"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



domingo, 26 de agosto de 2012

"O QUE PREOCUPA É O SILÊNCIO DOS BONS..."

Visão Panorâmica

Erundina 




A semana que passou deixou muito claro, para quem quiser ver, como as coisas acontecem na política brasileira e quais as bases que sustentam toda essa imundície, alienação e corrupção reinantes em nosso país.
 
Uma das maiores figuras da humanidade, o reverendo americano Martin Luther King disse certa vez:
“O que mais preocupa não é o grito dos violentos, nem dos corruptos, nem dos desonestos, nem dos sem ética. O que mais preocupa é o silêncio dos bons”
E é justamente o silêncio e a covardia dos bons que sustenta a enorme corja de corruptos e salteadores que rouba, mata e fere a dignidade de milhões de brasileiros dia após dia.
 
E, esta semana, dois exemplos desse silêncio pernicioso e criminoso deixaram escapar todo o poder do mal e a capacidade de intimidar, acovardar até mesmo cidadãos que (em teoria) estariam imunes a sua influência.
 
Quer por acomodação, ambição pessoal, medo de que segredos venham a ser revelados ou por qualquer outro motivo inconfessável a verdade é que os teoricamente bons se calam e permitem que seus serviços sejam capitalizados contra os interesses maiores da sociedade e da justiça. Cito aqui diretamente a Deputada Luíza Erundina, figura pública de reputação conhecida por todos, e do Ministro do Supremo Ricardo Lewandowski.
Primeiramente vou mostrar minhas razões para citar Erundina:
 
Todos sabem que Luíza Erundina foi escolhida para ser vice na chapa do PT para a Prefeitura de São Paulo. Graças a intervenção direta de Lula, firmando aliança com Paulo Maluf, Erundina alegou incompatibilidade com o recém aliado Maluf (outrora inimigo das esquerdas) e declinou da indicação.
 
No entanto, apesar de alegar desconforto e “impossibilidades éticas” de partilhar um mesmo palanque com Paulo Maluf; Erundina decidiu apoiar, indicar e participar ativamente da campanha em prol da vitória da coligação petista.
 
Agora, no auge da campanha, Erundina da uma entrevista afirmando o óbvio: Segundo ela, o PT teria comprado o apoio de Maluf entregando a ele o controle de secretarias e órgãos ministeriais responsáveis por bilhões de reais em verbas públicas para a realização de obras.
Na prática, ela quis dizer que o PT fez questão de colocar a raposa para tomar conta do galinheiro. As palavras exatas de Erundina foram: “Houve barganha: o Maluf exigiu a Secretaria de Habitação, que tem obras, no governo do Geraldo Alckmin em troca do apoio à candidatura do José Serra.
Como o Alckmin se negou a dar a secretaria, ele veio para o Haddad. A presidenta Dilma deu para o Maluf uma secretaria nacional com mais recursos orçamentários. Foi pago para que o Maluf se coligasse com o PT".
 
Ao mesmo passo que afirmou o que lemos acima, Erundina disse que a política brasileira está “rebaixada” devido a acordos dessa natureza. E é exatamente aqui que entra minha reclamação. Se Erundina acha a aliança Lula/Maluf espúria e firmada sob bases corruptas que prejudicarão o Brasil; por quais cargas d’água emprestou seu nome e patrocina a coligação?
 
Por que, ao invés de renunciar ao “privilégio” de apoiar Haddad e um partido que vende o Brasil em gordos lotes apenas para se manter no poder (ou, no caso de SP conquistá-lo) e mostrar para toda nação, com a força de sua suposta reputação de integridade, o mal que está contido na aliança que ela julga criminosa?
 
Por que escolher subir no palanque, fazer campanha favorável, defender uma corja de criminosos e – aparentemente em busca de alguma redenção – ficar falando a boca pequena dos males “ocultos” em sua escolha de vida ao invés de desmascarar Lula e sua forma asquerosa de fazer política, agindo contra os interesses da nação em nome apenas das ambições pessoais do ex-presidente?
 
Exatamente o mesmo raciocínio se da com o Ministro do STF Lewandowski.
 
Sempre se disse, quase como uma piada, que corrupto não passa recibo e nem aceita receber a propina em cheque. Esse sempre foi o argumento para tentar justificar a extrema dificuldade em desbaratar essas quadrilhas que infestam o serviço público brasileiro. Mas, o voto de absolvição dado por Lewandowski ao Deputado João Paulo Cunha (PT/SP) deixa claro que, mesmo o corrupto sendo burro o bastante para receber em cheque e assinar um recibo da propina (como fez João Paulo Cunha) sempre haverá “um amigo” disposto a fechar os olhos para a falcatrua.
 
As provas contra João Paulo Cunha são tão claras que fica difícil compreender o voto de Lewandowski a não ser sobre a ótica da denúncia de pressão feita por Lula sobre o STF, corajosamente realizada pelo Ministro Gilmar Mendes.
 
É bom lembrar aqui também que na época, Lula pressionou Gilmar para julgar os réus petistas com benevolência ou adiar o julgamento para depois das eleições; em troca, supostos deslizes de Gilmar (depois comprovados como inexistentes) deixariam de vir à tona na CPI do Cachoeira.
 
O Ministro Gilmar Mendes ainda disse que grande parte do STF estaria sob o mesmo ataque de Lula e de seus enviados e que Lewandowski estaria seriamente inclinado a ceder a pressão graças a supostos favores devidos a Lula.
 
Seja verdade ou mentira; o fato é que a atuação de Lewandowski como revisor do processo tem sido claramente no sentido de retardar o andamento dos trabalhos, confundir opiniões e disfarçar suas intenções condenando as “arraias miúdas” e inocentando a elite da corja petista.
 
É claro que o ministro tem todo o direito de discordar do relator e tentar expor seu ponto de vista, no entanto, julgar inocente alguém que assina um recibo de valores oriundos de um esquema fraudulento, firma contratos para prestação de um serviço público, usa esses serviços em seu próprio benefício e, ainda por cima, remete parte do dinheiro recebido do esquema (em um cheque pessoal e assinado) para uma terceira pessoa – comprovando toda a cadeia de eventos – é algo ao menos estranho (ainda mais diante das gravíssimas denúncias feitas por um colega de tribunal).
 
Em meu singelo ponto de vista só podem haver duas respostas ao comportamento de Erundina e do Ministro Lewandowski: covardia ou rabo preso.
 
E você, o que pensa disso?

26 de agosto de 2012
visão panorâmica

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