"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



quinta-feira, 3 de maio de 2012

HISTÓRIAS DO JORNALISTA SEBASTIÃO NERY

NÃO RESPEITARAM NEM O PESCOÇO DE TIRADENTES


Augusto de Lima Junior, romancista, historiador, filho de Avenida em Belo Horizonte (o pai, Augusto de Lima, poeta e governador, foi um dos patriarcas mineiros) e avô do jornalista Aristóteles Drummond, criou a Medalha da Inconfidência quando Juscelino era governador e o nomeou Chanceler Perpétuo.
O governador só dava a medalha a quem Lima Junior aprovava. Bias Fortes chegou ao governo e, no primeiro 21 de abril, queria dar a medalha de Tiradentes à sogra. Liminha protestou, não adiantou nada. Bias assinou o ato. Liminha pediu demissão e, no dia seguinte, o “Estado de Minas” publicou longa carta do Chanceler demissionário, com o título: – Parir mulher de governador não dá direito à medalha.


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JUSCELINO


Juscelino, governador, no fim de 54, saiu candidato a presidente pelo PSD de Minas, contra a opinião e o voto de Benedito Valadares, chefão do partido, que, no entanto, na convenção nacional do começo de 55, o apoiou.
Mas a UDN continuou atiçando o golpismo do então presidente Café Filho, que, em nome das Forças Armadas, vetava a candidatura de Juscelino, para arranjar um “candidato de união nacional”, que podia ser qualquer um, menos JK. Benedito chamou a seu apartamento, na Rua Raul Pompéia, em Copacabana, o ex-secretário de Juscelino e deputado eleito Olavo Drummond:
- Olavo, você precisa falar para o Juscelino desistir.
- Desistir, como, senador? O povo vai elegê-lo, vai ser o presidente.
- Olavo, já não aguento mais tanto boato. Cada um que telefona conta coisas piores. Vai acabar acontecendo um golpe, e é mais razoável desistir logo. Tem alguém que toca corneta lá embaixo, na rua, toda hora. Me dá susto.
- Ora, senador, é um menino aprendendo tocar corneta.
- Ainda bem. Mas o Juscelino está com mania de ser Tiradentes com o pescoço da gente.


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TIRADENTES


A Medalha da Inconfidência é uma homenagem ao pescoço de Tiradentes, que se imolou porque tinha caráter e não afrouxou como alguns do grupo que com ele conspirava contra a extorsiva cobrança do imposto sobre o ouro (como os impostos e juros de hoje), e pela conquista da Independência. Não negou sua participação, não delatou ninguém, foi enforcado e retalhado.
Em 21 de abril de 2005, em Ouro Preto, mais uma vez o governo de Minas homenageou pessoas com a Medalha da Inconfidência, criada por Augusto de Lima Junior.
E o governador Aécio Neves distribuiu exatamente 247 medalhas. Foi um amedalhamento geral. Inacreditável.
Certamente muitos, talvez a maioria dos amedalhados, devia merecer a homenagem. Mas 247 é evidentemente demais. Não há critério que justifique uma farra dessas à custa do pescoço do maior herói nacional. E, por que, do governo, exatamente o Antonio Palocci, símbolo da traição de Lula, em cujo pescoço febrabânico ficaria bem melhor a medalha de Silvério dos Reis?
Respeito é bom e o nosso herói Tiradentes merece.

03 de maio de 2012
Sebastião Nery

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