"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



quarta-feira, 3 de julho de 2013

OS DESCENDENTES DE LUCIUS ANTONIUS RUFUS APPIUS ESTÃO NO PODER?

 

 
Houve em Roma um pretor que dava sentenças favoráveis a quem melhor pagava. Chamava-se ele Lucius Antonius Rufus Appius. Sua rubrica era L.A.R. Appius. Daí chamar-lhe o povo ‘larappius’, nome que ficou sinônimo de gatuno.
Quem conta essa historinha é um certo Arthur Rezende, autor de um velho livro chamado “Frases e curiosidades latinas”. A tese de que a palavra larápio – sinônimo de ladrão, gatuno, ladravaz, ratazana – derivou das iniciais daquele Lucius Antonius, magistrado venal, é uma das mais saborosas e mais desacreditadas lendas etimológicas que circulam em português.

Um filólogo brasileiro respeitável, Antenor Nascentes, cometeu a temeridade de registrá-la em seu dicionário. Mesmo não comprando sem reservas a versão de Rezende e resguardando seu prestígio com a tradicional fórmula italiana de ceticismo (se non è vero…), Nascentes fez muito pela disseminação do que tudo indica ser uma mentira deslavada.

Mas será mesmo? Bem, o envolvimento de Nascentes com a lenda de L.A.R. Appius lhe valeu críticas de colegas como o português José Pedro Machado e o brasileiro Silveira Bueno, que não tinham dúvida sobre a inconsistência da tese.
Como explicar que a palavra tivesse ganhado seu primeiro registro em português apenas em 1812 – e que, em todos os séculos interpostos entre a vida do tal magistrado e o momento do fiat lux vocabular, o nome de Appius não aparecesse em um único documento histórico?

A parte chata é que, fora a imaginosa tese do pretor corrupto, que não fica em pé, não há mais nenhuma. A origem da palavra larápio é um mistério.

03 de julho de 2013
 

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