"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



quinta-feira, 24 de novembro de 2011

"A 'CUMPANHEIRA' ENDOIDOU"

Artigos - Desinformação

Parabéns, Mírian, você agiu com honestidade, esperamos que agüente o tranco.

“A ‘cumpanheira’ endoidou”. Esta é uma das versões que circula ou circulou entre a cúpula da subversão.

A outra é que a “cumpanheira” e jornalista Mírian Macedo, em decorrência das bárbaras torturas sofridas em 1973, teve uma repentina crise de amnésia.

A torturada, inexplicavelmente, não se recorda dos estupros, das tapas, dos chutes e dos choques elétricos que lhes foram aplicados pelos agentes da repressão.

A sua declaração circula pela internet, no seu blog, confessando que mentiu, descaradamente, por 30 anos ao alegar que havia sido torturada pela repressão.

Seu desabafo, de 05 de junho de 2011, somente agora teve a devida repercussão. Mas, tal qual a sua revelação, a confissão surge como um grito, e a sua ampla divulgação cinco meses depois, ainda é oportuna.

Sim, antes tarde do que nunca, diria um esperançoso na recuperação do gênero humano.
Podemos creditar o desabafo, inoportuno para a Comissão da Verdade, como o peso de uma consciência, que sobrecarregada pelos anos e pelas falsas acusações que acobertara em seu íntimo, resolveu dar o seu brado de basta e lá foi a torturada jornalista livrar-se daquela pesada carga.

Parabéns, Mírian, você agiu com honestidade, esperamos que agüente o tranco.

Agradecemos o seu desafogo, embora na certeza de que ele de nada servirá.

A Comissão, não terá peito de chamá-la quanto ao outro lado, que legalmente não existe, não irá utilizar sua confissão para contrapor-se aos subversivos e comparsas.

Estamos certos de que você, após tantos anos carregando esta grande mentira, deve estar aliviada, satisfeita com a sua nobre e corajosa atitude.

Felizmente, acreditamos que você, finalmente, teve a paz que merece, mas não se esqueça, ainda custará caro, pois muitos irão acusá-la e perseguí-la.

Você, quando jovem, meteu-se no ninho de cobras que eram os escolados e tarimbados comunistas, que facilmente enrolavam os jovens, mormente estudantes.

Muitos deles foram presos, e todos tinham a orientação, de quando soltos, alegarem que sofreram terríveis torturas.

Infeliz ou felizmente, sua desdita tem sido a de carregar o ônus deste desabafo, sofrer o repúdio de velhos cumpanheiros mas como consolo, os tribunais revolucionários de antanho estão no ostracismo, e você não deverá ser vítima de nenhum justiçamento, como o foram, entre outros, assassinados pelos cumpanheiros de luta, o Geraldo Ferreira Damasceno, em 29 de maio de 1969 nem o Marcio Leite Toledo, em 23 de maio de 1971.

Prezada Mírian, suas palavras servem de consolo, sublinham a cretinice que será a busca da verdade num lodaçal de mentiras e interesses; poderão ensimesmar mentes, mas não impedirão que a roda da patifaria siga em frente, como se nada tivesse acontecido.

E assim, graças à sua consciência, um felizardo escapou da acusação de ter torturado você.

E como disse o cretino, mais vale uma mentira na mão do que duas verdades voando.

Brasília, DF, 18 de novembro de 2011
Valmir Fonseca Azevedo Pereira é general de brigada (reformado).

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