"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

UM NOVO OLHAR SOBRE A CULTURA BIZANTINA

Exposição no Metropolitan Museum of Art, em Nova York, apresenta relação de Bizâncio com o islã

Para a mente moderna, o mundo de Bizâncio é, ao mesmo tempo, fascinante, perturbador e intrigante. O Império Romano do Oriente e a cultura gerada a partir dele foram uma poderosa presença na história global por mais de mil anos, entre os século IV e XV. Mesmo em seu período final, quando o poder político do Império Bizantino se desintegrou e seu território foi reduzido a um pequeno pedaço de terra na interseção entre Ásia e Europa, a influência cultural de seus artistas, arquitetos e artesãos permaneceu intacta.

Exposições com temas bizantinos tendem a ser imensamente populares. Há algo nos mosaicos, ícones, gravuras em madeira e tecelagens que despertam a imaginação de pessoas que, normalmente teriam pouco interesse nas sutis disputas teológicas e intrigas mortais dos palácios envolvendo imperadores com nomes semelhantes. Multidões compareceram à exposição na London Royal’s Academy em 2008 e 2009, e às maravilhosas exposições bizantinas no Metropolitan Museum de Nova York ao longo dos anos. A próxima exposição do Met sobre Bizâncio e o islã – uma escolha temática um tanto ousada – certamente causará sensações semelhantes quando estrear no dia 14 de março.

Mas para aqueles dedicados aos estudos bizantinos – professores, estudantes, curadores e conservadores que devotam suas vidas ao tema – há pouco tempo a ser perdido celebrando a glória das exposições. A comunidade global dos bizantinistas é grande, diversa e polêmica. Eles vêm de locais esperados – a Grécia, os Bálcãs, a Rússia, a Geórgia – e de outros, inesperados, como o Japão, a Argentina, o Brasil e até mesmo, o Tajiquistão. As grandes universidades da América do Norte e da Europa Ocidental marcam forte presença. De cinco em cinco anos, cerca de mil desses especialistas se reúnem em alguma cidade compartilhando suas pesquisas mais recentes, criando redes de estudos, e talvez, conspirando. Esses encontros são uma grande oportunidade para apresentar exposições, concertos e palestras, e a competição para sediá-los pode ser um tanto acirrada.

Londres foi a sede em 2006, e em agosto do ano passado foi a vez de Sófia, na Bulgária. Qual será a próxima cidade? A comunidade de especialistas bizantinos na Turquia tinha esperanças de que Belgrado sediasse o evento em 2016, e ficou enormemente frustrada quando, no último congresso, os participantes decidiram se reunir novamente em Belgrado.

Judith Herrin, presidente britânica da Associação Internacional de Estudos Bizantinos (AIEB) se demitiu em sinal de protesto. Ela afirma que a votação não foi válida, porque apenas umas poucas delegações nacionais estavam presentes. Muitos afirmam que um congresso em Israel traria reconhecimento ao fértil campo dos estudos bizantinos na Turquia, onde doadores privados como a Koc Foundation estão despejando fundos para conservação e pesquisa. Essa é uma boa notícia já que o país foi, por muito tempo, acusado de neglicenciar e saquear o legado das civilizações gregas e cristãs que um dia prosperaram em seu solo.

Com a comunidade acadêmica bizantina tumultuada, a AIEB realizou uma reunião no último dia 11 para escolher o substituto de Herrin. Muitos encararam como um bom sinal o fato do processo contar com uma votação aberta. Johannes Koder, um professor da Universidade de Viena, derrotou Michel Kaplan, um francês e ex-presidente da Universidade de Paris. Koder se apressou em pedir a seus colegas bizantinistas que evitassem a complacência ou a introspecção: as falhas que levaram o Império Bizantino ao colapso.

Apesar de todo o glamour das exposições em locais repletos de prestígio, o campo enfrenta sérios problemas desde os anos 1980, diz Koder. Na maioria dos países ocidentais, o número de alunos de grego e latim nas escolas e universidades despencou. Para que a bizantinologia possa sobreviver, Koder crê que ela deverá ser melhor integrada ao campo mais amplo de estudos mediterrâneos, para ilustrar a relação entre Bizâncio e o crescimento do islã e, posteriormente, da Europa Renascentista. Talvez o primeiro passo nessa direção seja a próxima exposição do Met que se concentrará nos primeiros séculos muçulmanos: uma época em que, entre suas muitas batalhas, bizantinos e muçulmanos trocavam técnicas artísticas.

21/02/2012
opinião e notícia

Nenhum comentário:

Postar um comentário