"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



segunda-feira, 8 de outubro de 2012

ÀS URNAS, CIDADÃOS

  
          Artigos - Governo do PT 
       
Tenha em conta de que as câmaras municipais são a estufa onde se produzem as futuras
elites políticas do país.

Não sou fã da atual configuração do STF. Após certas deliberações ali tomadas, a Constituição deveria receber atendimento em Pronto Socorro para se refazer dos maus tratos. Coisa muito feia. Na origem dessa minha zanga está a tal história de tomar os princípios constitucionais em estado bruto e passá-los no esmeril, dando-lhes formato que sirva para articular o texto com o que vai na testa do julgador.
Tal conduta é mais do que recorrente. Já vi ministro invocar o princípio da dignidade da pessoa humana até para opor-se à rinha de galos (concordo com a proibição, mas não com a aplicação desse princípio ao caso). Impossível negar, porém, que a Corte, neste momento, desfruta de amplo reconhecimento nacional.

A atividade que vem desenvolvendo é aparatosa, demorada, mas consistente. Os fatos foram objeto de perícias. Há provas documentais, circunstanciais e testemunhais. Poucos põem em dúvida as ocorrências descritas. E todos os que dizem que os crimes não existiram são pagos para tanto, ou têm a perder, com o reconhecimento deles, algo material ou imaterial, de cunho político, ideológico ou filosófico.


Seja como for, o julgamento do Mensalão põe na mesa dos debates o sistema de governo, o sistema eleitoral e a política como a praticamos no Brasil. Repetidas vezes essas pautas têm sido objeto de considerações dos ministros do STF e da mídia que cobre as sessões. Inúmeras vezes, também, do alto da minha insignificância, tenho escrito que esse modelo é ficha-suja, concentra poder político e financeiro em proporções incompatíveis com a democracia e, por isso mesmo, atua como feromônio para atrair e excitar patifes de toda ordem.
São tantas e tamanhas as regalias disponíveis no almoxarifado do poder que só fica ao seu desabrigo quem quer. O Mensalão é a monetização de outras práticas para composição de maiorias parlamentares, que se instalaram no país desde que Collor foi apeado do poder.

Hoje vamos às urnas. Do meu ponto de vista, a política brasileira alcançou um nível de degradação que só os eleitores podem retificar. O sistema e seus males jamais serão corrigidos por via judicial. Menos ainda com as mudanças dependendo de uma deliberação dos que dele se beneficiam. No entanto, o cidadão, o ser humano em sua dimensão política, pode, por ato da própria vontade, abandonar os velhos critérios de escolha e proporcionar aos partidos, em sua negligência, sucessivas lições de discernimento, escolhendo não apenas os bons, mas os melhores entre os bons.

O que escrevi só será utópico se considerarmos que o Mensalão venceu. Com efeito, assim como, em meio à indignação popular, há o Mensalão corrompendo os andares de cima, há o Mensalinho fazendo o mesmo nos andares de baixo. Todo eleitor que escolhe candidato por interesse pessoal, corporativo, comercial, não republicano, está usando a democracia e as instituições para benefício próprio. Sua atitude pouco difere daquela que despreza nos mensaleiros.

Ao votar hoje, tenha em conta de que as câmaras municipais são a estufa onde se produzem as futuras elites políticas do país. O eleitor que pretende votar no mais caricato, para "protestar"; no cara de determinada afiliação, sabe-se lá por quê; na celebridade tal ou qual, apenas porque já ouviu falar dele ou dela; e por aí afora, faça este favor à Nação: vote em branco ou nulo. Lembrem-se os demais, por fim, da frase de George J. Nathan - "Os maus políticos são eleitos pelos bons cidadãos que não votam". Portanto, às urnas, cidadãos!
Fascistas x Tatu-bola

No dia 4 deste mês, um grupo que se organizou pelas redes sociais promoveu concentração defronte à prefeitura de Porto Alegre. Como parte das manifestações, decidiram destruir, e destruíram, um boneco do Tatu-Bola, que será o símbolo da Copa. Havia alguns dias o boneco estava ali numa promoção para escolha do nome a ser dado ao bicho. Quando a Brigada Militar interveio, os manifestantes em vez de retrocederam, passaram a agredir os policiais, formando-se um conflito com feridos de parte a parte. O tatu foi a única vítima fatal.

Duvido que algum brasileiro no uso de suas faculdades mentais, informado de um fato como esse, nutrisse alguma dúvida sobre o alinhamento ideológico dos membros do bando. Ainda assim, a título de passatempo, fui dar uma espiada em alguns sites e blogs de esquerda para ver o que diziam a respeito. Não deu outra.
O único ponto de vista insistentemente sustentado foi o de que a Brigada Militar agiu com truculência e os manifestantes que arremessaram grades e paralelepípedos contra os policiais compunham um alegre e benevolente grupo pacifista. Arre!

Eu sei, nunca haveremos de nos livrar desse tipo de ação. São episódios recorrentes, patrocinados sempre pelos mesmos. Ora são membros de um sindicato (como o Cpers), ora de um movimento social (como o MST), ora de uma torcida organizada (organizada?).

O que não se pode desconhecer é o conteúdo fascista das ações que promovem. É preciso que fique bem claro: a xenofobia, o voluntarismo, o desprezo à propriedade alheia, o desrespeito à ordem pública, à democracia e às instituições, e o caldo ideológico em que se moveram os manifestantes do dia 4 em Porto Alegre, são tipicamente fascistas.

Escrito por Percival Puggina

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