"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



quinta-feira, 3 de maio de 2012

RESSOAM OS TAMBORES DE GÜNTER GRASS

grass
The only surprising thing about the anti-Semitic “poem” that Günter Grass published last week, and that has created an international firestorm, is that he waited so long to write such a thing. Anti-Semitism, after all, is all the rage these days among left-wing European literary intellectuals (excuse the multiple redundancy), and Grass has always prided himself on being in the forefront of these trends, not being a Johann-come-lately.

Bruce Bawer, na Front Page Magazine



Günter Grass se transformou do dia para a noite no enfant gâté dos neonazistas, da ‘intelectualidade’ antissemita e dos jihadistas de todo mundo por ter declarado que Israel é uma maior ameaça à paz do que o Irã. Bawer tem razão quando diz que única coisa surpreendente é que tenha esperado tanto tempo para fazê-lo, pois segundo o próprio Günter:
Why do I stay silent, conceal for too long (Por que silenciei e escondi por tanto tempo?)

Após dizer que somente existem ‘suspeitas’ de o Irã estar construindo um artefato nuclear, silenciando sobre as óbvias ameaças de Ahmadinedjad de arrasar Israel, pergunta:

Yet why do I forbid myself
To name that other country
In which, for years, even if secretly,
There has been a growing nuclear potential at hand

But beyond control, because no inspection is available?

(No entanto, por que proibi a mim mesmo de nomear aquele outro país, no qual, há anos, ainda que secretamente, vem crescendo um potencial nuclear já disponível, mas sem controle porque não se pode inspecionar?).

Já aqui, sem que Israel jamais tenha ameaçado outro país de extermínio, pelo contrário, apenas se defende de inimigos ferozes, ele afirma a existência ameaçadora de potencial nuclear já disponível. Esta inversão já está presente na estrofe anterior em que coloca o Irã como possível vítima de aniquilação pelo suposto direito de Israel a um first strike.

Como não poderia deixar de ser, diz adiante que uma das razões de ter calado é porque, sendo alemão, temia ser tachado de antissemita. A seguir informa que não mais se calará porque está cansado da hipocrisia do Ocidente e porque sua atitude libertará muitos do silêncio em que têm se mantido, numa clara admissão de que deseja rufar tambores de lata (Tin Drum) para arregimentar adeptos contra os “criminosos perpetradores do perigo” e que “obriguem-nos a renunciar à violência”. É como se dissesse: "levantem-se, falem, ataquem Israel, obriguem-no a renunciar a se defender, façam como eu fiz quando membro das Waffen-SS (10th SS Panzer Division Frundsberg) ao atacar judeus indefesos. Tornem a estes de agora também indefesos e vulneráveis".

And granted: I am silent no longer
Because I am tired of the hypocrisy
Of the West in addition to which it is to be hoped
That this will free many silence,
That they may prompt the perpetrator of the recognized danger
To renounce violence


Numa entrevista ao Der Spiegel em 2001, Grass se referiu ao conflito israelo-palestino, dizendo: ‘Israel não somente deve se mudar das áreas ocupadas. A apropriação dos territórios palestinos e os assentamentos constituem uma atividade criminosa. Não apenas deve ser paralisado como revertido. De outro modo não haverá paz’.

Já conseguiu as adesões entusiásticas de praxe entre ‘literatos’ judeus judeófobos: Noam Chomsky e Moshe Zimmerman. Logo atenderão ao chamado outros ‘literatos’ Nobéis como Harold Pinter, José Saramago e outros. (Uma lista de literatos judeofóbicos de todos os tempos é fornecida por Giulio Meotti em Günter Grass "Trifles for a Massacre", acrescentando:

‘Apaziguando o Irã, espalhando o antissionismo e atenuando o ódio islâmico, os escritores ocidentais estão pedindo outra “libra de carne” (1). Será a última!’

Não se pode dizer que Günter não conheceu o nazismo dos dois lados: um tio seu, Franciszek Krause, funcionário dos correios em Danzig (hoje Gdánsk), foi violentamente assassinado por um Einzatskommando quando da invasão nazista em sua terra natal.
Os poloneses defendiam o Posto dos Correios; onze morreram queimados e 28 foram fuzilados. Talvez seja difícil explicar porque tendo um, ou talvez mais membros de sua família, dizimados pelos nazistas, Günter aderiu aos assassinos. Better stay silent, Herr Grass?

Num momento em que ataques antissemitas recrudescem na Europa, a eugenia volta à moda : no Brasil com o aborto de anencéfalos e sabe-se lá o que virá por aí; nos EUA a PepsiCo contrata uma empresa, a Senomix (2) que faz pesquisa de adoçantes com restos de fetos abortados; na Holanda, a eutanásia pode ser cometida sem autorização da vítima. E ressoam os tambores neonazistas. É bom os judeus se cuidarem.
Em bom português: em rio de piranha jacaré nada de costas!

Notas:

(1) - Alusão à peça O Mercador de Veneza, de Shakespeare.
(2) - Ver o artigo Doce canibalismo.

Publicado no jornal Visão Judaica, de Curitiba.

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