"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



sexta-feira, 9 de setembro de 2011

O CULTO AO 11/9

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O 11 de Setembro mudou o mundo, dizem os textos comemorativos dos dez anos do atentado. Sem querer atrapalhar a comemoração, vale perguntar:

Mudou para onde?


A humanidade ainda não absorveu o quadro bizarro dos aviões perfurando as Torres Gêmeas. E nunca absorverá.

O grau de absurdo e dor contido naquela cena é indigerível. Repeti-la milhões de vezes não é sadomasoquismo. É a busca inevitável (e vã) pelo sentido da monstruosidade.

Os homens civilizados não fazem questão de entender o absurdo, mas não abrem mão de explicá-lo.

O 11/9 mudou o mundo, inaugurou o novo milênio, acabou com o sonho americano, instaurou a era do medo etc etc etc. Bin Laden deve estar explodindo de orgulho no fundo do mar.

Mas, afinal, que mundo é esse criado por Bin Laden e referendado pela sociologia fast food do Ocidente?

Se Osama venceu, onde está a prometida escalada do terrorismo internacional? Onde está a epidemia de homens-bomba barbarizando Paris, Nova York, Los Angeles e outras metrópoles pacíficas? O que houve com a al-Qaeda, que faltou a três Copas do Mundo e duas Olimpíadas?

Os especialistas mais animados estão dizendo que a atual crise financeira dos EUA começou no 11 de Setembro. Ainda vão descobrir que Bin Laden maquiou o balanço do banco Lehman Brothers e engendrou a sua falência.

Atribuir a escalada do déficit público americano aos pilotos suicidas da al-Qaeda é uma acrobacia e tanto. Não estraguem a teoria emocionante lembrando que há décadas os EUA crescem se endividando cada vez mais.

Melhor culpar – ou condecorar – o Osama.

Dizem que os americanos se afundaram em gastos militares no Afeganistão e no Iraque depois do atentado de 2001. Claro que, numa hora dessas, ninguém vai lembrar os trilhões de dólares enterrados na Guerra Fria – quando os EUA se firmaram como potência hegemônica. Perde a graça.

O 11 de Setembro abalou a fé na civilização Ocidental e forjou uma geração amedrontada, analisam os categóricos do caos.

É mesmo estranha essa geração amedrontada, que sai às ruas livremente nas maiores cidades da Europa e das Américas para defender seus direitos políticos, estudantis ou sexuais.

Geração amedrontada que se conecta com o mundo como nenhuma outra, surfando nas maravilhas tecnológicas da comunicação em rede – nascida da civilização Ocidental, ou, mais precisamente, dos Estados Unidos da América.

Esse, sim, um novo horizonte sociológico, que explodiu no mesmo período do 11 de Setembro, e dez anos depois ajudou a derrubar ditaduras no Oriente Médio.

Mas há ocidentais que preferem ver a internet como arma de fortalecimento da al-Qaeda.

Só não se sabe exatamente onde essa organização tão poderosa e letal para o Ocidente está atuando, fora da sociologia fast food.

Talvez tenha virado acionista do MacDonalds.

Guilherme Fiuza

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