"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

ADEUS À CHINA?

 

 
Em 1966, os jovens da Guarda Vermelha saquearam casas e destruíram obras de arte na perseguição aos inimigos do Estado. Milhares de pessoas foram mortas ou levadas às prisões, sendo submetidas ao frio, torturas e humilhações. Nem é preciso lembrar a fome, atribulando bilhões de chineses, principalmente aquela maioria residente nas comunas rurais.



O caráter e a selvageria de Mao Tsé Tung, está descrito em “Mao – A História Desconhecida.” Um trabalho de fôlego, bem documentado, que revela face real do líder da revolução chinesa e a semelhança da onda de crueldade, desumanidade, assassinatos e desconstrução cultural, minimizados na história oficial das revoluções.



Jiang Quing, última das madames Mao, descrita por seus contemporâneos como “um cão obediente que mordia a quem o promíscuo e degenerado Mao ordenasse,” era procedente do submundo de Xangai envolveu-se numa conspiração contra o marido tirano. Foi “deletada” junto com outros comparsas. A história oficial fixa personagens maquiados, transfigurados enquanto outros são apagados da foto. E sempre omite a referência aos financiadores internacionais.



Como aconteceu em outros ambientes arrasados por revoluções comunistas, o caráter nacionalista e a dignidade do povo chinês resistiram. O respeito às tradições culturais, está descrito em biografias como - “Vida e Morte em Xangai”, de Nien Cheng e “Adeus à China” de Li Cuxim, que aos sete anos foi enviado do campo, onde a família de muitos irmãos se alimentava exclusivamente de inhame seco, para a escola de balé mantida pela Madame Mao.



Nem a extrema pobreza conhecida no interior do Brasil, se pode comparar àquela descrita pelo bailarino, que passou para a escola chinesa tudo quanto aprendeu com uma bolsa oferecida pelo Huston Ballet. A propaganda contra o “capitalismo imperialista” desmoronou diante da liberdade ocidental, revelando ao jovem bailarino chinês os contornos da crueldade do Estado Comunista, de onde desertou para o ocidente, numa segunda viagem.



Existem historiadores que justificam tudo, face à gigantesca população da China. Justificam até a matança de milhões e submissão de outros tantos à fome e ao terror desencadeado pelos agentes do Estado, seguindo antecedentes da União Soviética de Lenin e Stalin e outros dirigentes de revoluções, que parecem modelar o tipo de condução que os governantes imprimem Estados no mundo atual, acossado pela ideologia dos socialistas fabianos.



Mas é difícil imaginar as condições de uma “comuna” chinesa nos anos 2000, onde os banheiros eram buracos no chão e os dejetos recolhidos por um profissional para servir de esterco nas lavouras, quando aquele país expõe ao mundo uma vitrine capitalista, que já emprega aproximadamente 1/6 dos trabalhadores ativos em indústrias eletrônicas, de calçados e outros itens que trazem as grandes marcas de indústrias transplantadas do ocidente.



Nos anos 2000, calçados, vestuário, eletrônicos e quinquilharias “made in China” podem ser encontrados em cada loja elegante e em cada biboca do mundo. Mas os bilhões de chineses nos campos e nas fábricas continuam na situação degradante de escravos do Estado regido pelo Partido Comunista. Como no ocidente, os poderosos exibem o luxo extravagante, mantido pelo esforço obediente da maioria aterrorizada, mal educada, mal informada e conduzida em estado degradante, atemorizada pela violência.



Destas leituras é possível depreender o senso chinês de obediência à autoridade hierárquica na família e veneração dos antepassados como valores tradicionais intocados e preservados em silêncio diante da brutalidade do Estado. Valores mantidos enquanto os comuns lidam com realidades que reforçam a submissão, mas nem de perto ferem o caráter nacionalista e a soberania por excelência.



Em política, tanto quanto em questões de fé religiosa, contrários são contrários, portanto incompatíveis. No estado democrático de direito, o pressuposto é a consciência dos indivíduos, organizados em associações profissionais, culturais, esportivas, afins, esmerando-se em superar dificuldades de natureza diversa, agindo como equipe na construção do bem estar de todos.



No modelo de estado ditatorial coletivista as escolhas individuais são proibitivas. A coletividade é coagida a seguir o pensamento do partido ditador que determina o que cada pessoa deve pensar e fazer, enquanto os grandes contingentes mecanicistas, que passaram por lavagem cerebral, atuam como fanáticos à falta de opção, desinformados e sem acesso a termos comparativos.



Neste momento, entre nós, as pessoas arrancadas de suas raízes culturais, com a mente saturada pela propaganda coletivista, sentem estranheza diante da complexidade de mudanças de pensamento e comportamento, da exposição de privacidade e controle exercido pelo Estado. O medo à autoridade se sobrepõe à razão e à lógica. A responsabilidade, a ética, os limites e mesmo as leis se tornam estranhas e hostis. Os mecanismos aplicados contra chineses, russos e outros, sutilmente, afetam os brasileiros.



São tantas e de natureza tão variada as armadilhas impostas pela cultura globalitária – entretenimento, violência e insegurança, preços, impostos, promessas não cumpridas, desrespeito à Constituição, emaranhado de Leis casuais, drogas, corrupção, comprometimento dos ganhos futuros, abandono da saúde pública... – que os homens simples se sentem rendidos, aparvalhados. Resta a liberdade de espírito diante da desconstrução cultural conduzida pela “nova ordem”, como chamam agora a prática agressiva do “internacionalismo proletário” disfarçado de democracia.
 
12 de fevereiro de 2013
Arlindo Montenegro




Ref.:

“Mao, a história desconhecida” – Jon Halliday e Jug Chang, Ed. Companhia das Letras, São Paulo, 2006;
“Vida e Morte em Xangai” – Nien Cheng, Ed. Record, Rio de Janeiro, 1986;
“Adeus à China” – Li Cuxim

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