"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



quarta-feira, 3 de julho de 2013

LADROEIRA, VÁ LÁ, MAS SEM DEBOCHE



"Quando o ministro da Fazenda diz que as contas batem graças a uma tal "contabilidade criativa", está debochando" (Foto: Elza Fiúza/ABr)
"Quando o ministro da Fazenda diz que as contas batem graças a uma tal 'contabilidade criativa', está debochando" (Foto: Elza Fiúza/ABr)
 
 
Quatro notas da coluna de Brickmann publicada hoje por diversos jornais
 
O roubo faz parte do poder; um inglês famoso, lorde Acton, dizia já em 1887 que todo poder corrompe. Rouba-se no Brasil desde quando o Brasil era colônia (D. João VI, ao voltar para Portugal, esvaziou os cofres do país); roubou-se no mundo comunista (Erich Honecker, o último líder da Alemanha Oriental, acumulou alguns bilhões de dólares), rouba-se no mundo capitalista (Helmut Kohl, que liderou a reunificação alemã, caiu por receber dólares, digamos, não contabilizados).
 
Rouba-se em ditaduras e democracias. Faz parte.
 
O que não faz parte, e que responde pelas grandes manifestações, é o deboche.
 
Nunca por aqui alguém brigou pela corrupção dos outros. Mas quando um senador que teve de renunciar para não ser cassado vira presidente do Senado, quando ministros afastados por “malfeitos” voltam a circular no Governo, quando deputados condenados à prisão por corrupção não apenas continuam exercendo o mandato como vão para a Comissão de Constituição e Justiça, quando o Poder torna sigilosos os gastos do cartão corporativo de uma servidora que se dizia grande amiga do então presidente, aí é demais.
 
É juntar o roubo ao escárnio.
 
É dizer “vou tomar seu dinheiro e contar pra todo mundo que você é otário”.
 
Mentir faz parte do deboche.
 
Quando o ministro da Fazenda diz que as contas batem graças a uma tal “contabilidade criativa”, está debochando. Na ditadura, acochambravam-se os índices (era a expressão da época), mas negava-se a bandalheira.
 
Hoje a bandalheira é afirmada, enfiada na cara do cidadão.
 
É abuso.
 
Depois da queda
 
Nem o Palácio do Planalto deve se assustar, nem a oposição se embandeirar, com a queda do índice de popularidade do governo Dilma. As manifestações derrubaram os índices dos governantes em geral (e era inevitável que assim fosse).
 
Mas a queda pode ser passageira, dependendo de como se fizer o manejo da crise.
 
O importante não é a queda causada pelas manifestações: como num terremoto, o importante é o que ocorre nas camadas subterrâneas.
 
Mostra a pesquisa DataFolha: a expectativa de aumento da inflação passou de 51 para 54%; a avaliação positiva do comando da economia caiu de 49 para 27%; a expectativa de crescimento do desemprego passou de 36 para 44%.
 
Este é o nó a desatar.

03 de julho de 2013
Carlos Brickmann
Blog Ricardo Setti - Veja 

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