"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



domingo, 23 de junho de 2013

O QUE PODE DERROTAR O GOVERNO NAS ELEIÇÕES: A POLITIZAÇÃO DA ECONOMIA


A antecipação do debate sucessório causou um fenômeno indesejável para as expectativas no Brasil: a politização da economia e a contaminação das questões econômicas no debate eleitoral.
 
O fenômeno decorre do fato de que não existe debate ideológico claro no Brasil, já que os dois grandes polos partidários do país – PT e PSDB – adotam visões de mundo parecidas, com origens no socialismo democrático e na social-democracia.

Sendo assim, a disputa se dá nos campos onde possam existir diferenças: na economia e na conduta moral.
O mensalão foi exaustivamente explorado, com pouca repercussão eleitoral. Já com a economia, é diferente. A rigor, a economia é, por si só, o único fator previsível que pode derrotar o governo. Simples assim: se a economia for mal, o governo pode perder a eleição.

Que cenários se apresentam a partir dessa constatação? O primeiro se refere ao empenho do governo de fazer a economia funcionar e evitar que a inflação ameace ainda mais a popularidade da presidente Dilma Rousseff.

O segundo aspecto é que – funcionando a economia ou não – o populismo do governo deve aumentar, visando a consolidar a base de apoio eleitoral nas classes mais populares.

O terceiro aspecto, improvável, trata da possibilidade de Lula vir a ser o candidato presidencial, visando a ampliar as chances de o lulismo ganhar as eleições em 2014.
O que alimenta esse imaginário é o fato de haver muitos setores insatisfeitos com o governo, em geral, e com a presidente, em particular.

MANIFESTAÇÕES

Esses descontentamentos atingem, além da classe política, os empresários, o mercado e os movimentos sociais. Criticam a tendência centralizadora da presidente, bem como sua pouca disposição de dialogar e de fazer concessões.

As três hipóteses se conectam. Se a economia não funciona ou entra em parafuso, o populismo pode aumentar. Se a situação fica mais grave ainda, Lula pode ser o candidato. Antes, porém, de avaliar a viabilidade desses cenários, devemos ver o que o governo vai fazer para controlar a inflação e manter algum crescimento econômico neste ano.

Persiste a sensação de que o Executivo está sem um roteiro claro. Enquanto o BC sinaliza que vai usar a taxa de juros para evitar que a inflação suba, os sinais das demais autoridades econômicas não são tão claros.

Aparentemente, o Planalto confia nos investimentos em infraestrutura para aquecer a economia. No entanto, o meio empresarial perdeu a confiança no governo e na sua capacidade de administrar expectativas.

Ainda existe tempo para o governo se recuperar. Basta se organizar e construir uma agenda positiva, com iniciativas que atendam as aspirações dos vários públicos.

Devem existir mensagens para o mercado financeiro que consolidem o compromisso de controlar a inflação e de manter a austeridade fiscal. Devem existir mensagens e iniciativas para as classes populares no sentido de que os ganhos de renda e emprego possam ser preservados.

Considerando que o governo se mostra instável em termos de competência política e gerencial, os desafios que se apresentam vão demandar mais qualidade na ação governamental.

Para tal, a substituição de alguns ministros deveria ser seriamente considerada, tanto na área econômica quanto na equipe palaciana.

Apesar dos percalços, o governo continua favorito para a eleição presidencial. Principalmente pelo fato de ainda ter condições de controlar as agendas, as iniciativas e os recursos que podem consolidar esse favoritismo.

(transcrito de O Tempo)

23 de junho de 2013
Murillo de Aragão

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