"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



domingo, 6 de janeiro de 2013

O GRANDE IRMÃO E O SEU OLHO

 

Estamos no universo orwelliano de “1984”. É quase impossível a alguém andar sem ser monitorado por alguma câmera; vigiado, passo a passo, onde quer esteja, pelos satélites; localizado quando usa o aparelho telefônico celular, e assassinado por controle remoto.

Todo esse sistema, que deixa anacrônica a ficção, é dominado, em escala mundial, pelo grande irmão, o governo norte-americano. O sistema financeiro, industrial e militar, que manipula o poder, conta com as maiores empresas internacionais de comunicação eletrônica, por ele controladas.



Contra o voto de pequena minoria, o Congresso dos Estados Unidos acaba de renovar lei do Governo Bush, autorizando a escuta telefônica e o monitoramento de comunicação eletrônica sem autorização judicial, incluindo emails, de cidadãos estrangeiros de todo o mundo, por parte dos serviços secretos norte-americanos – sobrepondo-se à soberania de todas as outras nações.

Embora a desculpa seja a luta contra o terrorismo, não há como saber onde acaba a preocupação com a “segurança nacional” dos Estados Unidos e começa a espionagem comercial e tecnológica, ou a coleta de informações que sirvam para pressionar ou chantagear “inimigos” dos EUA, como os ativistas da democracia ou da transparência, como Julian Assange.

Todos nós, a começar pelos nossos líderes políticos, podemos ser espionados pelos vários serviços norte-americanos, como a CIA e o NSA. Dentro da paranóia ianque, qualquer estrangeiro, que não for seu vassalo e assalariado, é inimigo potencial de seu país.

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MONITORAMENTO

O monitoramento de “inimigos” dos EUA pelos seus serviços de informação não é novidade. Ao longo do século XX, jornalistas, políticos, lideranças sindicais e sociais de todos os continentes foram monitoradas, perseguidas, e, em muitos casos, diretamente seqüestradas e assassinadas por agentes da CIA, ou matadores por ela contratados – conforme vários livros de ex-agentes, que deixaram suas atividades.

Essa legislação de exceção, aprovada logo após 11 de setembro, foi agora incorporada às leis norte-americanas ordinárias.
O que os Estados Unidos estão dizendo ao mundo é que, ao aprovar essa lei, colocam sob a proteção de seu poderio militar qualquer assassino a soldo de seus interesses que seja identificado e detido, em qualquer lugar do mundo.

É a velha prepotência, denunciada pelos seus pensadores mais eminentes, como o Senador Fullbright – que foi contra a guerra do Vietnã, e se opunha a toda ingerência de seu governo nos assuntos internos de qualquer outra nação – em seu livro Arrogance of Power:

“O Poder se confunde com a virtude e tende também a ver-se como onipotente. Uma vez imbuído da idéia de missão, uma grande nação facilmente assume que ela possui todos os meios para usá-los como um dever, no serviço de Deus”.

(do Blog do Santayana)

06 de janeiro de 2013
Mauro Santayana

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