"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



sexta-feira, 15 de março de 2013

CURRAIS CRIADOS PELA DITADURA AINDA ESTÃO AÍ, MAS NINGUÉM FALA EM REFORMA ELEITORAL

 

Graças à quebra da representatividade promovida pela ditadura civil-militar, os votos dos pequenos Estados valem três vezes mais que os dos grandes colégios eleitorais (São Paulo, Minas). Bom para que Dilma e Lula, aliados do coronelismo tardio dos grotões, "façam o diabo" nas eleições.
Coluna de Nelson Motta, no Globo, trata justamente desse tema:
 
Como disse a presidente Dilma, com conhecimento de causa, para ganhar eleições faz-se o diabo. Como fez o presidente Geisel, em 1977, editando o "Pacote de abril" para ajudar a Arena a ganhar as eleições legislativas. Entre outras leis e decretos para assegurar a maioria no Congresso, dava mais cadeiras de deputados aos estados menos populosos e mais pobres e atrasados, dominados pelo governismo e o coronelismo. Ganhou as eleições, mas até hoje o Brasil democrático perde com esse entulho autoritário.
 
O pretexto para o arbítrio era equilibrar as desigualdades regionais, como se mais deputados com menos votos pudessem dar mais ordem e progresso a Acre, Amapá, Roraima, Rondônia e Sergipe, onde cada voto passou a valer no Congresso três vezes mais do que os de Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro, distorcendo a representatividade, a federação e o princípio democrático de "um cidadão, um voto".
 
O analista político Fernando Rodrigues contabilizou: em 2010, os 48 deputados eleitos por esses estados privilegiados – que continuam entre os mais pobres e atrasados - tiveram, juntos, 1,8 milhão de votos. Já os 46 eleitos pelo Rio de Janeiro receberam 4,5 milhões de votos. Certos parágrafos valem por uma coluna inteira. Mas, além dos caciques regionais, como Sarney e Romero Jucá, quem defende a continuidade dessa partilha autoritária e casuística? Os partidos que hoje dominam esses grotões e não querem perder a vantagem que a ditadura lhes deu.
 
Todos concordam com a urgência de uma reforma eleitoral, mas ninguém fala nessa aberração, só em financiamento público, lista fechada, voto distrital, o que for mais vantajoso para o partido que propõe, e assim não se faz reforma alguma.
 
Mesmo na hora em que o pacto federativo é ameaçado pela guerra dos royalties do petróleo, pelos cortes de impostos que prejudicam os estados, pelos critérios de distribuição dos fundos constitucionais aos entes federativos, ninguém quer discutir as distorções dos colégios eleitorais. É incrível, mas o "Pacote de abril" continua em vigor, como uma diabrura da ditadura para ganhar as eleições.
 
15 de março de 2013
in orlando tambosi

Um comentário
Maria do Espírito Santo disse...
Não é preciso se fazer o diabo para ganhar as eleições atualmente, dona Dilma. O que é preciso é apenas alimentar o Exu, mantê-lo bem gordinho com ebós reinventados.

Durante a ditadura civil-militar houve a triplicação do poder de voto dos ditos cidadãos de estados federativos desvalidos. E até hoje este princípio nutritivo-eleitoreiro é mantido, além de ser adubado com algumas vitaminas e minerais antes inexistentes na dieta diabólica do período, tais como as bolsas família e as cotas universitárias raciais.

Agora, graças ao poder diabólico dos ingredientes demagógicos, o voto dos estados mais pobres continua valendo mais, e os mais pobres de todos os estados federativos passaram a valer mil vezes mais no mercado mega corruptível das eleições.

Afinal de contas, de que adianta a lei da Ficha Limpa se a Lei Eleitoral mantêm a velha estrutura arcaica do coronelismo vigente no nordeste do país nos anos 70?

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