"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



sábado, 23 de fevereiro de 2013

A ANTECIPAÇÃO DO ÓBVIO


Enfim, o ex-presidente Lula cedeu ao império das circunstâncias. Exortou mais de mil petistas a reelegerem a presidente Dilma em 2014, como resposta às críticas dos tucanos. Ignora-se se horas antes havia assistido, pela TV-Senado, o discurso de Aécio Neves, batendo firme no PT. Pelo menos informado ele terá sido, ao chegar ao hotel onde se reuniam os companheiros. Como não é de deixar agressões sem resposta, revidou.

Não estava previsto para aquela hora, dia, semana e mês o seu engajamento público na candidatura da sucessora. Tanto que o presidente do partido, Rui Falcão, anunciara na véspera não estar programado qualquer lançamento, mesmo percebendo, como a torcida do Flamengo inteira, que a chefe do governo desenvolve campanha pelo segundo mandato e é a solução natural das forças hoje no poder.

Como em muitas oportunidades, o Lula surpreendeu outra vez, antecipando o óbvio. Dilma não escondeu o contentamento pela iniciativa do único obstáculo capaz de impedir sua reeleição, o próprio ex-presidente, se decidisse lançar-se. A reação do auditório foi a esperada, como acontece sempre que o primeiro-companheiro fala. Aplausos a mais não poder, os mesmos que ouviria caso tivesse anunciado sua candidatura.

Definem-se as colunas mestras do edifício sucessório. Apesar das reticências do governador Geraldo Alckmin, o candidato tucano será mesmo Aécio Neves. Seu pronunciamento no Senado demonstra haver-se decidido a entrar na toca do leão. Ou da onça, melhor dizendo. Com a réplica comandada pelo Lula, aguardam-se apenas os penduricalhos sucessórios, do tipo Marina Silva e Eduardo Campos.

O risco é de a temperatura subir antes da hora. O PSDB até que gostou por ser agraciado com a comenda de principal inimigo. O grupo do PT que insistia na candidatura do Lula vai recolher-se à espera de um inusitado. Fica no ar a indagação: e o PMDB?

A resposta pode ser que vai muito bem, obrigado, garantindo a vice-presidência para Michel Temer e já engendrando um segundo mandato de mais dois anos para Renan Calheiros e Henrique Eduardo Alves. Eles estão livres, pelos regimentos internos do Senado e da Câmara, para reeleger-se no biênio 2015-2016. Como se conclui de tudo, prevalece o velho provérbio árabe: bebe água limpa quem chega primeiro na fonte…

OS BURROS E OS ESPERTOS
Kant lecionou a vida inteira em sua cidade natal, Konisberg. Costumava dizer sobre seus alunos que uma parte não adiantava tentar melhorar: eram os burros. Também à parte dos espertos, era inútil, pois não precisavam de lições.

O inigualável filosofo anda fazendo falta no ninho dos tucanos, porque lá existem os que tentam sabotar a candidatura de Aécio Neves e os que imaginam apoiar o ex-governador mineiro como forma de voltarem ao poder…

REVISÃO IMPOSSÍVEL
Reza a doutrina que a Câmara representa o povo, e o Senado, os estados. Pode ser que tenha sido assim para os constitucionalistas do passado, mas hoje, nem pensar. Porque em maioria os deputados exercem corporativamente seus mandatos. São representantes dos donos da terra, dos sem-terra, dos operários, dos banqueiros, dos ambientalistas, dos empreiteiros, dos pentecostais, dos católicos e quantas divisões a mais?

No que diz respeito aos senadores, são poucos os que se comportam procurando equilibrar a Federação. As vantagens estão sempre beneficiando os estados do Sul e do Sudeste.

Não há hipótese de o Brasil adotar o unicameralismo, mas até que poderia ser uma boa proposta.

23 de fevereiro de 2013
Carlos Chagas

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