Um painel político do momento histórico em que vivem o país e o mundo. Pretende ser um observatório dos principais acontecimentos que dominam o cenário político nacional e internacional, e um canal de denúncias da corrupção e da violência, que afrontam a cidadania.
Este não é um blog partidário, visto que partidos não representam idéias, mas interesses de grupos, e servem apenas para encobrir o oportunismo político de bandidos.
Não obstante, seguimos o caminho da direita. Semitam rectam.
"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)
"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...) A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville (1805-1859)
domingo, 30 de junho de 2013
"O POVO NÃO VAI SE CANSAR DE PROTESTAR!"
Sociólogo afirma que ausência de
líderes é uma das qualidades dos protestos no Brasil e diz que país vai
influenciar países vizinhos
Na
rua está “a sociedade em sua diversidade”, diz Castells Luiz
Munhoz/FatoPress/Folhapress/10-6-2013
Para o sociólogo catalão Manuel Castells, boa parte dos
políticos é de “burocratas preguiçosos”. Ele é um dos pensadores mais influentes
do mundo, com suas análises sobre os efeitos da tecnologia na economia, na
cultura e, principalmente, no ativismo. Conhecido por sua língua afiada, o
espanhol falou ao GLOBO por e-mail sobre os
protestos.
Os protestos no Brasil não tinham líderes. Isso
é uma qualidade ou um defeito?
Claro que é uma qualidade. Não há cabeças para serem
cortadas. Assim, as redes se espalham e alcançam novos espaços na internet e nas
ruas. Não se trata, apenas, de redes na internet, mas redes
presenciais.
Como conseguir interlocução com as instituições
sem líderes?
Eles apresentam suas demandas no espaço público, e cabe
às instituições estabelecer o diálogo. Uma comissão pode até ser eleita para
encontrar o presidente, mas não líderes.
Como explicar os
protestos?
É
um movimento contra a corrupção e a arrogância dos políticos, em defesa da
dignidade e dos direitos humanos — aí incluído o transporte. Os movimentos
recentes colocam a dignidade e a democracia como meta, mais do que o combate à
pobreza. É um protesto democrático e moral, como a maioria dos outros
recentes.
Por que o senhor disse que os protestos
brasileiros são um “ponto de inflexão”?
É
a primeira vez que os brasileiros se manifestam fora dos canais tradicionais,
como partidos e sindicatos. As pessoas cobram soberania política. É um movimento
contra o monopólio do poder por parte de partidos altamente burocratizados. É,
ainda, uma manifestação contra o crescimento econômico que não cuida da
qualidade de vida nas cidades. No caso, o tema foi o transporte. Eles são contra
a ideia do crescimento pelo crescimento, o mantra do neodesenvolvimentismo da
América Latina, seja de direita, seja de esquerda. Como o Brasil costuma criar
tendências, estamos em um ponto de inflexão não só para ele e o continente. A
ideologia do crescimento, como solução para os problemas sociais, foi
desmistificada.
O que costuma mover esses
protestos?
O
ultraje, causado pela desatenção dos políticos e burocratas do governo pelos
problemas e desejos de seus cidadãos, que os elegem e pagam seus salários. O
principal é que milhares de cidadãos se sentem fortalecidos
agora.
O senhor acha que eles podem ter sucesso sem
uma pauta bem definida de pedidos?
Acho inacreditável. Além de passarem por uma série de
problemas urbanos, ainda se exige que eles façam o trabalho de profissional que
deveria ser dos burocratas preguiçosos responsáveis pela bagunça nos serviços.
Os cidadãos só apontam os problemas. Resolvê-los é trabalho para os políticos e
técnicos pagos por eles para fazê-lo.
Com organização horizontal, esse movimento pode
durar?
Vai durar para sempre na internet e na mente da
população. E continuará nas ruas até que exigências sejam satisfeitas, enquanto
os políticos tentarem ignorar o movimento, na esperança que o povo se canse. Ele
não vai se cansar. No máximo, vai mudar a forma de
protestar.
Outra característica dos protestos eram
bandeiras à esquerda e à direita do espectro político. Como isso é
possível?
O
espaço público reúne a sociedade em sua diversidade. A direita, a esquerda, os
malucos, os sonhadores, os realistas, os ativistas, os piadistas, os revoltados
— todo mundo. Anormal seriam legiões em ordem, organizadas por uma única
bandeira e lideradas por burocratas partidários. É o caos criativo, não a ordem
preestabelecida.
Há uma crise da democracia
representativa?
Claro que há. A maior parte dos cidadãos do mundo não
se sente representada por seu governo e parlamento. Partidos são universalmente
desprezados pela maioria das pessoas. A culpa é dos políticos. Eles acreditam
que seus cargos lhes pertencem, esquecendo que são pagos pelo povo. Boa parte,
ainda que não a maioria, é corrupta, e as campanhas costumam ser financiadas
ilegalmente no mundo inteiro. Democracia não é só votar de quatro em quatro anos
nas bases de uma lei eleitoral trapaceira. As eleições viraram um mercado
político, e o espaço público só é usado para debate nelas. O desejo de
participação não é bem-vindo, e as redes sociais são vistas com desconfiança
pelo establishment político.
O senhor vê algo em comum entre os protestos no
Brasil e na Turquia?
Sim, a deterioração da qualidade de vida urbana sob o
crescimento econômico irrestrito, que não dá atenção à vida dos cidadãos.
Especuladores imobiliários e burocratas, normalmente corruptos, são os inimigos
nos dois casos.
Protestos convocados pela internet nunca tinham
reunido tantas pessoas no Brasil. Qual a diferença entre a convocação que
funciona e a que não tem sucesso?
O
meio não é a mensagem. Tudo depende do impacto que uma mensagem tem na
consciência de muitas pessoas. As mídias sociais só permitem a distribuição
viral de qualquer mensagem e o acompanhamento da ação
coletiva.
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