Cidadão manda dizer que votará em quem preferir, mas elite dirigente política barganha cargos públicos pelo apoio a candidatos que quer impor, vício atrasado e nefasto dos coronéis de antanho

Essa maturidade do cidadão dá a nosso Estado Democrático de Direito uma força que o liberta de um dos maiores vícios das democracias frágeis: o curral eleitoral, principal símbolo do nefasto fisiologismo.
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva deixou o segundo governo com um índice espetacular de popularidade, que não deve ter mudado muito nestes 21 meses fora do poder.
Mas os mesmos institutos de pesquisa que o consagram e dão a sua sucessora, Dilma Rousseff, recordes de prestígio registram a indigência de índices dos candidatos que ambos apoiam explicitamente na campanha.
É como se o eleitor dissesse: “gosto de você, mas voto em quem eu bem entender”. Em Recife e Belo Horizonte, os índices de preferência pelos candidatos petistas desabaram em queda livre. E tudo indica que em Porto Alegre pela primeira vez um militante do partido da presidente da República e do governador do Estado sequer disputará o segundo turno.
Em São Paulo, a aposta pessoal e solitária de Lula, Fernando Haddad, é a esperança solitária de uma vitória, possível, mas pouco provável, para compensar o mau desempenho nas outras capitais. Por isso, o ex-presidente fez tanta questão da presença de sua sucessora no comício de anteontem.
Se o eleitor tem manifestado estar à altura do amadurecimento da democracia, o mesmo não se pode dizer da elite dirigente, a começar pelos governantes socialistas, de que a participação da presidente na eleição municipal paulistana é o pior exemplo. Antes, ela nomeou o malufista Osvaldo Garcia para conquistar um minuto e meio na televisão para Haddad. Depois, dobrou a resistência da senadora Marta Suplicy (PT-SP) que trocou suas mágoas de preterida pelo Ministério da Cultura.
Numa democracia, não é o caso de estranhar a presença de qualquer executivo público no palanque de seu candidato. Dilma tem o mesmo direito de fazer campanha para Haddad como Alckmin e Kassab o têm para pedir votos para José Serra.
O que ela não podia (ou melhor não devia) era utilizar cargos da administração pública federal como moeda de troca de apoio para levar um correligionário à vitória nas urnas. Este comportamento traz de volta os hábitos mais nefandos da velha política dos coronéis de antanho.
Enquanto o cidadão contribui para o avanço da democracia, os políticos ainda investem no atraso.
06 de outubro de 2012
José Nêumanne Pinto é jornalista, escritor e editorialista do Jornal da Tarde.
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