"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



domingo, 5 de agosto de 2012

A DOUTORA DILMA DETONOU O MENSALÃO 2.0

A trama do mensalão tem um aspecto raramente mencionado. Quem entraria com o paganini? O comissariado pedia dinheiro a Delúbio Soares, ele repassava a demanda a Marcos Valério, que, por sua vez, tomava empréstimos nos bancos Rural e BMG.

Na sua conta, o PT deve-lhe R$ 100 milhões. Certo mesmo, é que ele deve R$ 83 milhões. Tudo bem, mas quem quitaria essas dívidas?

Em outubro de 2003, Delúbio Soares estava no esplendor de sua fama. A essa época, batalhava o encerramento da liquidação do Banco Econômico, fechado durante o governo de Fernando Henrique Cardoso.

Litigando com o Banco Central, Ângelo Calmon de Sá. O ex-dono do Econômico sustentava que tinha créditos de R$ 6,3 bilhões, suficientes para quitar seus débitos. O BC sustentava que esses créditos não valiam, e seu presidente, Henrique Meirelles, blindou-se, mesmo quando foi pressionado por parlamentares petistas.

Se abrissem o cofre, todas as instituições interessadas poderiam reivindicar até R$ 40 bilhões. Diante de semelhante ervanário, os R$ 100 milhões devidos pelo comissariado seriam gorjeta.

O repórter Fernando Rodrigues revelou que Marcos Valério relembrou a Delúbio seu interesse no caso do Econômico durante um encontro, às vésperas de seu depoimento ao Ministério Público. Tipo “me ajuda se não eu falo”. Prometeram-lhe apoio, mas deixaram-no na estrada. Ainda bem.

Passou o tempo, e, enquanto se discutia sobre o velho escândalo, a manobra reapareceu, mansinha. A ressurreição dos créditos foi contrabandeada na Medida Provisória 17, também conhecida como “MP Frankenstein” porque nela havia de tudo. Aprovada pelo Congresso, teve pareceres contrários da advocacia do Banco Central.

Os patrocinadores de Marcos Valério mobilizaram-se, jogando pesado, sob a liderança dos controladores do falecido Banco Nacional e o socorro da elite operacional do PMDB. Sinal dos tempos, tentaram dobrar o BC, mas não bateram à porta do Planalto.

Em junho de 2011, a doutora Dilma vetou o dispositivo que permitia o arranjo. Ela sabia de tudo, de todos, há tempo.

O episódio perdeu-se nos silêncios que cimentam a unidade da base aliada. Quem dançou não reclamou, e quem prevaleceu calou-se.

Se, em 2003, o doutor Delúbio Soares tivesse sido avisado de que a manobra do resgate dos bancos quebrados não teria o amparo do Planalto, não teria acontecido o “Mensalão 1.0”. Mesmo depois da explosão do escândalo, havia companheiros apertando o Banco Central.

Com o veto de Dilma e com a resistência de alguns servidores do Estado, evitou-se o “Mensalão 2.0”.

Elio Gaspari, O Globo
05 de agosto de 2012

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