"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



terça-feira, 15 de maio de 2012

HISTÓRIAS DO JORNALISTA SEBASTIÃO NERY


MORRENDO PELA GOELA

Cassado, derrubado do governo de São Paulo por Castelo Branco em junho de 66, praticamente exilado, vivendo na Europa com sua peruca acaju e sem a histórica barriga, já muito magro e triste, Ademar de Barros zanzava, uma tarde, pelo aeroporto de Paris, esperando um avião para a Suíça. Um jornalista brasileiro o reconheceu, foi conversar com ele.
Ademar ficou na maior alegria de poder falar do Brasil e do golpe de 64, que ajudou a dar, longe do País, sem o SNI estar ouvindo. O jornalista lhe perguntou se ele ajudaria novamente militares e empresários a darem o golpe. Ademar passou a mão na barriga já murcha e falou com sua voz anasalada:
- Meu filho, a revolução de 64 foi o maior conto do vigário em que me meti na minha vida.
A história é impecável. Quem faz política com a boca na gamela um dia morre pela goela.

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BARRADO NO BARCO

Quando o presidente Jimmy Carter veio ao Brasil, e de Brasília viria ao Rio, o Itamaraty lembrou-se de que era uma boa levar o presidente a um passeio pela Baía de Guanabara.
O homem já tinha chegado a Brasília, era preciso correr nas providências. Telefonaram para Francisco (Chico) Guise, que tinha um belo barco. O telefone estava quebrado.
Lembraram-se do poderoso barco do empresário imobiliário Sérgio Dourado, que emprestou. Carter chegou. Na hora de o barco sair, aparece apressado um senhor todo elegante e sorridente:
- Com licença.

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SÉRGIO DOURADO

Um segurança de Carter, armário com dois metros de largura, barrou:
- O senhor é convidado? Aqui só entra convidado.
- E o dono, entra?
- Dono de quê?
- Do barco. Sou o dono do barco. Este barco é meu.
O segurança não entendeu nada. Foi lá dentro, conversou. Como é que puseram o presidente em um barco sem o dono saber? Voltou. Carter, pessoalmente, deu ordem para que Sérgio Dourado entrasse.
Daí a pouco, esquema montado, aparece o fotógrafo de Sérgio Dourado, que documentou o longo abraço imobiliário dos dois. Dourado também tinha goela grande.

15 de maio de 2012
Sebastião Nery

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