"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

FALTA DE IMAGINAÇÃO: COMPANHEIROS CONTRA TUCANOS

 

Começa amanhã mais uma etapa da sucessão presidencial. Com direito à presença da presidente Dilma e do ex-presidente Lula, o PT vai comemorar dez anos de ascensão ao poder.
Não deixa de ser estranho estarem os companheiros se auto-garfando em um mês e dezenove dias, porque o Lula assumiu no primeiro de janeiro de 2003 e não a 20 de fevereiro, mas um pouco de humildade não faz mal a ninguém.



O importante na reunião desta quarta-feira é estar programado o início de uma campanha do partido, com seguimento nos próximos meses, centrada na comparação entre o que realizaram e realizam os dois governos petistas e aquilo que coube aos tucanos fazer, nos dois mandatos de Fernando Henrique. Tomara que tudo não se limite a um confronto de números e estatísticas, muito menos de promoção emocional.

De qualquer forma, o PT e seus mentores dão a tônica do que será a campanha pela reeleição de Dilma. Escolheram previamente o adversário, mesmo sem a certeza de vir a ser Aécio Neves, José Serra ou Geraldo Alckmin.

O inimigo é o PSDB, dedução à qual não faltam a lógica e a vontade, apesar do bate-cabeça verificado no ninho. Coincidência ou não, esta semana o presidente tucano, Sérgio Guerra, anunciou a realização de uma série de caravanas de seu partido, defendendo a política e, claro, as realizações do governo Fernando Henrique.

Claro que em nenhuma das comemorações do PT haverá espaço para o mensalão, sequer para a linha até pouco sustentada, de defesa dos líderes condenados.
Tudo indica que passará em branco o trágico episódio, ainda que até ontem se duvidasse da ausência ou da presença de José Dirceu, João Paulo Cunha, José Genoíno e Delúbio Soares.
Se um deles aparecer, ou os quatro, haverá constrangimento, mesmo com claque armada e a postos.

Faz tempo que desinventaram o “palmômetro”, mas quem quiser fazer um teste de popularidade entre o Lula e Dilma poderá frustrar-se.
Corria a versão de que entrariam juntos no plenário de mais de mil companheiros, no hotel escolhido para a festa, de forma a misturarem-se os aplausos. Mesmo assim, sempre será possível medir o grau de entusiasmo da platéia sempre que o nome de um deles for mencionado.

Para efeito externo, o Lula não disputará a sucessão de 2014, mas no fundo, garantir ninguém garante. Até porque, se ele quiser, ela imediatamente sairá de cena. Não há hipótese de se enfrentarem.

NEM CONTRA NEM A FAVOR

Pegou mal o discurso de Marina Silva na sessão de criação do novo partido que não é partido, mas rede.
Como explicar sua cautela em acentuar que a nova legenda não será nem governo nem oposição? Nem da esquerda nem da direita, também? Nem de cima, nem de baixo? Certas invenções destinam-se ao fracasso e esta pode ser uma delas.
Parece óbvio que o PT não gostou, mas também já sabia da disposição da ex-senadora de candidatar-se em 2014.
Claro que vai tirar votos de Dilma ou do Lula, jamais de Aécio, Serra ou Alckmin, mas para o eleitor predisposto a apoiá-la fica difícil definir uma refeição que não é carne nem peixe. Pode ser macarrão…

NÃO HÁ IMPUNIDADE

Tancredo Neves era conhecido por suas definições e frases de efeito imediato que não resistia em formular mas, depois, levavam-no a saltar de banda.
Dele foi o comentário, em seguida a uma incursão do general Justino Alves Bastos no reino da Constituição: “vamos ver o que dizem os nossos “jurilas”.
O saudoso presidente morreu negando a autoria, apesar de óbvia.

No auge de sua disputa com Ulysses Guimarães pela candidatura presidencial, antes de derrotada a emenda Dante de Oliveira, das eleições diretas, saiu-se com outra que negou de pés juntos durante a campanha posterior: “ninguém é político paulista impunemente”. Quem sabe lá do alto de sua nuvem, Tancredo possa fazer chegar esse diagnóstico no palácio dos Bandeirantes…

19 de fevereiro de 2013
Carlos Chagas

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