"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

O SUICÍDIO DO PODER AMERICANO

    
          Internacional - Estados Unidos 
Os Estados Unidos teriam muito mais dinheiro para se defender se a sobrevivência nacional importasse mais que ideais abstratos.

Com cortes automáticos despontando no horizonte, as forças armadas dos Estados Unidos estão fadadas a sentirem dificuldades. Na última sexta-feira, o Washington Times noticiou a declaração do General da Força Aérea Mark Welsh dizendo que um corte em larga escala nas horas de voo começará no dia 1 de maio. De acordo com um assessor parlamentar citado no artigo, mesmo que o financiamento normal fosse retomado até julho, apenas cerca de 40 a 50% das aeronaves de combate americanas estariam nas “condições de atender os requerimentos desejados para os tempos de guerra”.

 
Enquanto a Rússia e a China reservam ouro e mão-de-obra a fim de minar o dólar, e enquanto os EUA continuam a sangrar financeiramente, o verdadeiro perdedor será a segurança nacional. Evidentemente a segurança nacional dos EUA tem altos custos. É dito que o Pentágono é o maior dos programas de bem-estar e, além disso, há a excessiva corrupção e o desperdício intricados no Departamento de Defesa. Mas seja como for, o sistema está à beira da falência e os cortes orçamentários na área militar ocorrerão em detrimento do poderio americano.
 
Como muitos leitores devem saber, os EUA têm participado de conflitos estrangeiros que também incluíram escandalosas quantias nos esforços para reconstruir o Iraque e o Afeganistão. O governo federal derramou de seu próprio tesouro para assegurar as bênçãos da liberdade para povos que provavelmente nos odeiam. E, como o sangue e o tesouro americanos já foram usados até o esgotamento, o retorno para casa será acompanhado da inevitável consequência de que tanto o Iraque quanto o Afeganistão voltarão a ser o que eram antes, ou seja, sociedades regidas pelo conflito e pela lei do mais bruto, de modo que os inimigos da América voltarão ao poder.
 
A América não tem sido sábia na sua política externa. Como escreveu James Burnham em Suicide of the West, “muito raramente a política externa dos Estados Unidos tem sido direcionada de modo consciente para grandes objetivos estratégicos de longo prazo”. Ao contrário, a política externa dos EUA sempre tem sido “um amálgama de ideais morais abstratos com interesses materiais que, em muitos casos, não têm nenhuma conexão inteligível com esses mesmos ideais abstratos”.
 
Burnham observou logo em seguida que é “essa dupla face da política externa americana que tem irritado tanto os europeus, que frequentemente – e erroneamente – levam em conta apenas os interesses materiais [...] como sendo a única parte genuína do amálgama, de modo que eles veem os ideais apenas como um retoque de cinismo hipócrita”.
 
As aventuras americanas em terras iraquianas e afegãs no século XXI ilustram essa observação quase cinco décadas após terem sido escritas. Corriqueiramente a América sacrifica o bom-senso financeiro nos altares da “democracia”, da “lei internacional” ou da “paz”. Esse retoque hipócrita de ideais abstratos não é hipocrisia de maneira alguma.
Antes fosse! São esses mesmos ideais abstratos que estão quebrando a banca – aqui e lá fora. Grandes interesses estratégicos são regularmente sacrificados em favor de partidos e movimentos de “inclinação e slogans liberais” [N.T.: “liberal” na acepção americana do termo, ou seja, de esquerda].
 
Considere, por exemplo, a “Primavera Árabe”, que atualmente veste a máscara liberal. Tudo é pago pela América a fim de beneficiar potenciais inimigos islâmicos cujos interesses materiais e estratégicos são antiéticos do ponto de vista americano.
 
Os Estados Unidos teriam muito mais dinheiro para se defender se a sobrevivência nacional importasse mais que ideais abstratos. Lamentavelmente, nosso prevalecente idealismo requer o empobrecimento e a destruição da América – assim como forçará a destruição das classes proprietárias.
E, quanto mais somos idealistas, mais nossas políticas serão necessariamente suicidas.
Na verdade, jamais deveríamos considerar as consequências de longo prazo da generosidade às pessoas erradas ou as consequências das reconstruções nacionais feitas onde forças nacionais destrutivas e as circunstâncias estão sempre destinadas a ter o poder.
 
“Provavelmente nenhuma outra nação”, escreveu Burnham, “tem sido tantas vezes ‘surpreendida’ por acontecimentos internacionais: surpreendida pelo fato de que Mao e Castro, no final das contas, eram comunistas [...] e que os seres humanos, como se fosse a maior surpresa de todas, agem como seres humanos”.
A coisa realmente torna-se perigosa, observou Burnham, quando essa habitual distração americana toma conta quando o assunto é a guerra. “Os Estados Unidos nunca estiveram preparados militarmente, politicamente ou psicologicamente para as suas guerras” escreveu Burnham.
Do mesmo modo, não estaremos preparados quando o Egito se aliar ao Irã em um conflito futuro; ou quando o Irã conduzir testes nucleares na cidade de Nova York.
 
Essa limitação no horizonte de visão está na estrutura dos americanos. Eles não têm olhos para o que está adiante. E isso se aplica, principalmente, à situação financeira americana.
 
Os americanos não veem a bancarrota que se aproxima. Se vissem, não teriam reeleito o atual presidente. Não estariam segurando dólares, mas migrando para o ouro e a prata. Então se deve perguntar o que essas pessoas farão quando chegar o momento de crise. Como eles irão lidar com o fim da prosperidade?
 
As pessoas fazem o que já está consolidado no hábito, isto é, se elas têm se iludido nos últimos cinquenta anos, elas continuarão a se iludir. Se elas acreditaram em slogans vazios, então há de se assumir que elas continuarão a acreditar em slogans vazios – independente de como ele esteja alterado segundo as necessidades do momento.
Os erros que causaram a bancarrota continuarão a prevalecer e continuarão a funcionar. Qual, pois, é o contra-argumento que tende a prevalecer e qual demagogo está disposto a arrumar o que está errado?
 
Por isso, a Força Aérea dos Estados Unidos terá menos aeronaves de combate “capaz de atingir os requerimentos para os tempos de guerra”. A América terá menos armas de todos os tipos e sua influência será anulada enquanto a Rússia e a China exercem seu domínio sobre a Europa, Ásia e África. Além do mais, as pensões e os benefícios sociais atuais serão descontinuados e os Estados Unidos sucumbirão a uma série de crises políticas. Esse é o derradeiro preço do idealismo abstrato da América. Conforme James Burnham nos alertou,

“a civilização ocidental não pode sobreviver persistentemente [...] sem os Estados Unidos. Tomo isso como algo muito óbvio nas discussões, pois se os Estados Unidos colapsarem ou forem reduzidos à insignificância, o colapso de todas as outras nações ocidentais não tardará a seguir o mesmo rumo...”

28 de fevereiro de 2013
 Jeffrey Nyquist
 Publicado no Financial Sense.

Tradução: Leonildo Trombela Júnior

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