"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



sexta-feira, 23 de março de 2012

ÓDIO NA INTERNET

Os alvos de Melo, que já foi considerado “semi-imputável”: cristãos, judeus, negros, mulheres, homossexuais e crianças!!!

Na VEJA Online:

A Polícia Federal (PF) pôs fim nesta quinta-feira a sete anos de atividade criminosa de Marcelo Valle Silveira Melo, de 26 anos. Preso por pregar a intolerância e fazer ameaças em um site, ele era uma figura conhecida na internet por espalhar as mais terríveis mensagens. Melo passou de provocador inconsequente a um perigoso disseminador do ódio. Ele se valia da internet para passar uma imagem de superioridade que, na vida real, lhe faltava. Na rede, o garoto sem amigos se transformava em “Psycl0n”, ou “Ash Ketchum”.

A trajetória criminosa de Melo teve início em 2005, quando ele publicou uma sequência de ofensas contra negros em um fórum da Universidade de Brasília (UnB) no site de relacionamentos Orkut. Foi processado e condenado, em 2009, a um ano e dois meses de prisão. Recorreu da decisão e não passou um dia sequer na cadeia. Dois anos antes da condenação, em entrevista ao site Campus Online, da UnB, disse que foi mal compreendido: “Eu queria criticar o sistema de cotas, fazer uma ironia de como ele é injusto. Jamais ser racista, como estão dizendo por aí.”

Não era verdade: nos anos seguintes, Melo aprofundou seu arsenal de ofensas e ampliou o leque das vítimas. Os negros eram “macacos subdesenvolvidos”. As mulheres, merecedoras de estupro. Para os homossexuais, ele pregava o extermínio. Esquerdistas, cristãos, judeus e crianças também eram alvo de ataques. Ele distribuía ameaças de morte e, aos poucos, passou a concentrar suas mensagens no site www.silviokoerich.org, motivador da prisão. Até então, ele mudava frequentemente o veículo usado para divulgar suas ideias, o que dificultava o rastreamento.

Formado em Ciência da Computação pela Universidade Católica de Brasília, Melo também era um hacker habilidoso - e gostava de alardear sua capacidade de fraudar cartões de crédito.
Isolado, o jovem seria provavelmente apenas um desajustado inofensivo. Mas, na web, encontrou colegas que compartilhavam sua insanidade - como Emerson Eduardo Rodrigues, o paranaense que também foi preso pela Polícia Federal nesta quinta-feira.

Origem

Filho de uma funcionária do Serviço de Processamento de Dados (Serpro) da Presidência, Melo perdeu o pai ainda criança. Vivia em um apartamento confortável na Asa Norte, bairro central de Brasília.
No colégio onde estudou, era alvo de piadas por causa do sobrepeso e por se encaixar no estereótipo de “nerd”.

A vida sem sobressaltos financeiros lhe permitiu uma viagem ao Japão, país pelo qual era aficionado. Quando postou mensagens racistas em um fórum da UnB na internet, ele havia acabado de ser aprovado no curso de Letras - Japonês, que abandonou em seguida.

O jovem chegou a se submeter a tratamento psiquiátrico. Na primeira condenação, Melo teve a pena abrandada porque o juiz o considerou semi-imputável (apenas parcialmente consciente das consequências de seus atos). Após a sentença, passou a debochar também da Justiça “Fui condenado a três anos de liberdade”, postou. Intensificou as ameaças: por mais de uma vez, prometeu promover um massacre na Universidade de Brasília.

Seu principal alvo eram alunos das Ciências Humanas. Ele teria escolhido até a arma para o crime: o fuzil israelense Uzi - o mesmo usado pelo estudante que matou 32 pessoas na universidade Virginia Tech, nos Estados Unidos, em 2007. Melo é alvo de quase dez queixas na Polícia Civil do Distrito Federal, uma delas por agredir a mãe. Também responde a um segundo processo por racismo, aberto em 2011.

A defesa alegava insanidade mental, o que deve se repetir agora, com as novas acusações. Ao manter o site que levou à sua prisão, o pregador do ódio desdenhou também da Polícia Federal. Deve pagar o preço pelos próximos anos.

23 de março de 2012
Reinaldo Azevedo

Nenhum comentário:

Postar um comentário