"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



terça-feira, 17 de abril de 2012

MENSALÃO - ASSIM NÃO, MINISTRO MARCO AURÉLIO !!!

Ou: A linguagem que serve aos mensaleiros


É… As palavras fazem sentido, né? E também podem falar nas entrelinhas. Então vamos ver. Leio na coluna de Mônica Bergamo, na Folha, estas três notas (os vermelhitos são meus). Volto em seguida.

VOZ DISSONANTE
Mais divergências no STF (Supremo Tribunal Federal) em relação ao mensalão: o ministro Marco Aurélio Mello diz que é “terminantemente contra” a convocação da corte em julho apenas para apressar o andamento do processo, como defendem alguns de seus colegas. “Entre as coisas extravagantes que tenho visto, esta é a maior de todas”, diz ele.

CRAVO
Mello diz que o mensalão “é um processo como outros 700 que temos que apreciar. Por que pinçar este para julgar a toque de caixa?”. Ele diz que o STF não deve “ceder à turba, que quer justiçamento, e muito menos à pressão política”, que tenta adiar o julgamento.

FERRADURA
Neste sentido, ele refuta os argumentos que atrasariam o caso. Entre eles, o de que o mensalão não deve ser julgado no segundo semestre, no meio das eleições. “E eu com isso? Não estamos engajados em política partidária.” O fato de que o STF terá apenas dez ministros, já que Cezar Peluso vai se aposentar, também não seria impedimento. “Em caso de empate, o voto do presidente conta duas vezes.”

VolteiEm primeiro lugar, pergunto o que quer dizer “apenas para apressar o andamento do processo”, como se lê no texto. “Apressar”??? A denúncia de Roberto Jefferson completa seis anos em junho. Depois dela, já houve duas eleições presidenciais, e o mesmo partido que protagonizou o mensalão tentou armar dois dossiês fajutos contra adversários (sem contar aquele contra FHC na Casa Civil) — na verdade, contra o mesmo adversário: José Serra. “Apenas para apressar”, como está na redação da nota, quer dizer exatamente o quê?

Agora vamos a Marco Aurélio. O ministro é, sem dúvida, um homem preparado, mas parece ter desenvolvido o gosto de falar “pour épater le bon sens”, para escandalizar o bom senso, na melhor das hipóteses. Então o mensalão é um “processo como outro qualquer”? Eu diria, infelizmente, que essa afirmação já corresponde a uma primeira forma, ainda que branda e oblíqua, de diminuir a gravidade daqueles episódios. Não é, não, ministro! Em certa medida, essa é a tese do PT: “Agimos como agiram outros quaisquer”. É mentira!

Uma quadrilha formada para assaltar os cofres públicos e para comprar votos no Congresso, de maneira sistemática, organizada pelo próprio aparelho de estado, era e é coisa inédita no país, não importam quantas falcatruas tenha havido antes ou depois.
Eu também acho que o STF não deve, como regra, “ceder à turba que quer justiçamento”. Mas cadê “a turba”, ministro? Onde está ela? A única turba que atua, no caso do mensalão, é a canalha vendida do subjornalismo, regiamente paga com dinheiro público — ou da administração direta ou das estatais.

Caso nada aconteça até setembro, Cezar Peluso deixa o tribunal, dando início ao sempre complicado e longo processo de indicação de um novo nome. Em novembro, será a vez de Ayres Britto. É evidente que os novos indicados, por mais competentes que fossem, não teriam a devida intimidade com o processo.

Nessas três notas, há, infelizmente, de forma voluntária ou não — não julgo intenções —, muito mais lobby em favor dos mensaleiros do que parece. Ninguém estará “apressando” nada. É uma vergonha para a justiça brasileira que um processo como esse se prolongue por tanto tempo. Não há justiçamento nenhum — ao contrário: foi garantido o mais amplo e irrestrito direito de defesa. Tampouco há “turba” nas ruas — a menos que o ministro Marco Aurélio diga onde ela está. Se há algo parecido, os “barulhentos” a soldo estão na rede. Em suma: a defesa do roubo do dinheiro público é financiada pelo… dinheiro público!

EncerroToda essa conversa só existe porque, no fim da contas, até agora, Ricardo Lewandowski não cumpriu a sua parte e não entregou o trabalho que cabe ao revisor do processo. Por que não entrega? Ninguém sabe ao certo. Nenhuma resposta possível para essa pergunta é boa.

Por Reinaldo Azevedo
17 de abril de 2012

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