"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

QUID ATHENAE HIEROSOLYMIS

Os dois principais impérios. E mesmo quando o império romano caiu sob os bárbaros e principalmente sob o cristianismo, foi Bizâncio (antiga Constantinopla) quem segurou a tocha acesa do ocidente e toda sua contribuição por mais de mil anos.

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Hoje sabemos que na aurora do Renascimento, quando os primeiros humanistas italianos começaram a ansiar pelo conhecimento da antiguidade Greco-Romana, foram os bizantinos que foram à Itália lhes ensinar a literatura e a filosofia da Grécia antiga. Isso antes que Bizâncio-Constantinopla caísse nas mãos dos Turcos Otomanos em 1453, dando fim ao chamado mundo medieval.

Meu interesse por passados já me fez dedicar horas e horas (que continuo dedicando) a fio ao estudo da História e arqueologia. Por falar nisso, e para quem gosta de pesquisar sobre o cristianismo nascente e sua amálgama com o império romano a partir do imperador Constantino, sugiro a leitura do clássico “Cristianismo e cultura clássica: um estudo das idéias e da ação, de Augusto a Agostinho”, do grande historiador canadense Charles Norris Cochrane.

O livro de Cochrane é monumental. E posso assegurar que é tão importante no desvendamento sobre a passagem de um mundo (o Império Romano) para outro (o cristianismo nascente) que o poeta W. H. Auden disse ao fazer a leitura sobre o mesmo:

“desde que saiu a primeira edição, em 1940, li este livro diversas vezes, e cada leitura só fez aumentar a minha convicção da sua importância para a compreensão não somente da época que ele aborda como, também, da nossa própria época”.

Trata-se de um estudo exaustivo (são mais de 800 páginas), muito bem documentado, analítico, interpretativo.
A queda de Roma já deu margem a não sei quantos livros sobre o acontecimento, mas o livro “Cristianismo e cultura clássica” analisa com profundidade a queda de Roma mostrando que sua queda representou a queda de um ideal que se acreditava eterno, e a ruína de todo um complexo sistema de vida fundado nos pensamentos e valores do classicismo Greco-romano.
Segundo Cochrane, os cristãos, em especial os bispos Eusébio de Cesáreia e Tertuliano, denunciaram essas noções com vigor.

Para eles, admite Cochrane, o Estado longe de ser a ferramenta da emancipação e perfeição humana, era, na melhor das hipóteses, um mal necessário, e que o principio de “entendimento superior a qualquer coisa existente no mundo clássico estava em Cristo e nos seus ensinamentos”. A ideia central era a de negação do mundo racional, material uma vez que o próprio Cristo havia rejeitado um reino terrestre.

É de Tertuliano (que Cochrane cita com profundidade e analise factual) a frase famosa ao indagar “o que Atenas tem a ver com Jerusalém, a Academia com a Igreja?”.

Com a ascensão do cristianismo tivemos inicio ao que muitos historiadores chamaram de Idade das Trevas. Como disse no inicio, foi Bizâncio (mereceria outro artigo) que segurou a tocha das conquistas do conhecimento ocidental. Vale a pena ler Cochrane e a história de Bizâncio.

07 de janeiro de 2013
Laurence Bittencourt

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