"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



sábado, 1 de junho de 2013

PMDB AMEAÇA DAR APOIO A CAMPOS NOS ESTADOS ONDE A ALIANÇA COM O PT PATINA

Em pelo menos seis Estados nos quais parceria entre os partidos azedou, dirigentes peemedebistas não descartam apoio regional ao governador de Pernambuco caso ele decida disputar a Presidência



O estremecimento da relação entre PT e PMDB no Congresso reflete e contamina a formação de palanques estaduais que darão sustentação ao projeto de reeleição da presidente Dilma Rousseff. Apesar da entrada do vice-presidente Michel Temer (PMDB) e da própria petista na costura de alianças regionais para 2014, peemedebistas resistem a se aliar ao PT em Estados estratégicos e ameaçam se coligar com o PSB, do governador de Pernambuco Eduardo Campos, provável candidato à Presidência.

Em Estados onde a situação azedou, o PMDB já usa a aproximação com Campos como uma forma de emparedar o PT. O discurso em favor do pernambucano passou a funcionar como ferramenta de pressão contra os petistas, com um único objetivo: obter condições mais favoráveis de negociação nos Estados.

O principal foco de insatisfação com o PT começou no Congresso. Ficou evidente durante a aprovação da MP dos Portos na Câmara e, depois, na apresentação do pedido de abertura da CPI da Petrobrás. Deputados reclamam da articulação política da presidente e defendem, nos bastidores, a candidatura de Campos. "Ele será o novo presidente da República. Há um grande desgaste com o PT", declarou um parlamentar do PMDB.

Na eleição presidencial de 2010, o PMDB também ameaçou se rebelar. A diferença é que, agora, há uma alternativa ao PT dentro do campo governista, com Campos, o que garante aos peemedebistas uma tentativa de amenizar a cisão: o apoio não é para o PSDB, da oposição, mas para um partido aliado à própria Dilma.

A presidente, que não costuma entrar diretamente na costura política, começou a agir para apaziguar a aliança. Viajou a Estados em que a relação não estava boa, participou de jantares com bancadas estaduais e até interpretou o Canto Alegretense, num ato de simpatia com os peemedebistas conflagrados do Rio Grande do Sul.

O discurso peemedebista pró-Campos está mais vitaminado em Estados como Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Mato Grosso do Sul, Pernambuco, Rondônia e Bahia.

No Rio Grande do Sul, a aliança é inviável. A tendência é que o partido lance candidato próprio, com José Ivo Sartori, ex-prefeito de Caxias do Sul, ou o ex-governador Germano Rigotto. O PT tentará reeleger o governador Tarso Genro. Com um antagonismo profundo não está descartado o PMDB se aliar ao PSB ou até ao PSDB.

"O cenário hoje é menos pior para a Dilma do que na eleição passada", pondera o deputado Darcísio Perondi (PMDB-RS). Em 2010, o PMDB no Estado apoiou o tucano José Serra.

Em Mato Grosso do Sul, o PMDB reclama do fortalecimento político do senador Delcídio Amaral (PT), cotado para disputar o governo. Dilma foi até a capital, entregou de 300 ônibus ao lado do governador André Puccinelli, mas o PMDB não descarta dar palanque a Campos. "A tendência é apoiar Dilma, desde que possamos lançar candidato. Quem pode estragar isso é o PT", afirmou o senador Waldemir Moka (PMDB-MS).

Na Bahia, os irmãos Geddel e Lúcio Vieira Lima lideram um movimento que deve unir o PMDB do Estado aos principais partidos de oposição (PSDB, DEM e PPS) para lançar uma candidatura de oposição ao PT, do governador Jaques Wagner. Os peemedebistas resistem em apoiar a reeleição da presidente e ameaçam criar uma plataforma para Campos ou até Aécio.

"Já aceitamos abrir um palanque duplo para Dilma em 2010, quando Geddel disputou com Jaques Wagner, mas o PT não cumpriu o acordo. No meio da campanha, quando Geddel estava crescendo, a presidente foi pressionada e disse que só tinha um candidato: Jaques Wagner", explica Lúcio Vieira Lima.

No Ceará, o PT está dividido quanto ao apoio ao PMDB. Há uma tentativa de trazer o PSB, do governador Cid Gomes, para a aliança, o que será difícil se Campos for candidato. "Cid e eu somos aliados leais e temos um acordo de conversar até o último momento para escolher o nome que vai encabeçar a chapa", declarou o senador Eunício Oliveira (PMDB), que quer disputar o governo.
Em Pernambuco, o senador Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE)) ensaia uma aproximação com Campos contra o PT.

No Piauí, o PMDB pode ficar dividido entre Dilma e Campos. Lá se desenha um confronto entre José Filho (PMDB), com o apoio do PSB, e Wellington Dias (PT). Os peemedebistas juram apoio à presidente, mas admitem reservadamente que farão uma campanha "menos empolgada" para sua reeleição se tiverem um petista como adversário no Estado.

01 de junho de 2013
Bruno Boghossian e Julia Duailibi

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