"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



sexta-feira, 7 de setembro de 2012

"PREJUÍZO REALIZADO"

 

Das 26 capitais onde há eleição municipal as pesquisas mostram o PT na dianteira folgada apenas em Goiânia e com chance maior ou menor de ir ao segundo turno em outras seis.

Apesar de todos os reclamos sobre a coincidência entre o julgamento e o período eleitoral, tal placar não pode ser atribuído a prejuízos decorrentes do exame do mensalão pelo Supremo Tribunal Federal.
Primeiro porque o partido do poder já entrou mal na disputa, antes do início das audiências. Em segundo lugar, porque as mexidas mais importantes nos últimos números não autorizam qualquer conexão entre uma coisa e outra.

Em São Paulo, o petista Fernando Haddad subiu significativamente ao ponto de se tornar competitivo a uma vaga no segundo turno e ainda aparecer como vencedor na simulação de uma disputa com o tucano José Serra.

Movimento registrado ainda sob o calor da condenação de João Paulo Cunha e da veemente recusa da tese do caixa 2 como argumento de defesa.

A outra alteração importante apontada nas pesquisas foi a deslanchada do candidato do PSB à prefeitura do Recife, que tirou da liderança o petista Humberto Costa. Deve-se exclusivamente ao empenho pessoal do governador Eduardo Campos.

Causa mais plausível do desempenho aquém do razoável para o PT nas capitais parece ser a perda gradativa do eleitorado urbano, instruído e politizado, hoje acentuadamente substituído pela clientela dos programas sociais.

Nessa mudança de perfil haveria, sim, uma conexão com o mensalão. Não por causa do julgamento, mas pelo fato de ser o registro mais visível do conjunto da obra desde que o PT decidiu trocar a defesa da ética na política pela bandeira da permissividade no trato do aparelho estatal.

07 de setembro de 2012
PUBLICADO NO ESTADÃO
DORA KRAMER

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