"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

A QUESTÃO DAS ALIANÇAS

 

A candidatura do governador de Pernambuco, Eduardo Campos, do PSB, à Presidência da República parece a cada dia mais cristalizada no projeto dos socialistas, e agora tratada não mais como objetivo de longo prazo.
Caminhamos para uma disputa eleitoral com vários candidatos, e pelo menos dois deles saídos da base governista que está no poder há dez anos: o próprio Campos, a se confirmar sua decisão, e a ex-senadora Marina Silva, por um novo partido a ser formado.

Sendo assim, e a continuar o panorama econômico nada promissor, a reeleição da presidente Dilma Rousseff estará em risco mais pelo sangramento de votos de sua própria base do que pela força da oposição, que continua refém de suas próprias contradições.

E são essas contradições que a enfraquecem para uma eventual aliança eleitoral no segundo turno.
Como vem acontecendo desde 2002, depois de ter derrotado duas vezes Lula no primeiro turno, o PSDB é majoritário entre os oposicionistas, levando sempre as eleições para o segundo turno, e terminando a eleição com uma média de 40% dos votos.

O problema do partido é não conseguir unir os derrotados para virar o jogo no segundo turno.
Ao contrário, o PT consegue sempre ser apoiado pelos dissidentes, seja por Ciro Gomes, do PPS, e Garotinho, do PSB em 2002, ou por Cristovam Buarque, do PDT, em 2006.

Em 2010, a ex-senadora petista Marina Silva teve uma votação espantosa (20% dos votos), mas ficou em cima do muro no segundo turno. Não apoiou Dilma Rousseff, do PT, pois havia saído do governo Lula justamente em protesto contra a política ambiental, mas não teve disposição para o confronto direto, nem durante a campanha, nem no segundo turno.

O PSDB dificilmente consegue ultrapassar a barreira dos 40% dos votos, tendo atingido 44% em 2010 mais devido ao desconhecimento da candidata oficial do que pelo desgaste do PT, que já estava ali presente.

Na articulação para o segundo turno está a chave da eleição de 2014, pois em situação normal a presidente terá dificuldades para vencer no primeiro turno, mas tem as melhores condições para fechar acordos no segundo.

A aproximação de Eduardo Campos com o virtual candidato do PSDB (ou seria melhor chamá-lo de candidato virtual?) senador Aécio Neves já foi maior, estando hoje desgastada depois das eleições para as presidências da Câmara e do Senado, quando o maior partido oposicionista não apoiou de fato as candidaturas dissidentes, uma delas do PSB na Câmara.

O fato é que o relacionamento do PSB com o PT nunca foi uma maravilha e revelou pontos da discordância ao longo do tempo, pois a ligação dos dois partidos vem desde a campanha presidencial de 1989, quando Lula foi derrotado por Collor para a Presidência da República.

A lealdade do partido de Campos sempre foi mais a Lula que ao PT, e atualmente a discordância vai desde a gestão pública até a política de alianças, que o PSB considera muito pragmática e pouco representativa de um governo que se quer de centro-esquerda.

As maiores críticas são ao PMDB, que detém cada vez maior espaço político dentro do governo. Caso Marina ou Eduardo Campos chegue a um segundo turno contra o PT, será mais fácil viabilizar uma aliança vitoriosa saída da base governista, com o apoio dos partidos hoje na oposição.

Mas, se se repetir a hegemonia do PSDB entre o eleitorado de oposição, mais uma vez será difícil vencer a eleição se não houver um grande acordo entre os derrotados do primeiro turno.

A possibilidade de uma vitória oposicionista pode fazer com que o eleitorado se volte para uma candidatura mais viável, esvaziando o PSDB.

O senador Aécio Neves é um articulador político eficiente e conseguiu, nas eleições municipais, armar alianças políticas tanto com o PSB quanto com outros partidos da base aliada, e continua costurando possibilidades de acordos com diversos setores de partidos aliados, como o próprio PMDB.

Qualquer sinal de fraqueza da candidatura oficial pode ser aproveitado, desde que as candidaturas adversárias tenham mesmo o projeto de tirar o PT do poder.

14 de fevereiro de 2013
Merval Pereira, O Globo

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