"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



quinta-feira, 7 de junho de 2012

O DINHEIRO DE GETÚLIO

 
Seu Calazans, dono do hotel Calazans, era o homem mais rico de Penedo, em Alagoas. Na campanha eleitoral de 1950, Getúlio ficou hospedado lá. Depois do comício, o povo queria chegar perto dele, falar com ele, pedir dinheiro.
O senador Hidelbrando Falcão, chefe político de Penedo, resolveu afastar o povo dali, para Getúlio poder dormir:
- Minha gente, o doutor Getúlio está muito cansado. A campanha exige muito dele, precisa repousar. E não está direito vocês pedirem dinheiro a ele. Fiquem tranqüilos que amanhã, logo que ele viajar, Seu Calazans distribuirá um dinheiro que ele vai deixar para vocês.
Uma semana depois, Seu Calazans teve vir passar uma temporada em Maceió.
Ninguém conseguiu convencer o povo de que ele não tinha ficado com o dinheiro que Getúlio tinha deixado para ele distribuir.

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PESQUISAS E TVS

O Congresso e a Justiça Eleitoral fizeram uma reforma eleitoral fajuta, alegando que era preciso diminuir o custo das campanhas. Na verdade, o que fizeram foi tomar do povo o pouco que seria gasto com ele e entregar as campanhas aos institutos de pesquisas, às televisões e às empresas de aluguel de automóveis.
Mataram os comícios e, com eles, acabaram com os cantores e bandas animadores de comícios, acabaram com os foguetes dos comícios, acabaram com as festas populares dos comícios, as quermesses dos comícios, as comidilhas dos comícios, as camisetas e bonés dos comícios. E sobretudo acabaram com os discursos e apartes dos bêbados de comícios.
E concentraram as campanhas nas televisões, nas pesquisas compradas pelas televisões e nas carreatas de centenas de automóveis. Ficou tudo mais caro, muitíssimo mais caro. E sem que os candidatos tenham, como reunir o povo para falar com ele, discutir coisas e programas.

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CHURRASCARIA

Quanto milhões escondidos custam os “acordos” das televisões com os institutos de pesquisas? Há candidatos atrás desses misteriosos “acordos”? Quem tem “bala” se arranja e negocia. Quem não tem se isola e se ferra. Durante a campanha, as televisões, sobretudo a Globo, é que apresentam a churrascaria eleitoral.
São rodízios de pesquisas, em todos os jornais de televisão, que no dia seguinte viram manchetes em todos os jornais.
Esse rodízio de pesquisas é tramado, montado e financiado exatamente para dar ao povo a impressão de que a eleição já está decidida desde o início da campanha.

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CADASTRO

Há alguns anos, descobri em Alagoas o resultado mais gritante e criminoso dessa “reforma eleitoral” feita pelo Congresso e a Justiça Eleitoral. É o “cadastro”. Você sabe o que é o “cadastro”? Já tinha ouvido falar no “cadastro”? Eu nunca. Em Alagoas ficou comum como pão de padaria.
O cabo eleitoral, qualquer que ele seja, do mais poderoso ao de esquina, faz um caderno com os nomes dos eleitores que controla ou diz controlar, com endereço, local de trabalho, número da carteira de identidade e, sobretudo, do título de eleitor, e vende ao candidato.
O candidato compra, paga e recebe um documento garantindo que os votos vão sair.
A batalha pela pureza do voto e pela transparência das eleições é uma guerra fundamental da democracia brasileira. Enquanto o dinheiro não deixar de comprar eleição, não teremos democracia assegurada.

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