"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

JOSÉ SERRA, O ANTIQUADO

Artigos - Movimento Revolucionário
Com que autoridade um socialista fala contra a carga tributária elevada? Se o PSDB a elevou brutalmente? Se o próprio José Serra é um crente na função distribuidora de renda do Estado?

O artigo de hoje (12) de José Serra, ‘A nova vanguarda do atraso’, publicado no Estadão, revela porque ele perdeu as eleições e porque seu partido deixou de ser uma alternativa política e eleitoral para os brasileiros.
José Serra continua escravo das velhas e ultrapassadas idéias cepalinas e quer com elas construir um discurso oposicionista, supostamente técnico, contra o que chama de lulopetismo.
Serra quer ser a esquerda da esquerda, enquanto que a esquerda o enxerga como a direita da esquerda, por força das administrações do seu partido.

Desde logo digo que o único discurso capaz de tirar o PT do poder é o conservador, na linha do Partido Popular da Espanha ou do Partido Republicano dos EUA.

É o tempo de caminhar para a direita. Sobretudo no Brasil, onde o campo esquerdista está completamente congestionado. Até o Guilherme Afif Domingos entrou na canoa que apóia o PT. A bandeira conservadora está sem dono e sem mestre. E ela aponta para o futuro.

No artigo, José Serra insiste no discurso técnico-econômico, quando o que se sobressai diante do eleitorado órfão é o discurso na esfera dos valores. É a bandeira dos costumes que pesa, o combate à tese do aborto, a defesa franca dos valores cristãos, uma consistente defesa da minarquia, o cultivo da sociedade aberta e livre das amarras estatais.
Mas tudo isso soaria falso em José Serra. No artigo, até que ele ensaiou ir contra a carga tributária exorbitante paga pela indústria, a seu ver "elevada e distorcida". Com que autoridade um socialista fala contra a carga tributária elevada? Se o PSDB a elevou brutalmente? Se o próprio José Serra é um crente na função distribuidora de renda do Estado?

Essas palavras soam falsas e oportunistas. Seria diferente se o próprio José Serra viesse a público fazer um profissão de fé na economia liberal. No fundo, o artigo não propõe uma redução geral na carga tributária, mas um alívio na indústria, automaticamente elevando-se em outro setores. Isso é aumentar as distorções. O que encantaria o eleitorado é a redução geral na carga tributária, não esse artificialismo que propõe.

José Serra tem o apego cepalino à indústria de transformação, herdada do Partido Comunista Brasileiro. Ora, depois da revolução da informática e das telecomunicações esse discurso, já velho nos anos 50, hoje padece de decrepitude.
Uma velharia digna de um museu de paleontologia. Se tem algum apelo emocional para os integrantes da sua geração, para as novas ele não faz sentido algum.
Estamos na era dos serviços, que veio para ficar. Vimos o que houve nas últimas décadas: os países desenvolvidos enviaram suas indústrias para a China e mesmo o Brasil fez isso, está fazendo isso. O que agrega valor são os serviços. Ademais, com a carga tributária e a legislação trabalhista estúpida que por aqui temos, mais e mais indústrias serão reinstaladas na China.

A pobreza teórica do Serra é consoante sua proposição política indigente. Basta ler o seguinte trecho:

"Ao se desindustrializar, o País está perdendo a sua maior conquista econômica do século 20. Estamos a regredir bravamente à economia primário-exportadora do século 19; a médio e a longo prazos, esse modelo é vulnerável no seu dinamismo, por ser muito dependente do centro (hoje asiático) da economia mundial. Os países com desenvolvimento brilhante têm sido puxados pela indústria, setor que é o lugar geométrico do progresso tecnológico e da geração dos melhores empregos em relação à média da economia".

Uma ova: o Brasil perderia se os serviços estivessem estagnados, mas não estão. Esse é um dos fatores legitimadores do PT, que não se colocou no caminho da corrente principal do processo econômico. Por não atrapalhar, ele se legitima.

José Serra, com suas idéias antiquadas, se chegar ao poder pode inaugurar um período obscurantista de intervenção estatal. E quer justificar essa indigência como se portasse uma teoria superior. O que ele tem, na verdade, é velharia que já nasceu velha, extemporânea, quando Celso Furtado a trouxe ao mundo. Mais extemporânea ainda nos dias de hoje. José Serra não serve nem para posar de esquerdista.

Nivaldo Cordeiro, 13 Janeiro 2012

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