"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



sexta-feira, 28 de junho de 2013

DILMA TENTA ESPERTAMENTE ASSUMIR A CARA DOS MANIFESTANTES


 
Você acredita mesmo, leitor, que as últimas manifestações de rua, até o presente instante, ainda não têm cara? Eu não acredito.
Pois a presidente Dilma, a partir do seu pronunciamento, na semana passada, e da sua proposta esperta de uma constituinte, na última segunda-feira, quer se apropriar delas para ser, de fato e de direito, a sua verdadeira, única e irretocável cara.
 
Reunida, fora de Brasília, com seus principais assessores, o ex-presidente Lula e seu marqueteiro, guru e vidente João Santana, que é, na realidade, seu quadragésimo ministro (só faltou o Ronaldo Nazário Fenômeno, o 41º ministro – da Copa –, que afirmou “que não se faz Copa com hospitais…”), a presidente, num golpe de mão, tenta agora ludibriar o povo e afastar de vez das suas funções exclusivas o nosso Congresso Nacional.

Registre-se que, em toda a história da República, nunca nenhum presidente, sobretudo em momento de crise aguda dos três Poderes, ausentou-se da sede do governo para pedir conselhos noutro Estado, precisamente em São Paulo, a um ex-presidente e a um marqueteiro e guru.
Veja então, leitor, a que ponto chegou a insegurança da presidente diante daquele que, segundo o ministro (e agente do próprio) Gilberto Carvalho, é o maior regra-três de que o país dispõe em seus quadros, caso algo de repente ocorra à titular.

A presidente, no seu pronunciamento da semana passada, quando elogiou o povo nas ruas, já dera demonstrações de que estava em andamento a manobra de apropriação sugerida pelos dois (ou três?) principais assessores. Só não perceberam a manobra os ilustres governadores e prefeitos convocados para uma reunião cuja pauta não lhes foi adiantada e cujas “propostas” ou “soluções” já haviam sido antecipadamente preparadas por ela. “Propostas” e “soluções”, diga-se de passagem, que não dependem dela, mas, sim, dos prefeitos e governadores. Incrível, não? Reuniões assim só existiram no passado, quando o governador nomeado pelo ditador Getúlio Vargas, Benedito Valadares, só convocava reunião com o assunto já resolvido…

Espera-se (atenção, governador Antonio Anastasia!) que governadores e prefeitos, decepcionados com a manobra de puro marketing político da presidente Dilma, depois de constatarem que só ela tirou proveito político/eleitoral da reunião de fachada que convocou, reajam realmente à altura da afronta de que foram vítimas.
Que nenhum se cale, como se calou o prefeito de Fortaleza, Roberto Cláudio (PSB), quando quis palpitar sobre a dificuldade de os prefeitos reduzirem as tarifas de ônibus: “Olhe aqui, meu filho, eu conheço muito bem todos esses números!”, disse-lhe a autoritária gestora Dilma.

Os cinco pactos propostos pela presidente – pela responsabilidade fiscal, pela reforma política, pela educação e saúde e pela mobilidade urbana – são bonitinhos, mas pouco inspirados ou ordinários na intenção.
O que se deseja, de fato, e nisso Dilma tem o apoio de José Dirceu e outros líderes petistas, é um plebiscito para se instalar, no país, o modelo chavista de governo, que já vigora na Bolívia, no Equador e, praticamente, na Argentina.

Sobre a falácia do plebiscito, o melhor pronunciamento, até agora, foi o do ex-ministro do Supremo Tribunal Federal Carlos Mário Velloso: “Acho que essa proposta não passa de uma medida para enganar a população que está nas ruas. Não seria necessária a constituinte para fazer reforma política. Isso pode ser feito por emenda constitucional ou lei. Aí, ficam jogando para o futuro”.

E afinal, presidente, quem vai segurar o bicho?

28 de junho de 2013
Acílio Lara Resende (O Tempo)

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