"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



domingo, 11 de agosto de 2013

ALTA COSTURA NUM PRESÍDIO DE SEGURANÇA MÁXIMA




“Um elegante, loira da alta sociedade cheirando a perfume francês, dentro de uma prisão de segurança máxima ensinando presos a confeccionar malha, pode parecer cena de um filme. Mas foi isso encontrei em Juiz de Fora, no estado de Minas Gerais, comenta o fotografo, Paulo Whitaker, da Reuters, que fez um ensaio fotográfico da história. A experiência repercutiu na imprensa internacional
 
Foto: Paulo Whitaker/Reuters
Raquel Guimarães conversa com um dos seus “operários”, atrás das grades
   
A empresária e estilista mineira Raquel Guimarães, 32 anos, fundou há poucos anos, a grife de moda Doisélles especializada em peças de croché e tricô. O sucesso quase inesperado da marca gerou um agradável problema: as encomendas eram superiores a capacidade de produção.
 
Foto: Paulo Whitaker/Reuters

Vista aérea do presidio Professor Arisvaldo de Campos Pires, momento em que os presos tomam banho de sol, em Juiz de Fora, MG
 
A confecção de cada peça, feita artesanalmente, requer mão de obra especializada, disposta a trabalhar pacientemente com afinco, apuro e atenção. Um trabalho monótono e repetitivo que requer muita concentração.
 
Foto: Paulo Whitaker/Reuters

Hoje, 18 presos trabalham para produzir as roupas de malha da grife
 
Em busca de mais mão de obra, a empresária acabou buscando a ajuda no complexo Penitenciário Professor Ariosvaldo de Campos Pires, em Juiz de Fora (MG). Tinha na cabeça a disposição de treinar e tornar “tricoteiras” mulheres que cumpriam penas naquela unidade prisional, de segurança máxima.
 
Foto: Paulo Whitaker/Reuters

Produtos da grife Doisélles, confeccionados pelos presos, num dos pontos de venda
 
Não encontrou, porém, boa receptividade das internas e foi convencida pelo diretor Andrea Andires, que talvez obtivesse mais sucesso com os presos do sexo masculino. A ideia que a princípio parecia bizarra, imagina transformar em "tricoetiros" presos recolhidos numa prisão de segurança máxima, condenados por crimes como assaltos à mão armada, tráfico de drogas e assassinatos.
 
Foto: Paulo Whitaker/Reuters

A rotina de Raquel Guimarães: visitar quase diariamente o presídio, para ela, setor de produção de sua marca
 
A realidade trouxe uma surpresa agradável para a empresária, foi justamente entre esses homens, que ela encontrou suas “tricoteiras” perfeitas, homens rudes transformados em operários dedicados, com muito tempo disponível, alguns com mais de 20 anos para gastar, e disposição para executar com perfeição o trabalho que a empresa precisava.
 
Foto: Paulo Whitaker/Reuters

Preso tricotando uma das peças encomendada, alta produtividade e esmero
O projeto traz beneficio de mão dupla, se para a empresa é excelente ter funcionários tão dedicados e eficientes que garante a qualidade dos seus produtos, para os presos essa é uma possibilidade de adquirir uma habilidade que pode ser muito útil, quando for posto em liberdade, facilitando sua reintegração social, a chance de ganhar um bom dinheiro, mesmo estando preso, capaz de ajudar inclusive suas famílias, além de obter benefícios concedidos pela Lei de Execução Penal.
 
Foto: Paulo Whitaker/Reuters

Raquel Guimarães faz controle de qualidade nas peças produzidas, acompanhada de um dos artesões
 
Até hoje, Raquel já treinou 40 presidiários, todos homens, e atualmente 18 presos trabalham para produzir roupas de malha artesanal. E com essa atividade, além de receber uma renda extra, reduzem suas penas em um dia para cada três dias de trabalhados.
 
Foto: Paulo Whitaker/Reuters

Mais uma surpresa para Raquel, entre os artesões prisioneiros, há vocações além do artesanato, que podem frutificar
 
O fotografo da Reuters, Paulo Whitaker, passou dois dias no presídio, registrando a atividade dos presos da alta costura. Conta no Blog da Reuters, Photographer Blog , a experiência. A bonita reportagem fotográfica, foi publicada na edição de domingo do jornal inglês The Guardian .
 
Foto: Paulo Whitaker/Reuters

Depois do expediente, os operários apenados voltam para as suas celas. Fora do espaço destinado ao trabalho eles são tratados como presos comuns.


Raquel Guimarães reunida carinhosamente com os seus operários, na sala do presídio onde funciona a linha de produção da sua empresa.


11 de agosto de 2013

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