"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



sexta-feira, 27 de abril de 2012

HOLLANDE NÃO REPRESENTA A MUDANÇA

Um triunfo de François Hollande na França teria repercussões negativas para a Colômbia e a América Latina.

François Hollande não é o candidato da “mudança”. Nem ele nem seu partido têm a intenção de fazer verdadeiras reformas.
O socialismo francês é uma força imobilista, reacionária, defensora do status quo e dos privilégios de certas categorias sociais. Essa é a sua vocação.

O socialista François Mitterrand congelou o Hexágono em muitos âmbitos e depois dele o Partido Socialista (PS) impediu que o presidente Jacques Chirac, de direita, realizasse as reformas adiadas.
Por isso coube a Nicolas Sarkozy, desde 2007, iniciar uma enérgica ação em favor das mudanças, pois a França, nesses 26 anos de paralisia, havia ficado para trás com relação aos países mais avançados da Europa.

Durante os cinco anos da presidência de Nicolas Sarkozy, o PS e François Hollande, por covardia e cinismo, e sobretudo por seu falso “progressismo”, se opuseram às reformas que a maioria parlamentar e o governo impulsionavam, e até tiraram suas hostes para cuidar de que tais reformas fossem abandonadas ante a intimidação das ruas. Tudo isso foi inútil.
Graças à firmeza de Sarkozy e ao apoio da opinião pública, as reformas foram levadas adiante. A esquerda e suas variantes extremistas nunca perdoaram isso a Sarkozy: a cada dia desse período mobilizaram sua gente, sua imprensa e seus aparatos contra ele. Porém, as reformas continuaram.

A tantas vezes adiada reforma das pensões e aposentadorias foi aprovada, apesar das inúmeras manifestações e greves contra isso, e isto evitou que esse sistema colapsasse. O mesmo ocorreu com a reforma das universidades (90% delas adquiriram assim sua autonomia, o que melhora suas dotações, seus planos de formação e investigação, e sua relação com o mundo empresarial). Graças à reforma da justiça melhorou-se a segurança das pessoas: agora protege-se mais às vítimas do que aos culpados.

A reforma sobre o serviço mínimo nos transportes e na educação nacional evita que o país seja paralisado e que os usuários sejam convertidos em reféns dos sindicatos. A revalorização das horas extras melhorou o ingresso dos trabalhadores e desbaratou o sistema absurdo de uma semana de apenas 35 horas que ninguém aplica no mundo desenvolvido e que golpeou tanto a competitividade das empresas francesas.
A eliminação do imposto à sucessão favorece a transmissão do patrimônio aos filhos. A proibição do uso da burka nos espaços públicos pôs limite a essa iniqüidade islâmica e relançou a discussão sobre o respeito ao laicismo republicano. O aumento dos subsídios aos deficientes e aos idosos, e o plano de investigação científica contra o câncer e o mal de Alzheimer, não contaram com o apoio da esquerda.

Estas foram só algumas das muitas reformas pois, na realidade, Sarkozy pôs em movimento 931 iniciativas.

Que tipo de “mudança” pode encarnar Hollande com tais antecedentes? Quando ele fala de “mudança” cuida-se de dizer para onde quer ir. Um líder como ele que proclama que seu inimigo é o capital financeiro, pode trabalhar pela reforma do sistema financeiro internacional?
O escamoteamento de Hollande frente aos pontos cruciais da reforma que a França e a Europa requerem, durou até o primeiro turno. Sua campanha para o segundo turno continua no mesmo tom.
Ele teme debater estas coisas com Sarkozy na televisão e no rádio. Hollande, que não tem nem o carisma nem a experiência necessária, trata de evitar que se veja sua manobra: um retorno ao arcaico modelo socialista, o único que ele conhece, que precipitou a crise na Grécia, na Espanha (com Zapatero), na Holanda, em Portugal e no Reino Unido, entre outros.
Um homem com tais limitações, como poderia brigar com a crise que continua sacudindo a França, e como poderia trabalhar pela boa reforma da União Européia e da mundialização?

É, pois, evidente que a vitória de François Hollande não é nem segura, nem indiscutível. Os caciques socialistas mais lúcidos estão preocupados.
Hollande pediu ao PS, à extrema esquerda e aos Verdes que votassem nele em 22 de abril para pôr sua candidatura “o mais alto possível”. Hollande sonhou por um momento em ser eleito no primeiro turno.

O PS chegou a acreditar que a candidatura de Sarkozy seria derrubada no último minuto. Os ataques do PS e dos outros nove candidatos, dos meios de comunicação e dos institutos de pesquisas, procuravam isso.
Todos fracassaram. Sarkozy passou para o segundo turno em boas condições: entre ele e Hollande a diferença é só de um ponto e meio. Este é o evento mais importante do primeiro turno. Apesar de que Sarkozy encontra-se ao final de cinco anos de um governo sacudido desde 2008 pela tripla crise mundial, ele passou na prova do primeiro turno.

Além disso, a maioria do eleitorado votou contra os socialistas e seus aliados extremistas de esquerda.
Ridicularizados pelos resultados do primeiro turno, os “especialistas” das mídias continuam fazendo cálculos “objetivistas” e adições aritméticas. Eles se consolam com um vago “bloco majoritário de esquerdas”, ignorando que a dinâmica verdadeira do segundo turno se move para a direita. Tudo dependerá das propostas que Sarkozy fará aos centristas e ao eleitorado de Marine Le Pen.

O candidato da UMP disse que não fará pactos com ela, que não haverá ministros desse partido, e se recusa a insultar os eleitores dessa formação. “Eu devo ouvi-los, entender-lhes e não fazer o gesto, que fazem os socialistas, de tapar o nariz”.

No primeiro turno muitos eleitores de esquerda rechaçaram os candidatos mais agressivos de seu próprio campo, como Mélenchon, que obteve apenas 11% dos votos, quando os “especialistas” prediziam que ele se converteria na terceira, ou inclusive na segunda força política do país. Mélenchon faz frente com os comunistas e é um admirador de Hugo Chávez.

Hollande é, pois, um candidato frágil. Os socialistas mais lúcidos sabem disso. O verdadeiro candidato deles era outro personagem, Dominique Strauss-Kahn, o ex-diretor do FMI, que no momento está afastado da vida política por suas confusões com a justiça dos Estados Unidos e da França.

Hollande trata de se impor como o candidato “da mudança”, porém essa posição é insustentável. Ele é, antes, o homem “do passado e do passivo”, o candidato da involução, de uma volta ao passado, ao velho modelo no qual os sindicatos e os grupos de pressão mandam e não os representantes eleitos pelo povo. Ele é o candidato do sistema de viver no débito.
O que se pode pensar quando ele anuncia que, se for presidente, contratará 60.000 novos professores? Com que dinheiro? Com o dos impostos, os quais terão que subir de maneira dramática. Ninguém na Europa está tomando medidas assim irresponsáveis.

Que outras coisas esconde essa candidatura?

Os Verdes negociaram com o PS um acordo: um governo de Hollande deverá desmantelar as centrais elétricas nucleares, o que fará da França um país cada vez mais dependente do gás russo e do petróleo dos países árabes.

Outro detalhe alarmante: 700 mesquitas na França estão ordenando os muçulmanos a votarem em Hollande. Como ele promete dar aos estrangeiros o direito de votar nas eleições, essa gente pressente que um governo assim facilitará o comunitarismo e a imposição à sociedade francesa de certas leis da sharia: véu islâmico e separação de mulheres e homens nos hospitais, na educação, nas piscinas, entre outras coisas.

Esse chamado das 700 mesquitas não é uma invenção da direita: foi denunciado por Marianne, um semanário parisiense de esquerda, furiosamente anti-Sarkozy.
Um triunfo de François Hollande na França teria repercussões negativas para a Colômbia e a América Latina. O bloco que apoiaria esse governo estaria integrado por partidos que sempre apoiaram os regimes de Fidel Castro, Hugo Chávez, Evo Morales, Cristina Kirchner, Daniel Ortega e Rafael Correa, países onde a democracia está em ruínas.
São os mesmos que querem roubar da Colômbia o arquipélago de San Andrés e Providencia no Mar do Caribe. Os mesmos que expropriam empresas ilegalmente, como faz Chávez há anos na Venezuela e como está fazendo a Kirchner na Argentina com a firma espanhola Repsol.
Esse bloco trabalha pela saída da Colômbia do mundo livre e sua integração ao aparato da ALBA.
Esforça-se também para destruir o pan-americanismo e, sobretudo, para conseguir o auge militar e político das FARC.
O que está em jogo em 6 de maio é, pois, crucial para a França, para a Europa e para a América Latina.

Eduardo Mackenzie
27 de abril de 2012
Tradução: Graça Salgueiro

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