciam. Outros desconfiavam. Não sei até onde isso será importante ou relevante, tanto para mim quanto para os outros, mas o tempo vai me mostrar.

Do Blog: Juventude Conservadora da UnB

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