"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



terça-feira, 29 de janeiro de 2013

O PRÊMIO POR DENUNCIAR A TORTURA: 30 MESES DE CADEIA

 

John Kiriakou, 48 anos, é um nome importante na história moderna dos Estados Unidos. Kiriakou, que chefiou o serviço americano de contraterrorismo no Paquistão depois do 11 de Setembro, foi a primeira voz a admitir o uso do waterboarding nos interrogatórios de suspeitos.


John Kiriakou, um homem de verdade

E em consequência disso foi processado pelo governo americano. A sentença veio hoje: 30 meses de prisão. Numa mensagem no Twitter ele agradeceu a solidariedade. E pediu apoio a Bradley Manning, o soldado acusado de ter passado documentos secretos para o Wikileaks e que está sob risco de receber pena de prisão perpétua.

Kiriakou se tornou assim o único agente da CIA condenado no capítulo da tortura sob o governo Bush — sem ter jamais torturado ninguém.

Waterboarding é uma forma de tortura que simula afogamento. Quando o tema veio à tona, em 2007, houve inicialmente, nos Estados Unidos, um debate sobre se era ou não tortura.
Depois que o falecido colunista Christopher Hitchens se submeteu a uma sessão a pedido do editor da revista para a qual ele trabalhava, a discussão acabou. Hitchens suportou alguns segundos, e saiu massacrado da experiência.

O ESPIÃO RELUNTANTE

A vida de Kiriakou na CIA está relatada em seu controvertido livro de memórias, “O Espião Relutante”, lançado nos Estados Unidos em 2010.
No livro, ele conta histórias como a de um afogamento simulado, no Paquistão, de um líder do Al-Qaeda.
No dia seguinte a uma sessão de tortura aquática, o extremista disse que Alá apareceu em seu sonho e o aconselhou a colaborar com os inquisidores. (Depois se soube que foram mais de 80 sessões, e que as informações dadas eram mentirosas.)

Kiriakou se casou com uma colega da CIA, com quem tem cinco filhos. Sua mulher acabou sendo demitida depois que ele expôs o waterboarding e se tornou uma figura pública. Kiriakou deixou a CIA em 2004, depois de acumular dez prêmios por “desempenho excepcional”.
Posteriormente ele teve trabalhos diversos, como o de consultor em terrorismo para uma rede de televisão, e hoje é sócio de uma empresa que calcula o risco político para investidores.

Vai-se formando um consenso segundo o qual o presidente Barack Obama vem perseguindo, como nenhum de seus antecessores, os chamados whistleblowers – as pessoas ou entidades que fiscalizam o governo, fundamentais no funcionamento de uma democracia.

Basicamente, Obama adotou a estratégia de classificar um número excepcional de documentos como confidenciais. Caso vazem, a caça a quem os trouxe à luz é intensa.

Kiriakou é um personagem a mais neste capítulo nada inspirador da administração de Barack Obama, o homem que prometeu mudar e fez mais do mesmo.
29 de janeiro de 2013
Paulo Nogueira (Diário do Centro do Mundo)

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