"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



segunda-feira, 1 de julho de 2013

REUNIÃO MINISTERIAL TEM PESO DE AUTODENÚNCIA

 

Dilma Rousseff reúne o seu ministério. Pense só nisso. Esqueça o resto. Com o asfalto em transe, a presidenta-em-chefe convoca o seu Estado maior. Trinta e nove ministros. A fotografia correrá o noticiário como uma autodenúncia. É como se Dilma, depois de planejar cuidadosamente os seus erros, desejasse expor os vícios do sistema político brasileiro, viciando-se.
O ministério de Dilma já era inacreditável. Tornou-se inaceitável. Antes de a rua ferver, o primeiro escalão de Brasília era um escândalo. Virou um escárnio. Num Brasil em franca mutação, em que inimigos viram aliados em pleno voo, e a esperteza de ontem é a burrice de hoje, certos personagens parecem caricaturas de si mesmos. Por exemplo: Guilherme Afif Domingos.
Afif entrou na história mais ou menos tarde. Compunha o fundo contra o qual se cumpria o destino glorioso do PSD de Gilberto Kassab –uma legenda de desertores do DEM que trocava o seu tempo de propaganda na tevê pela perspectiva de retribuição mais generosa no segundo mandato. Afif, Kassab e Cia. imaginaram-se a bordo de uma Ferrari modelo 2014. Súbito, foram informados pelas ruas de que estão no banco de trás de um Fusca desgovernado.
Outro exemplo: Aloizio Mercadante. De ministro da Educação, converteu-se em ministro três-em-um. Com o aval da chefa, dedica-se à tarefa de invadir os minifúndios de Ideli Salvatti (Relações Institucionais) e Gleisi Hoffmann (Casa Civil), desmoralizando-as. Num instante em que o meio-fio pede escolas “padrão-Fifa”, o titular da Educação atua como animador de Constituintes natimortas e plebiscitos semivivos.
Visto assim, por partes —à maneira do estripador Jack—, o ministério de Dilma ganha a aparência de uma comédia de costumes. E uma chefa de governo que sabe o que é certo e opta por transformar sua administração numa piada merece o respeito da nação. Noutros tempos, as crises eram provocadas por opositores. Hoje, Dilma é quem ajuda a fazer a crise. A aliança da presidenta com o arcaico conduz ao progresso. Errando, Dilma ajuda o país a se rever. A fotografia do ministério reunido apressa o processo.
01 de julho de 2013
Josias de Souza

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