"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



quinta-feira, 21 de março de 2013

"A SEGURANÇA DE ISRAEL É INEGOCIÁVEL", AFIRMA OBAMA

Peres: Israel confia na política dos EUA para deter o Irã. Presidente americano reafirma compromisso com a segurança dos israelenses
 

Obama em coletiva de imprensa ao lado do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu
Foto: MANDEL NGAN / AFP
Obama em coletiva de imprensa ao lado do primeiro-ministro israelense, Benjamin NetanyahuMANDEL NGAN / AFP

JERUSALÉM - Tentando manter um clima amigável, em sua primeira visita como presidente a Israel, Barack Obama afirmou que a segurança do país do Oriente Médio é “inegociável”. Segundo o líder americano, os Estados Unidos nunca proporcionaram tanta ajuda militar e de defesa a Israel e a aliança entre as nações nunca foi tão forte como agora. Em relação ao conflito entre israelenses e palestinos, Obama afirmou que tem como prioridade deste segundo mandato selar um acordo de paz na região e que o elemento central para uma paz duradoura deve ser um “seguro e forte Estado judaico, ao lado de um Estado forte palestino”.
- Meu compromisso durante meu primeiro mandato não foi conseguir um grande acordo de paz, mas agora é a prioridade - afirmou o presidente, em coletiva de imprensa com o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu. - Não vim ao Oriente Médio fazer grandes anúncios sobre o processo de paz, mas escutar e ver como os EUA podem desenvolver um papel ativo para garantir a paz e a segurança na região. Terei mais a dizer sobre o processo de paz na quinta-feira.

Na quinta, Obama se reunirá com o presidente da Autoridade Nacional Palestina, Mahmoud Abbas. O governante americano destacou ainda a importância de que os palestinos se sintam responsáveis pelo futuro da região. Durante o encontro, o premier israelense - chamado o tempo todo de “Bibi” por Obama - agradeceu o apoio dos EUA e lembrou que é a primeira vez que o presidente pisa em solo israelense desde que assumiu a cargo em 2008. Chamado pelo apelido, Netanyahu também se referiu ao americano pelo primeiro nome, Barack.

- Os EUA observaram avanços em relação à autonomia e independência econômica nos territórios palestinos. Insisto que é necessário que os palestinos vejam que são donos de seu próprio destino - disse.

O momento mais tenso da entrevista, no entanto, foi quando ambos foram questionados sobre o programa nuclear do Irã. O premier de Israel falou em “direito de autodefesa”, e afirmou que seu país não pretende fazer concessões, nem mesmo “ao melhor amigo”.

- A diplomacia e as sanções internacionais não detiveram os esforços do Irã de ter armas nucleares - disse Netanyahu. - Estou convencido de que Obama está determinado a evitar que o Irã consiga fabricar uma bomba nuclear. E Israel tem o direito de se defender de maneira individual.

Obama reiterou a necessidade de enfrentar a ameaça nuclear do Irã por via diplomática. Mas defendeu o posicionamento israelense.

- Cada nação tem o direito de tomar suas próprias decisões. Quero que em Israel não exista mal entendidos sobre a nossa política em relação ao Irã. Consideramos a segurança de Israel de extrema importância para nós - respondeu o presidente americano.

Sobre a guerra civil na Síria, Obama voltou a dizer que o presidente Bashar al-Assad perdeu a legitimidade para dirigir o país e chamou a atenção para a necessidade de evitar que o arsenal de armas químicas acabe nas mãos de grupos extremistas.

- Defendo a política americana na Síria e relembro a ajuda humanitária e o apoio econômico para a transição no país. Vamos fazer o que for possível para evitar o aumento do conflito - disse.

Irã também foi citado com Shimon Peres

A troca de elogios entre o democrata e líderes israelenses deixa clara uma tentativa de reaproximação mútua. Mais cedo, em pronunciamento ao lado de Obama, em Jerusalém, o presidente Shimon Peres se derramou em gentilezas com o americano, que por sua vez afirmou que Israel não tem amigo maior do que os EUA, numa “aliança eterna”. Os dois evitaram tocar em temas polêmicos, apesar de a questão do programa nuclear iraniano ter sido citada por Peres, que no entanto adotou uma posição mais branda do que Netanyahu.

- Nos dias de hoje o maior perigo é o programa nuclear do Irã - disse o presidente israelense. - Nós acreditamos em sua política (dos EUA) de tentar primeiro por meios não militares, com a clara mensagem de que outras opções continuam à mesa. O senhor tem deixado claro que sua intenção é conter e não prevenir.

Na declaração, Peres também acusou o Hezbollah de estar destruindo o Líbano e levando mais violência para a Síria, apoiando rumores de que o grupo islâmico esteja financiando e dando apoio ao governo de Bashar al-Assad na guerra civil do país. Após o pronunciamento do israelense, foi a vez de Obama falar. Ele defendeu que crianças do país aliado merecem viver em paz e livres de foguetes, numa referência aos ataques que partem da Faixa de Gaza.

- Os sonhos dessas crianças são iguais aos de quaisquer outras pelo mundo. Em outro sentido, suas vidas refletem as dificuldades que os israelenses enfrentam todos os dias. Elas querem estar salvas, elas querem estar livres dos foguetes que atingem suas casas e suas escolas - disse. - Elas querem viver livres do terror e das ameaças que tantas vezes são direcionadas à população israelense. Esse é futuro que elas merecem. E esse ponto de vista é compartilhado por ambas as nações.

Em relação à questão palestina, o presidente americano foi breve e disse que admirava a forma "prática" com a qual Peres lidava com a situação. Já o líder israelense acrescentou que defende uma solução formada por dois Estados, apesar de não tocar no assunto das fronteiras.

- Desejamos a paz com os palestinos e essa paz vem de uma solução de dois Estados. Não há solução melhor - afirmou.

Aliança eterna

Obama chegou pela manhã a Tel Aviv, onde foi recebido por Peres e pelo primeiro-ministro Benjamin Netanyahu. Logo no desembarque, Obama cumprimentou os presentes em hebraico dizendo “é bom estar em Israel de novo” e afirmou que a aliança entre os dois países é eterna.

- Os Estados Unidos apoiam Israel porque isso está em nossos interesses fundamentais de segurança. Nossa aliança é eterna. É para sempre - reforçou Obama. - Em um incerto Oriente Médio, a necessidade de nossa aliança é maior que nunca. É a chave para afastar os perigos e avançar com a paz. É a chave para alcançar um lugar seguro e estável que as pessoas de Israel e seus vizinhos anseiam do fundo de seus corações.

Obama se encontra ainda hoje com o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu. Horas antes, o premier recebeu o americano no aeroporto de Aeroporto Ben-Gurion, com direito a honras de tiros de uma bateria do Domo de Ferro. Em seu discurso de chegada, o presidente dos EUA afirmou que há uma “aliança eterna” entre os dois países, num momento de fortes incertezas na região.

Mas, segundo especialistas, a visita deve render poucos frutos. Apesar dos encontros marcados com os dois lados, a própria Casa Branca esclareceu que Obama não leva uma proposta para destravar o impasse no processo de paz entre israelenses e palestinos. Obama enfrenta ainda protestos dos palestinos, desencantados com a falta de avanços no processo de paz.

O presidente americano fica no país até sexta-feira, seguindo depois para a Jordânia.

21 de março de 2013
O Globo com agências internacionais

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