"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



segunda-feira, 4 de março de 2013

A ITÁLIA, NO LABIRINTO, DIZ NÃO À POLÍTICA

 

Houve um tempo, o do Renascimento, em que os principados italianos faziam da política uma obra de arte, como constatou o historiador Jacob Burckhardt em seu livro sobre a Civilização do Renascimento na Itália.


(Escher)

Violentos uns, astutos, outros, sábios alguns mais, aos príncipes italianos não faltava inteligência na escolha de seus conselheiros militares e políticos. A esses, confiavam as táticas e estratégias, na condução do poder interno e na defesa dos interesses externos.
 
Eram homens que só se dedicavam a mandar e, mandando, conservar o poder. Um dos segredos da sobrevivência de tais estados era a autonomia de cada um deles, assegurada com a astúcia e com a força, posto que viviam em estado permanente de guerra.
 
A Itália viveu dias gloriosos na unificação da Península, há um século e meio, na repetição da aliança entre guerreiros e pensadores políticos (Garibaldi com a espada, Cavour e Mazzini com as letras). As vicissitudes históricas posteriores, entre elas uma monarquia tão ambiciosa quanto débil, levaram o estado unitário a capengar, desde o surgimento do fascismo, com Mussolini, até os nossos dias.
 
SANGUE, SUOR E LÁGRIMAS
 
Garibaldi, ao partir de Roma para a campanha do Norte, disse aos membros do parlamento provisório, que nada podia prometer, senão “muito trabalho, sangue, suor e lágrimas”. A frase foi plagiada mais tarde por Theodore Roosevelt e passou a história como sendo de Churchill, que a repetiu em seu mais famoso discurso.
 
Croce, ao resumir o fascismo italiano, disse que Mussolini fora um palhaço que o Rei Vittorio Emmanuele III levara a sério. Ele, o mais lúcido pensador italiano daquele tempo, foi convidado pelos norte-americanos a chefiar um governo de transição, e sabiamente recusou, conforme seu diário político, datado de 25 de fevereiro de 1944.
Talvez , como Ortega y Gasset, pensasse que o mal dos tempos modernos está em que os que pensam, ou acham que pensam – como Mário Monti – querem mandar, e os que mandam, querem pensar.
 
Os partidos de centro-esquerda, com Bersani, nem a coligação de direita de Berlusconi, conseguiram maioria, necessária ao sistema parlamentaristam para governar. Um cômico de televisão, Beppe Grillo, com linguagem populista, tirou do centro-esquerda os votos que lhe dariam a maioria. Espera-se que ele os devolva, aceitando uma aliança com Bersani.
 
UM “NÃO” ROTUNDO
 
Mussolini se apoiara na Alemanha de Hitler; o atual presidente da Itália, Giorgio Napolitano, comunista “pentito”, vai “consultar” Ângela Merkel, a fim de buscar uma solução para a crise.
 
De qualquer forma, à esquerda e à direita, o povo italiano disse um não rotundo à política – exigida pelos banqueiros – de arrocho contra os trabalhadores, com o apoio da ditadora econômica do continente, a germaníssima Merkel.
Seu candidato explícito, Mário Monti, funcionário do Goldman Sachs, obteve escassos 10% dos votos.

04 de março de 2013
Mauro Santayana

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