"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



domingo, 3 de junho de 2012

HORA DE ACORDAR

Durante todo o perigo de euforia de um “Milagre Econômico” cantado em prosa e verso pela equipe do governo Lula e posteriormente do governo Dilma, os cronistas deste Blog se sentiram “cassandras” (*) , pois não conseguiam enxergar como o Brasil poderia evitar problemas mais à frente.

A imprensa internacional também se iludiu ou foi bem remunerada para nada mencionar quanto à impossibilidade de permanecer um país de ‘Marolas”num mundo de macaréus. Até dez meses atrás seguia ecoando as loas da imprensa chapa branca do Brasil. Notícias positivas na imprensa brasileira pareciam alimentar notícias boas na imprensa internacional que por sua vez realimentavam a euforia da imprensa dentro do Brasil.


 

Sutilmente, lentamente, revistas como a The Economist e o jornal Financial Times começaram a recuar, a ver o problema da perda de empregos no setor industrial, na queda do valor das commodities, no custo inerente às más estradas que não são consertadas, a malha rodoviária que não é expandida, nos portos obsoletos. É como se o Brasil tivesse sido um anunciante pagando bem por manchetes positivas num jornal de repente tivesse deixado de anunciar.

Contudo, subitamente o periódico Foreign Affairs, uma publicação trimestral (outono/inverno/primavera/verão) em formato de livro/brochura do Council for Foreign Affairs se manifesta. É importante notar que as pessoas que são convidadas a escrever nessa publicação normalmente são do primeiro time.

Na década de setenta quando todos tentávamos entender melhor o Japão um dos que escreveu sobre o sistema de convivência governo-empresa do Japão foi Peter Drucker.
Quando ficou claro que a CIA devia ser desmontada e montada de novo, lá por 1974-5 a revista pediu uma análise do Almirante Stansfield Turner. Vinte e quatro meses depois Turner assumira direção da CIA.
Um dia, ainda nos anos setenta, li um artigo do líder do minúsculo Partido da República, na Itália. Tempos depois ele surgia como primeiro-ministro de consenso num dos muitos momentos difíceis da vida republicana da Itália.
Pois bem, a edição de primavera contém uma análise de Ruchir Sharma, diretor de Commodities e Assuntos Globais da Morgan Stanley sobre as perspectivas de continuar a driblar a crise de 2008.
Deixa claro que se a China não estivesse percorrendo os fornecedores do mundo atrás de commodities o Brasil jamais teria tido essa sensação de bem-estar. Praticamente diz que o governo, nos últimos nove anos pegou uma onda chinesa.
Caso contrário teria sido necessário construir algo mais permanente em cima da estabilização deixada pelo governo FHC.

Fica claro que o investimento em educação de qualidade e fatores infra-estruturais foi insuficiente, e que o país dependerá de programas mais sérios neste sentido para aproveitar, dentro de alguns anos a próxima fase boa dos mercados mundiais, mas que o Brasil já interdepende tanto do seu relacionamento com os grandes mercados que a ambição de viver do intercâmbio com a América Latina não tem como atender as verdadeiras necessidades, se for para manter na classe média os milhões de pessoas que teriam nela ingressado nos últimos anos.

Este claramente vê que não se pode depender de impostos altos, juros altos mas taxas de investimento baixas, extensas políticas de subsídios sociais, tudo isto pendurando nos setores de commodities num mundo em que grandes pulmões do sistema estão em crise.
Ou seja, como estamos carecas de saber. O Brasil precisa ser governado por cabeças pensantes. Não larápios assaltantes

(*) Vidente da mitologia grega. Por recusar-se a deitar com Apolo este colocou um feitiço que fazia com que as pessoas não acreditassem nela. Assim, apesar de ter avisado Priamo de Tróia de que deveria destruir o Cavalo de Madeira não lhe deram ouvidos, o cavalo foi trazido para dentro das muralhas e Tróia caiu.

(*) Fotomontagem: A “presidenta” com cara de cachorro que quer brigar e o ministro da fazenda com a do gato que quebrou o pires.

Ralph J. Hofmann
03 de junho de 2012

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