"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

A DOR DE SER PETISTA

Como já escrevi, o Glauco Fonseca não é jornalista, mas sabe escrever como poucos.
Publico sempre os textos dele, porque são perfeitos - isso não significa que concordo com tudo.
Assim como tenho muitos leitores que não concordam com o que escrevo, mas gostam da forma, por aí..
O Glauco é uma figura. O título é dele e o texto abaixo da sua lavra. 10!!

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No fundo, o bom petista é aquele que vê seus pares navegando na sacanagem e pensa: “cara, seria bom esse cara sair do partido, pois não foi pra isto que eu me tornei petista”. Desde o Mensalão (hoje um substantivo próprio, com direito à maiúscula no início e tudo), as bandeiras tremulam pouco ou quase não mais.
Esta falta de bandeiras na rua, de adesivos nos carros, de camisetas e outros adereços é a melhor parte da demonstração do constrangimento petista. E isto mostra, ao contrário do que se pode pensar, que o partido tem – sim – futuro.

Não obstante o Mensalão, que caminha solene para sua extinção jurídica, graças à justiça brasileira falha e lenta (esta sim, a maior responsável pelas mazelas do país), os petistas abrem os jornais e lá estão seus eleitos envolvidos em algum escândalo, alguma falcatrua, algum “malfeito”, o mesmo que “crime não contabilizado” em dialeto petista.
Não deve ser fácil, não deve ser nada confortável ser petista nos últimos seis anos. Mas o pior ainda nem é isso.

O mais constrangedor, o mais dramático, é conversar com um petista e observá-lo tentando defender seus representantes. Tentam sem parar, de modo patético, defender um Pimentel, um Palocci, um José Dirceu.
E isto os faz diferentes de outros partidários. Os pedetistas, por exemplo, foram defender seu Carlos Lupi, mas não foram fazê-lo correndo ou incondicionalmente. Alguns até mesmo disseram que ele deveria sair do governo.
Pergunte a um petista, apenas para fins de constatação sociológica, se ele acha que Pimentel deveria sair do Ministério.
Ele, em primeiro lugar, vai alegar perseguições da mídia conservadora. Em seguida, vai lembrar-se de algum ministro de priscas eras FHCianas para tentar não apenas comparar, mas sobretudo para justificar o “malfeito” por parte de seus partidários. Por fim, já sem argumentos, preferirá, solenemente, outro assunto que não política. Música, talvez, ou rendas de bilro.

Hoje em dia, não é fácil defender as esquerdas brasileiras. Se antes havia a dor e a delícia de ser de esquerda, agora a dor fica por conta do eleitor. A delícia virou privilégio dos eleitos, que multiplicam patrimônio escandalosamente, fazendo consultorias milionárias (ou “fortunas não contabilizadas”, em dialeto petista).

Até mesmo a cantilena que aponta para a mídia má e conservadora não dá mais para comprar. E aqui vai algo para os petistas pensarem, pra eles refletirem.
Aí vai:
amigos petistas, se a mídia realmente funcionasse do jeito que vocês pensam, Lula teria sido reeleito depois do Mensalão?

Se a mídia realmente tivesse a efetividade tão desejada, vocês realmente acreditam que Fernando Haddad, depois de três burradas seguidas com o ENEM, poderia ainda ter chances na disputa para a prefeitura de São Paulo?

E, por fim, vocês acham que, depois de tanto escândalo, se a mídia fosse algo assim tão forte, o PT ainda existiria?

Não deve ser fácil ser petista, comunista, trotskista ou coisa do gênero nos dias de hoje.

Mas ainda existem pessoas de bem que fazem a diferença. Pessoas que fazem suas revoluções diárias, internas e silenciosas. Na esquerda também há estas pessoas.

E elas hão de prevalecer, um dia, para bem de seus partidos, da democracia e do Brasil.

José Luiz Prévidi

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